Capítulo Vinte e Um

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Usamos o chuveiro. O que fica do lado de fora. Peguei uma camisa maior que eu e usei um calção fino. Álvaro chamou as irmãs dele e elas aceitaram. E Álvaro... ele estava feliz que eu estivesse aqui.

É estranho pensar assim; que alguém pode estar feliz comigo por perto. Não é uma questão de autopiedade ou coisa parecida. Apenas... Apenas passei tanto tempo tendo só a mim mesmo e pensando que estava bem onde estava, sozinho, que não fazia diferença se eu estava com alguém, fazendo parte de algo. Quando faço parte, agora, sinto a diferença. Ele sorri para mim o tempo inteiro quando nossos olhares se cruzam e, mesmo que por um acidente mentiroso, nossos dedos se cruzam. Suas irmãs riem quando corremos atrás dela na grama e gritamos para que elas tenham cuidado para não escorregarem e caírem. Elas ignoram, claro, mas é divertido mesmo assim. Passamos muito tempo no chuveiro, tanto que nossos dedos ficaram enrugados.

— Isso não é uma doença. O irmão de vocês está mentindo — digo às meninas.

Elas olham feio para o irmão, que olha feio para mim.

— Entrem. A gente pode fazer chocolate!

Carol corre, mas Clara fica e diz ao irmão:

— Ele é mais legal que você — e depois corre, olhando para trás para saber se Álvaro iria atrás dela.

Cinco segundos se passam antes que eu comece a rir da sua cara. Ele consegue fazê-la ficar mais feia e estende o dedo do meio para mim.

— Clara é a melhor — digo.

— A melhor até ela escolher alguém para colocar no pedestal no seu lugar.

Ele cruza os braços sobre o peito. Noto nas gotículas sobre sua pele e de como ele parece mais pálido que o normal. Ele não toma muito sol e o clima agora está nublado demais. Ele poderia muito bem ser um personagem de Crepúsculo. Noto ainda mais nas gotas de água escorrendo do seu pescoço até seu peito. Eu queria lamber cada uma delas e me demorar o máximo que conseguisse. Eu queria tomar algo quente e deixar para lamber o rosto dele assim, gelado, e ainda perguntaria ao seu ouvido qual era a sensação. Eu queria que ele gemesse.

Pisco para afastar o pensamento antes que eu ficasse excitado perceptivelmente. Não existe nada pior do que o ego de Álvaro quando nota no meu tesão por ele.

— Quer tomar banho no meu quarto? Lá tem água quente. Eu posso começar a vestir as meninas para elas não ficarem gripadas.

Assinto.

Ver ele cuidar das irmãs é bem bonito. Ao mesmo tempo é um gatilho para que eu pense no bebê que Elisa está esperando. Vou ser irmão de alguém. Isso é assustador e bom, confuso e caloroso.

O frio está me afetando demais.

Entramos e eu vou direito para o quarto dele.

Liguei o chuveiro na temperatura quente e relaxei o máximo que eu pude. Minha mochila está no quarto dele, logo ao lado da cama, minhas coisas estão ali e meus pensamentos não param de voltar nas horas atrás, no rosto do meu pai, nas palavras da minha mãe. Empurrei o máximo que pude e me segurei lá fora, aqui, agora, eu quis chorar. Ironicamente, não consegui. Nenhuma lágrima saiu, eu só me senti péssimo e acabei meu banho. Peguei a toalha e me enxuguei.

O pai de Álvaro não tinha aparecido ainda. Eu não queria nem pensar na cara dele quando chegasse e Álvaro explicasse o porquê estou aqui. Porque concordamos em contar. Eu havia pensado em argumentos e ameaças, pensei em meter a carreira política dele no meio, caso fosse preciso. E descobri que não me arrependeria de usar tudo o que eu pensasse para manter ele longe de Álvaro. Meu coração deu um salto só de lembrar da vez em que me escondi debaixo da cama dele e ouvi aquela conversa. Clístenes foi duro, invasivo, mau.

Maiores Que Muita Coisa (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora