Legolas se olhava no espelho. Os fios alinhados e puxados para trás do seu cabelo completamente solto, vestes brancas com bordados prateados bem feitos, uma capa grossa de veludo azul escuro e, por fim, uma diadema de prata com folhas douradas ao redor e uma pedra de cristal no centro. Simplesmente, era digna do príncipe que era. O Príncipe da Floresta das Trevas, agora renomeada Eryn Lasgalen. Seus olhos estavam brilhosos, e havia um pequeno sorriso desenhado em seu belo rosto. Satisfeito com a visão de si mesmo, tornou o olhar para a varanda, abriu a porta de vidro por fora, descansou as mãos sobre o guarda-corpo de pedra branca e soltou um suspiro relaxado.
Ao longe, havia muitas árvores espalhadas pela mata repleta de encostas íngremes, cordilheiras rochosas e riachos velozes. Entre tantos relevos, porém, havia muitas flores abrindo seus brotos para a primavera que se aproximava. As folhagens brotavam verdes por sobre o musgo e a casca das árvores, e já era possível ouvir os pássaros típicos da região cantando. Aquela era Ithilien, o jardim de Gondor que os elfos da floresta tiveram a maior honra de colonizar mais uma vez, antes de partirem para as Terras Imortais. E Legolas, naquele momento, estava liderando a comitiva.
Aquela estava sendo uma manhã agradável e quente, porém ainda trazendo o vento gelado do inverno. Legolas olhou para baixo e avistou os elfos fazendo suas tarefas diárias, todas com o intuito de deixar aquela terra tão bela, quanto fora nos dias passados. Novas árvores estavam sendo plantadas, os canteiros de flores floresciam com mais vida do que nunca, e os frutos de árvores e arbustos cresciam grandes e com cores suculentas e chamativas. Era uma nova era para Ithilien, a era dos homens, mas com um pequeno toque dos elfos. Legolas, no entanto, sabia que quando todos os elfos, enfim, partissem, Ithilien não cresceria mais daquela forma, pois a magia dos elfos não era forte o bastante para se manter com a ausência desses. Mas, para Legolas, valia a pena lhe dar vida novamente, afinal tinha muito apreço por aquele que estava governando Gondor.
Aragorn, filho de Arathorn. Seu verdadeiro nome, porém já havia sido chamado por Estel, Passolargo, e agora Elessar. Após tantos anos renegando seu direito ao trono de Gondor, finalmente assumiu seu lugar e sua herança. E Legolas pretendia ficar por perto durante a sua caminhada de rei. E, claro, jamais se distanciaria de Gimli, o anão. Amigo-dos-elfos era como muitos o chamavam, mas por outro lado Legolas não era conhecido como Amigo-dos-anões, talvez assim fosse porque Legolas tinha amizade somente com Gimli, enquanto este admirava intensamente a Senhora Galadriel, que possuía uma beleza da qual, segundo o anão, ninguém mais possuía.
Legolas desceu e caminhou por entre os elfos, conferindo seus afazeres. Todos que o viam, paravam o que quer que estivessem fazendo e o cumprimentavam com grande valor, e Legolas apenas retribuía com aceno de cabeça e um leve sorriso. Aproveitava esses momentos para conversar e ajudar no que pudesse. Embora fosse senhor ali, não precisava se preocupar muito com a questão diplomática, pois acima dele estava Faramir, Príncipe de Ithilien, filho de Denethor II, o último Regente de Gondor, e era com ele que Legolas discutia sobre o progresso da colônia. E ele adorava estar entre o seu povo, pois isso o impedia de voltar os seus pensamentos para o passado. O seu passado. A sua história.
Na verdade, Legolas não falava com ninguém sobre a sua vida, pois não tinha o que falar. Sua vida fora extremamente monótona. Além disso, Legolas sabia muito bem que havia um buraco no começo dela. Seus primeiros dez anos de vida, literalmente, haviam sido apagados. No início, fazia de tudo para se lembrar, porém nada lhe vinha à memória. Com o passar do tempo, porém, acostumou-se com esse buraco e pensou que talvez não houvesse nada de importante nesses dez primeiros anos perdidos. Todavia, sempre soube que uma pessoa ele perdera entre esses dez anos: sua mãe. Embora não se lembrasse de o que era ter uma mãe, sentia falta de ter uma. Até porque seu pai não facilitou as coisas.
Thranduil era uma verdadeira incógnita para Legolas. Às vezes, pensava que o conhecia, mas aí ele o surpreendia. Porém, nem sempre essa surpresa era positiva. Acontece que Legolas nunca recebera um olhar de carinho ou afeição de Thranduil. Parecia-lhe que seu pai o via como um estranho, alguém que não deveria estar na sua vida. Mas estava, e não aceitava. Legolas julgava ser pelo fato de ele ter esquecido tudo o que aconteceu, e por isso muitas vezes se culpava. Fizera de tudo para chamar a atenção do pai, e percebeu que eram somente nos treinamentos marciais que Thranduil o notava, às vezes ele próprio insistia para treiná-lo. Mas quando a aula acabava, seu rosto se fechava automaticamente e ia embora. Perguntava-lhe sobre isso, mas ele nunca lhe respondia com clareza - era nessas horas que Legolas se impacientava por não ser bom com enigmas -, e havia horas que ele simplesmente o ignorava, e uma sombra lhe tomava a expressão.
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As Asas do Poder - O Diamante da Morte - Vol. 2
FanfictionCONTINUAÇÃO DE "AS ASAS DO PODER - INFÂNCIA PERDIDA - VOL. 1" Os hobbits do Condado Frodo e Sam conseguem chegar à Montanha da Perdição e lá destroem o Um Anel, pondo fim ao reinado de Sauron, o Senhor do Escuro. E Aragorn, herdeiro do trono de Gond...