Assim que pisei na escola eu soube que alguma coisa estava errada. Quando todo mundo olha para você, seguindo com o olhar e cochichando de modo nada discreto quando pensam que você não está vendo... isso é um claro sinal de que algo aconteceu e é sobre você. Bia e Lino estavam perto dos bebedouros e quando me aproximei deles o suficiente, recebi a notícia.
— Eles sabem sobre você e Álvaro.
Bia morde o lábio.
— Como... Onde ele está?
— Ele ainda não chegou. Uma das meninas veio falar comigo... Ela disse que alguém viu vocês ontem. Aos beijos!
Merda.
Merda!
— Saímos ontem. Vou ligar pra ele.
— Ele chegou. — Lino apontou para a entrada da escola.
Tive uma visão de como eu estive quando entrei. Observando as pessoas me observarem, os cochichos... Pelo menos os amigos dele estavam do lado dele agora. Nos aproximamos.
— A merda estourou — Rubens diz.
— Não diga, gênio — Bia resmunga.
Não ligo para a discussão deles. Álvaro está com os ombros encolhidos.
— Viram a gente. Ontem.
— Que ótimo.
— Agora não temos como negar. Eles já sabem.
Era para ser algo positivo. Mas não era.
O sinal tocou, só que nenhum de nós se mexeu ainda. À direita tinha um amontoado de meninos conversando e rindo. Escutei alguns deles chamando Álvaro e me chamando, com certeza para brincarem com nossas caras. À esquerda, perto da sala dos professores, havia uma mistura de meninos e meninas olhando para cá e cochichando. Eu não consegui pensar em algo que melhorasse essa situação.
Mas Lino pensou.
— Vocês deviam contar a verdade sem usar as palavras. É mais fácil. Agir como um casal. Ninguém vai poder dizer nada se vocês disserem primeiro.
Quando todos nós olhamos para ele, Lino corou e encolheu os ombros como uma criança. Bia deu um abraço rápido nele e olhou para mim, e eu sabia que ela apoiava essa ideia. Os olhares de Bia são bem expressivos.
Só que Álvaro...
— E aí?
Ele tentou sorrir.
Miguel deu um passo para a frente e empurrou o amigo direto nos meus braços.
O segurei desajeitadamente. Nossas mãos ficaram juntas.
— E aí.
Lúcia saiu da sala dela e manda todos irem para suas salas.
Por um momento eu achei que seus olhos ficaram em mim e ela poderia ter sorrido para minha mão, que agarrava a de Álvaro. Foi muito rápido para ter certeza.
Na sala de aula o professor pediu que fizéssemos duplas. Lino ficou com Bia. Ela foi mais rápida.
Álvaro veio para a carteira ao meu lado. Ouve assobios provocadores da maioria dos alunos. Não ligamos.
Só que o professor, sim.
— Álvaro, Thales, vocês poderiam se separar?
— Por quê? — Perguntei.
O professor — que era alto, forte e tinha um quê de militar — não vacilou quando disse:
— Porque é melhor.
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Maiores Que Muita Coisa (Romance Gay)
RomantizmThales parou de escrever depois que seu meio-irmão estragou esse sonho. Entretanto, ele decide tentar mais uma vez em um concurso de escrita na escola, com a ideia, porém, de estar sob um pseudônimo. A escrita se torna apenas mais um de seus segredo...