Meus dedos estavam um pouco trêmulos quando encontrei com meus amigos no lado esquerdo do colégio. Eles estavam sorrindo quando me aproximei. O sol estava quente, mas outubro era o fim do frio congelante, ficaríamos agora com o frio perfeito.
— Me senti importante — Miguel falou, olhando para a fila de pessoas de todas as idades que fazia uma volta na rua para votarem.
— Porque você foi.
Bia o beija na bochecha.
Não deixei de olhar para Lino. Ele não parecia incomodado mais. O assunto de namoro nunca mais tinha voltado a aparecer, o que foi bom, porque às vezes meu amigo podia ser direto demais nas perguntas e eu não saberia como responder se ele me perguntasse algo pessoal demais.
— Álvaro — Miguel disse com uma voz de aviso. Olhei para meu namorado, e depois percebi que Miguel queria que ele olhasse por cima do ombro. Onde o pai dele estava.
Não acreditei no que vi.
Clístenes estava com uma camisa branca maior que seu corpo, e em letras vermelhas, estava escrito "A guerra nos deixa mais fortes" e logo abaixo o número "1945". Meu sangue pareceu correr mais rápido, mais rápido ainda quando percebi que Clístenes estava olhando para mim.
Ele estava conversando com uma mulher de óculos escuros.
Ouvi o que ele dizia.
— Meu nome é de um antigo político grego. Sim! Sim! — Ele ri em alto e bom som. — Eu sei, amo coincidências.
Coincidências é meu...
— Acho que já podemos ir — Bia diz e pela voz dela, sei que não quer que nada de ruim aconteça.
Antes que pudéssemos ir embora, Clístenes chamou Álvaro por cima das risadas e conversas das pessoas que estavam por perto, que era a maioria, homens velhos e que sempre pareciam bêbados e sonolentos mesmo sóbrios e sorridentes. Faziam parte do grupo de Clístenes, assim como todo mundo aqui tem um grupo, o dele é de homens que admiram até o suor que escorre na sua testa.
A camisa dele parecia debochar de mim. Essa era a intenção.
Como Álvaro ficou parado, foi ele quem se aproximou de nós.
— Foi o primeiro voto de vocês?
— Foi — Miguel respondeu por nós.
Bia estava olhando para o irmão, depois, com a mesma preocupação no olhar, olhava para mim e para Álvaro.
— Como vai, Thales?
— Bem. — Esperei que meu tom grosso o afastasse.
Eu devia saber que não afastaria. Clístenes é um idiota e não percebe a hora de calar a boca.
— Os pais de vocês já votaram?
— Sim.
— Espero que tenham sido conscientes — eu disse.
Seus olhos não desgrudaram dos meus quando ele perguntou o que eu queria dizer.
— Espero que minha mãe tenha mesmo convencido as amigas dela e que meu padrasto tenha convencido os amigos dele. Eles estudaram sobre o senso comum.
Senti os dedos de Álvaro nas minhas costas. Cinco dedos fazendo pressão nas minhas costas suadas. Ele estava esperando por algo.
— Cada um com suas opiniões, não é? — Clístenes respondeu. Sorrindo. Depois apontou para sua camiseta. — Gostou?
Me neguei a fazer ou falar qualquer coisa.
Ele insistiu.
— Conversamos sobre a guerra quando você esteve lá em casa e você disse que ela não deve ser lembrada pelos motivos errados. Está certo, é verdade. Só devemos lembrar que é graças a ela que estamos aqui.
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Maiores Que Muita Coisa (Romance Gay)
RomanceThales parou de escrever depois que seu meio-irmão estragou esse sonho. Entretanto, ele decide tentar mais uma vez em um concurso de escrita na escola, com a ideia, porém, de estar sob um pseudônimo. A escrita se torna apenas mais um de seus segredo...