Capítulo 14. Tenho Um Problema de Barragem

9 2 0
                                    


Na extremidade do depósito de lixo, encontramos um caminhão de reboque tão antigo que bem poderia ter ele mesmo se jogado fora. Mas o motor funcionou, e estava com o tanque cheio, então decidimos pegá-lo emprestado.

Foi Yamileth quem dirigiu. Ela não parecia tão atordoada quanto Any, Alex ou eu.

— Os esqueletos ainda estão por aí — lembrou-nos. — Precisamos seguir em frente.

Ela nos conduziu pelo deserto, sob um céu azul muito claro, a areia tão brilhante que doía nos olhos. Any sentou-se na frente com Yamileth. Alex e eu nos sentamos na carroceria do caminhão, encostados no guincho. O ar estava fresco e seco, mas o bom tempo parecia um insulto depois de perdermos Heyoon.

Minha mão fechou-se em torno da pequena figura que custara a vida dela. Eu ainda não sabia nem que deus era aquele. Xzavier saberia.

Ah, deuses... o que eu ia dizer a Xzavier?

Queria acreditar que Heyoon ainda estava viva, em algum lugar. Mas tinha o pressentimento de que ela se fora para sempre.

— Devia ter sido eu — afirmei. — Era eu quem tinha de ter entrado no gigante.

— Não diga isso! — Alex estava em pânico. — Já é ruim o bastante Sina ter desaparecido, e agora Heyoon. Você acha que eu ia aguentar se... — Ele fungou. — Você acha que alguém mais seria meu melhor amigo?

— Ah, Alex...

Ele enxugou os olhos com um tecido oleoso que lhe deixou o rosto sujo, como se estivesse usando uma pintura de guerra.

— Eu... eu estou bem.

Mas não estava. Desde o encontro em Utah — seja lá o que tenha acontecido quando aquele vento selvagem soprou —, ele parecia muito frágil, mais emotivo do que de hábito. Eu temia falar com ele sobre isso, pois ele poderia começar a berrar.

Pelo menos tem uma coisa boa em se ter um amigo mais descontrolado do que você. Percebi que eu não podia ficar deprimido. Tinha de deixar de lado as lembranças de Heyoon e seguir em frente, como Yamileth estava fazendo. Eu me perguntava sobre o que ela e Any estariam conversando na cabine do caminhão.

*¸ .~¹°¨♡♡♡¨°¹~.¸*

O caminhão reboque ficou sem gasolina na beira do cânion de um rio. Mas não tinha problema, pois a estrada também terminava ali.

Yamileth saltou e bateu a porta. Imediatamente, um dos pneus estourou.

— Ótimo. O que mais vai acontecer agora?

Observei o horizonte. Não havia muito para se ver. Deserto em todas as direções, blocos ocasionais de montanhas áridas erguendo-se aqui e ali. O cânion era a única coisa interessante. O rio propriamente dito não era muito grande; tinha talvez uns cinquenta metros de largura, água verde com algumas cachoeiras, mas abria uma grande cicatriz no deserto. O penhasco despencava abaixo de nós.

— Tem uma passagem — disse Alex. — Podíamos descer até o rio.

Tentei ver do que ele estava falando e, por fim, percebi uma minúscula saliência que se insinuava para baixo na face do rochedo.

— É uma passagem para bodes — disse eu.

— E daí? — perguntou ele.

— Nós três não somos bodes.

— Podemos conseguir — insistiu Alex. — Eu acho.

Pensei na possibilidade. Eu já havia enfrentado penhascos antes, mas não gostava deles. Então olhei para Yamileth e vi o quanto ela havia empalidecido. O problema dela era a altura... Ela nunca conseguiria.

Noah Urrea e os Olímpicos: O Anátema do Colosso [3]Onde histórias criam vida. Descubra agora