Capítulo 09. Aprendo A Cultivar Zumbis

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O problema de voar em um pégaso durante o dia é que, se você não tomar cuidado, pode causar um grave acidente de trânsito na autoestrada de Abram-Perezville. Tive de manter Blackjack acima das nuvens, que, felizmente, no inverno eram bem baixas. Avançávamos, tentando manter no campo de visão a van branca do Alojamento Metade-Homem. E, se estava frio no chão, estava mais ainda no ar, com a chuva gelada ferroando minha pele.

Eu lamentava não ter levado a roupa de baixo cor de laranja — e térmica — que vendiam na lojinha do acampamento, mas, depois da história de Febe e da camiseta com sangue de centauro, não tinha mais certeza se confiava nos produtos de lá.

Perdemos a van de vista duas vezes, eu tinha o forte pressentimento de que entrariam em Sundance Square primeiro, portanto, não foi muito difícil encontrar seu rastro novamente.

O trânsito estava ruim por causa do feriado. A manhã já ia pelo meio quando chegaram à cidade. Pousei com Blackjack perto do topo da Construção Wells Fargo Plaza e fiquei observando a van branca, pensando que ela iria parar na rodoviária, mas o veículo prosseguiu.

— Para onde Adrian está levando o grupo? — murmurei.

Ah, Adrian não está dirigindo, chefe, disse-me Blackjack. É a garota.

— Qual garota?

A Caçadora. Com aquele negócio prateado que parece uma coroa no cabelo.

— Any?

Ela mesma. Ei, olhe! Uma loja de donuts. Podemos comprar alguma coisa para viagem?

Tentei explicar a Blackjack que levar um cavalo voador para uma loja de donuts provocaria um ataque cardíaco em todos os policiais que estivessem por perto, mas ele parecia não compreender. Enquanto isso, a van continuava seu caminho sinuoso na direção dos Túneis Downtown. Nunca me ocorrera que Any soubesse dirigir. Ela parecia não ter nem dezesseis anos. Mas, afinal, era imortal. Perguntei-me se ela teria carteira de Houston, e, nesse caso, qual seria sua data de nascimento.

— Bem — disse eu. — Vamos atrás deles.

Estávamos prontos para decolar da Construção Wells Fargo Plaza quando Blackjack relinchou, alarmado, e quase me derrubou. Alguma coisa se enroscava em minha perna como uma cobra. Levei a mão à minha espada, mas, quando olhei para baixo, não havia nenhuma cobra. Videiras haviam brotado das rachaduras entre as pedras do edifício. Elas estavam se enrolando nas pernas de Blackjack, golpeando meus tornozelos, de maneira que não pudéssemos nos mover.

— Estão indo a algum lugar? — perguntou o sr. D.

Ele estava encostado ao edifício, com os pés levitando, o agasalho esportivo de estampa de leopardo e os cabelos negros sendo açoitados pelo vento.

Alerta dos deuses!, gritou Blackjack. É o cara do vinho!

O sr. D suspirou exasperado.

— A próxima pessoa, ou cavalo, que me chamar de cara do vinho vai acabar numa garrafa de Merlot!

— Sr. D. — Eu tentava manter a voz calma enquanto as videiras continuavam a envolver minhas pernas. — O que o senhor quer?

— Ah, o que eu quero? Você pensou talvez que o imortal e todo-poderoso diretor do acampamento não perceberia sua saída sem permissão?

— Bem... talvez.

— Eu devia atirá-lo de cima deste edifício, sem o cavalo alado, e ver o quanto heroico você se mostra no trajeto até lá embaixo.

Cerrei os punhos. Eu sabia que devia manter a boca fechada, mas o sr. D estava prestes a me matar ou me arrastar de volta para o acampamento, coberto de vergonha, e eu não podia suportar nenhuma das duas possibilidades.

Noah Urrea e os Olímpicos: O Anátema do Colosso [3]Onde histórias criam vida. Descubra agora