O passado bate às portas

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22 de abril de 3025

Na madrugada quente que pairava sobre o Reino de Thranduil, uma fumaça negra vagava, sem uma forma definida, sem rosto, apenas dois orbes verdes cintilantes flamejavam em meio à escuridão. Lentamente, ia flutuando pelos corredores e apagando todos que cruzavam seu caminho, atravessando seus corpos como num sopro. As velas e tochas se apagavam diante da sua treva, e os corredores se tornavam escuros e silenciosos. A sombra seguia firme, sem receio em sua expressão, e pegava todos de surpresa com seus orbes verdes confiantes e irados. Porém, não fora para ali simplesmente para aterrorizar os elfos da floresta, tinha um propósito e, portanto, prosseguia sem olhar para trás, passando por cima dos corpos caídos ainda vivos daqueles que tentavam contê-la em vão .

Aos poucos, aproximava-se do seu destino: os aposentos do Rei de Eryn Lasgalen. Thranduil era seu nome, um elfo obstinado, ganancioso, arrogante, frio e, às vezes, até cruel. Mas não era por nenhuma dessas suas características que a fumaça negra vinha-lhe ao encontro, havia outra razão, muito mais plausível do que essa, pois ele fazia parte dos seus planos para a sua tão almejada vingança. Finalmente, posicionou-se de frente à porta dupla dos seus aposentos e, sem avisar, passou pelos vãos entre as duas portas e o chão, entrando no quarto sem qualquer dificuldade e se materializando frente a frente com aquele que procurava.

Ali estava Thranduil perto da adega que tinha no próprio quarto, com uma garrafa de vinho em uma mão e na outra uma taça vazia. Pelo visto, o rei estava se servindo de vinho, quando ela o surpreendeu de repente com a sua chegada. Todavia, seu olhar não era de espanto, tampouco assombro. Pelo contrário, estava calmo, e um sorriso sarcástico enfeitava seu rosto. Ao perceber que ele não chamaria os guardas, nem tentaria fugir, ela modelou a sua forma, revelando um corpo de mulher preto com curvas acentuadas, e os orbes verdes passaram a ter o formato desenhado de dois olhos que, no momento, expressavam escárnio. Sorriu-lhe de volta - pois agora tinha rosto - e pronunciou:

- Enfim, encontramo-nos de novo, Thranduil.

- Mormeril - falou o seu nome pela primeira vez depois de muitos anos sem mencioná-lo. - Estava demorando - comentou, voltando a atenção para o vinho em suas mãos.

- Pois é, acho que me atrasei. Ou me adiantei - respondeu, caminhando pelo quarto e passando as mãos de fumaça pelos móveis. - Mas isso não importa, porque vou ter o que vim buscar.

- E o que veio buscar, afinal? - Questionou ele com sua voz branda. Mormeril se voltou novamente para o elfo.

- Você sabe o que - respondeu-lhe simplesmente e mudou de assunto de supetão. - Você não parece surpreso com a minha aparição, talvez porque soubesse que eu viria numa noite como essa.

- Na verdade, já era de se esperar - confessou num tom de tédio. - Às vezes, você é muito previsível. Talvez sejam os anos de experiência que a tornaram assim - debochou-a, tomando todo o vinho que continha na taça de uma só vez, sentindo o líquido quente queimar a sua garganta.

- E você continua sendo o mesmo convencido de sempre - aproximou-se Mormeril vagarosamente. - Mas vejo que algo mudou dentro de você. E fora também, parece mais velho. Os anos não lhe fizeram bem - observou sincera, porém com certa gozação em seu tom.

- Não posso dizer igualmente sobre você, continua a mesma pessoa - proferiu Thranduil, encarando-a com um olhar gélido.

- Está enganado - continuou se aproximando. - Estou mais poderosa do que se lembra. Mais consciente dos meus passos. Você, no entanto, está cego. Cego pelas obras da Maldição de Amarth.

As Asas do Poder - O Diamante da Morte - Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora