Capítulo 1

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Yara Oliveira não sabia o que iria cursar na faculdade, não tinha certeza do que queria fazer pelo resto da vida, e só de falar "resto da vida" ela já sentia uma ansiedade enorme, a cobrança dos pais, dos professores e da sociedade estavam a matando

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Yara Oliveira não sabia o que iria cursar na faculdade, não tinha certeza do que queria fazer pelo resto da vida, e só de falar "resto da vida" ela já sentia uma ansiedade enorme, a cobrança dos pais, dos professores e da sociedade estavam a matando. A adolescente de 17 anos morava com os pais em um bairro de classe média em São Paulo. A mãe era professora numa escola de Ensino Fundamental, o pai era taxista. Sua mãe, Raquel, descendia de índios, os pais eram de uma tribo guarani do Paraná.

Luiza Souza uma jovem modelo era a melhor amiga de Yara, se conheceram no primário e desde então estudaram juntas, resolveram ir para uma escola de elite aos catorze anos, onde conheceram Yuna e Gabriela que já eram amigas há dois anos. Para entrar no colégio Prime, elas tiveram que fazer uma prova para ganhar uma bolsa, Yara conseguiu atingir quase 100 por cento do teste e ganhou a bolsa integral, já Luiza, tinha que pagar metade das mensalidades todo mês.

— Você ouviu o que falei? — Gabriela perguntou, a adolescente era trans, filha de mãe brasileira e pai canadense. Ela veio morar no Brasil com doze anos e conheceu sua melhor amiga Yuna na escola, Gabriela havia nascido como Gabriel Carter, mas aos dez anos percebeu que o corpo masculino não era a verdadeira identidade dela, e com apoio dos pais e profissionais iniciou a transformação para a mudança de sexo.

— Sim — Yara levantou uma sobrancelha para a amiga. — Quero dizer... ok, não!

— Você tem que dar um tempo, você passará no vestibular e, aliás, ainda tem muito tempo para ele acontecer, vamos relaxar e aproveitar nosso momento juntas. No ano que vem cada uma estará em uma faculdade diferente.

— Ok — Yara soprou o ar para fora dos pulmões com força. — Sobre o que estava falando? — Ajeitou o cabelo comprido atrás da orelha.

— Festa do Miguel — Os olhos de Gabriela brilharam, ela tinha um crush nele desde que o conheceu há cinco anos, mas aos quinze ele começou namorar Luana, filha do prefeito, Gabriela sabia que ele não ficaria com ela por ser trans, e por mais que ele fosse bonito, era um verdadeiro pé no saco.

As duas entraram no carro preto, o motorista sorriu lá da frente para elas como sempre, Caio era um rapaz de vinte anos, ele sempre encarava Yara e depois desviava os olhos com um sorriso fofo adornando o rosto, ela o adorava, mas ele nunca se aproximou, Gaby dizia que ele tinha uma queda por ela, mas o moço nunca deu o primeiro passo e, tímida do jeito que era, não era Yara que daria.

— Você já pediu para seus pais? — Yara questionou, os olhos foram automaticamente para o espelho retrovisor, onde um par de olhos castanhos a vigiavam como sempre, ela fez um contato visual rápido antes de se esconder atrás do banco do motorista e sentiu as bochechas tencionarem para evitar um sorriso envergonhado.

— Eles deixaram — Gabriela respondeu alheia ao drama de Yara e Caio. — Estava pensando nesse vestido — Mostrou a foto no celular.

— É lindo. Acho que vou de shorts e aquela blusa que você me deu de natal, ainda não usei ela.

— Ficará perfeito — Gaby prendeu o cabelo cacheado em um coque no alto da cabeça. — Você tem um bumbum bem bonito e qualquer shortinho realça ele.

Elas riram e lá na frente o motorista sentiu as bochechas arderem de vergonha pela conversa que as adolescentes tinham.

A casa de Gabriela era a maior do grupo, Yara não se cansava de admirar tudo que a amiga possuía, por isso se matava de estudar, queria dar o melhor futuro que conseguisse para si.

Ela se jogou na cama king, enquanto Gaby foi tomar um banho, era a mania da amiga, tomava pelo menos quatro banhos diários, mesmo que depois se enchesse de culpa pela devastação do mundo.

Enquanto rolava seu feed do Instagram, vendo qual foto velha iria apagar porque não via mais graça nela, Yara recebeu uma mensagem. Um número desconhecido.

Sentou-se na cama, passou os olhos pela tela sem entender absolutamente nada.

" Você se sente como um peão, mas mesmo ele sendo a primeira peça a ser descartada ele tem algum valor."

Piscou lentamente, esfregou os olhos e leu novamente até cada palavra perder o significado. Ligou para o número, mas ninguém atendeu, quando tentou novamente, a ligação não foi completada.

— Que estranho — Ela disse assim que Gaby entrou no cômodo, com uma toalha na cabeça e cheirando a rosas. — Me mandaram uma mensagem sem sentido.

— Deixa eu ver — Pediu Gaby ao se jogar na cama, ela leu, suas sobrancelhas se uniram em sua testa. — Ligou para o número?

— Sim, a ligação não vai.

Gabriela riu.

— Tenho certeza que é uma das meninas tentando passar um trote na gente, aposto que não vieram hoje aqui só para fazer isso.

— Será? — Yara apoiou o celular no queixo. — Vou responder à mensagem.

Gabriela se apressou em sentar ao lado dela, os dedos ágeis de Yara escreveram e mandaram a mensagem rapidamente, porém, quem entrou em contato com ela não foi o anônimo da mensagem e sim, Luiza numa chamada de vídeo.

— E aí? — Gaby cantarolou dançando em frente a tela.

— Sério! Já perdi a fé em vocês — Luiza jogou as mãos para o ar, ela estava em um camarim, usava um roupão branco e uma peruca rosa.

— O que aconteceu? — Yara franziu o cenho.

— Não me venham com essa — Luiza cruzou os braços. — Você se sente como um peão, mas mesmo ele sendo a primeira peça a ser descartada ele tem algum valor — Leu com uma voz mais fina que o normal. — Qual das duas inventou isso, primeiro a peça de xadrez e agora isso... já podem acabar com esse joguinho fajuto.


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E aí Kings and Queens! O que acharam desse primeiro capítulo?

Xeque-mate é um conto que contará com 15 capítulos curtos, o conto já está finalizado!

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