Desci do ônibus em frente à escola. Eu sentia que já estava suando de novo mesmo estando nublado e meio escuro ainda. O ar estava mais frio, mais cortante que o normal e quando acordei as coisas simplesmente pareciam cinza. Tudo era cinza e sem graça, até mesmo eu.
Estava sem convicção para escrever, ou para ler, ou para qualquer outra coisa. Vi um casal andando na rua de mãos dadas, eles estavam de casacos e sorriam um para o outro. Senti raiva deles.
A sala de aula estava vazia quando cheguei, o que foi bom porque eu precisava mesmo de um tempo sozinho. Meu celular estava no bolso. Não havia mensagens é claro, mas isso não me impediu de mandar uma. Ou duas. Três, na verdade. Não vou arriscar mandar mais que isso porque pode ser que...
— Meu celular vibrou no bolso de trás cinco vezes hoje. Quantas mensagens foram suas?
Ele está à porta. Um pouco molhado pela chuva. Um pouco sorridente pelas aparências.
Não avancei para abraçá-lo. Não avancei para beijá-lo. Vê-lo já estava de bom tamanho por enquanto. Sorri para ele o mais aliviado que consegui estar e disse que tinha mandado apenas três mensagens.
— Apenas três? Estou decepcionado, Thales.
— Idiota —falar isso rindo é tão bom.
Ele entra em sala, finalmente. Atrás dele, a porta bate, fechada por uma mão invisível que nos queria aqui, sozinhos. Meu coração acelera e minhas mãos perdem a habilidade. Não sei o que fazer com elas ou com o que estou pensando. Só espero que ele chegue até mim.
— Dream of You.
— Foi a melhor que eu achei.
— Foi perfeita mesmo. Não deixei que meu pai a achasse.
Mesmo sendo idiota, eu perguntei o porquê. Eu queria o ouvir dizer.
— Porque era minha. E eu não vou deixar ele pegar.
Dou um passo para trás quando escuto uma gritaria no corredor. Risadas logo em seguida.
Álvaro se apressou em falar:
— O Scooby é o errado para a gente se encontrar.
— Posso pensar num lugar melhor.
— Certo. Thales...
Bateram na porta.
Ele se afastou um passo e eu me sentei, as pernas trêmulas. Observei nossa turma entrando na sala, interrompendo aquele momento. Mas não tinha problema, eu pensaria em algo.
Enquanto andava até a sua carteira ouvi um dos amigos dele perguntar se ele tinha machucado a perna de novo ao jogar bola.
— Sabe como é — foi tudo o que Álvaro respondeu, com um sorriso no rosto.
Sorrir assim deve ser bem difícil porque cada parte sua deve querer desabar e mesmo assim, lá está ele, admiravelmente segurando as pontas. Há pouco tempo eu o estaria chamando de idiota mentalmente por esse sorriso.
Lino apareceu e se sentou no lugar de sempre.
— Bom dia — ele disse.
— Oi. Cadê Bia?
— Ela foi ao banheiro. Já viu sua nota em química? O professor a colocou no site.
Fazia dias que eu não entrava no site da escola. Acho que as histórias dos outros estão mais adiantadas que a minha.
— Ainda vou olhar.
Lino se virou para mim.
— Ênio ficou um pouco chateado porque você não apareceu. Ele disse que vocês tinham algo marcado na sexta-feira, mas então você não apareceu. Ele disse que levou um coice. Você o deixou levar um coice?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Maiores Que Muita Coisa (Romance Gay)
RomanceThales parou de escrever depois que seu meio-irmão estragou esse sonho. Entretanto, ele decide tentar mais uma vez em um concurso de escrita na escola, com a ideia, porém, de estar sob um pseudônimo. A escrita se torna apenas mais um de seus segredo...