Capítulo 01. Minha Operação de Resgate Termina Muito Mal

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Na sexta-feira anterior às férias de inverno, minha mãe arrumou para mim uma maleta de viagem e algumas armas mortais e me levou até um novo internato. No caminho, pegamos minhas amigas Sina e Yamileth.

Era uma viagem de oito horas de Houston até Portland, em Oregon. Chuva e neve fustigavam a estrada. Sina, Yamileth e eu não nos víamos fazia meses, mas entre a nevasca e o pensamento voltado para o que estávamos prestes a fazer, estávamos nervosos demais para conversar. Exceto minha mãe. Ela fala mais se fica nervosa. Quando finalmente chegamos a North Barbershop, estava escurecendo, e ela havia contado a Sina e a Yamileth todas as constrangedoras histórias de bebê que havia para contar a meu respeito.

Yamileth limpou a janela embaçada do carro e espiou lá fora.

— É, isso vai ser divertido.

North Barbershop parecia o castelo de um cavaleiro do mal. Era todo de pedras negras, com torres e janelas estreitas, e um grande conjunto de portas duplas de madeira. Erguia-se sobre um penhasco escarpado, coberto de neve, que dava vista para uma grande floresta gelada de um dos lados e para o oceano cinzento e agitado do outro.

— Vocês têm certeza de que não querem que eu espere? — perguntou minha mãe.

— Não, obrigado, mãe — respondi. — Não sei quanto tempo vai levar. Vamos ficar bem.

— Mas como é que vocês vão voltar? Estou preocupada, Noah.

Torci para não ficar vermelho. Já era bastante ruim depender de minha mãe para me levar até minhas batalhas.

— Está tudo bem, sra. Urrea. — Sina sorriu, tranquilizadora. Seus cabelos louros estavam enfiados debaixo de um gorro de esqui e os olhos esverdeados tinham a mesma cor da grama. — Vamos mantê-lo longe de encrencas.

Minha mãe pareceu relaxar um pouco. Ela acha que Sina é a semideusa mais equilibrada a chegar à oitava série. E tem certeza de que Sina sempre impede que eu seja morto. Ela tem razão, mas isso não quer dizer que eu tenha de gostar desse fato.

— Muito bem, queridos — disse minha mãe. — Vocês têm tudo de que precisam?

— Sim, sra. Urrea — respondeu Yamileth. — Obrigada pela carona.

— Suéteres extras? O número do meu celular?

— Mãe...

— Sua ambrosia e seu néctar, Noah? E um dracma de ouro para o caso de precisar entrar em contato com o acampamento?

— Mãe, fala sério! Vamos ficar bem. Andem, meninas.

Ela pareceu um pouco magoada, e eu lamentei por isso, mas estava pronto para saltar daquele carro. Se mamãe contasse mais uma história sobre como eu ficava uma gracinha na banheira quando tinha três anos, eu ia me enterrar na neve e congelar até a morte.

Sina e Yamileth me seguiram, saindo do carro. O vento soprava, atravessando meu casaco como punhais de gelo.

Assim que o carro da minha mãe estava fora do campo de visão, Yamileth disse:

— Sua mãe é tão legal, Noah.

— Ela é legal — admiti. — E você? Tem contato com a sua mãe?

Assim que fiz a pergunta, desejei ter ficado calado. Yamileth era ótima em lançar olhares diabólicos, ainda mais com as roupas punk que sempre usava — o casaco militar rasgado, a calça de couro preto e as correntes, o rímel preto e aqueles olhos azuis intensos. Mas o olhar que ela me dirigiu agora era um perfeito dez na escala do mal.

— Se isso fosse da sua conta, Noah...

— É melhor entrarmos — interrompeu Sina. — Alex deve estar nos esperando.

Noah Urrea e os Olímpicos: O Anátema do Colosso [3]Onde histórias criam vida. Descubra agora