Agonia

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Em Eryn Lasgalen...

Na Sala de Cura, Morwen velava o seu pai Molostroi. Havia enviado uma mensagem para Tauriel, avisando à chefe da guarda que ficaria reclusa por um tempo, enquanto Molostroi estivesse enfermo. Sabia que não deveria sair do seu posto tão de repente, principalmente com toda a tensão no ar pelo retorno de Mormeril e pelo sequestro do Rei Thranduil e, depois, pelo do Príncipe Legolas. Mas não queria se afastar de seu pai, tampouco fazer parte do resgate de Vossa Alteza. E, de fato, não foi, contrariando as ordens da chefe da guarda, portanto sabia que teria que lidar com ela, quando Tauriel retornasse do Monte Gundabad.

Fazia mais de mil e novecentos anos que não via seu pai, acreditava que estava morto, assim como todos, porém nunca aceitou sua morte, pois afinal ela o havia perdido no resgate de Seu Príncipe. Ela o culpava intensamente e passou a odiar Seu Rei por nem, ao menos, fazer questão de retornar para procurar possíveis feridos ou mesmo os corpos daqueles que se sacrificaram pela causa. Não achava aquilo nem um pouco justo, não cometeria o mesmo erro que seu pai cometeu ao se sacrificar por uma única pessoa. Assim, ao menos, ela pensava.

Morwen estava sozinha ali com seu pai, quando, de repente, percebeu a aproximação silenciosa de alguém que reconheceu imediatamente: o conselheiro Adamar. Perguntou-se porquê aquele traidor estaria interrompendo seu momento a sós com seu pai, e logo lhe veio à memória de que Adamar e Molostroi eram muito próximos, quando mais jovens. Amigos de longa data, inseparáveis como irmãos. Até a Batalha da Última Aliança Élfica. Embora isso fosse uma razão para Adamar e Morwen se aproximarem ainda mais, considerando que ele era seu padrinho, Morwen acabou se afastando dele completamente, a ponto de não trocar um único olhar, por motivos muito simples, porém irreparáveis.

Adamar se aproximou lentamente, cuidando para não fazer muito barulho. E quando chegou perto, recebeu um olhar rígido de Morwen. Severa como a mãe, pensou ele. Aquilo era um alerta para medir suas palavras, e Adamar sabia disso. Então, pegou um banquinho que achou por perto e se sentou relativamente próximo. Os dois permaneceram em um silêncio desconfortável, mal trocavam olhares. Até que Adamar, enfim, pronunciou-se:

- Você está bem?

- Eu pareço estar bem? - Devolveu sarcástica, mas com pouco ânimo para confrontar o padrinho.

- Soube que se retirou do seu posto - começou uma conversa ele. - Pensei que talvez quisesse conversar ou precisasse de algum auxílio.

- Francamente, não estou para conversa hoje, eu só quero ficar com meu pai. A sós - Adamar, então, suspirou entristecido.

- Queria que confiasse em mim. Já lhe disse para deixar o passado para trás, Morwen.

- Sinto muito, mas algumas cicatrizes não se fecham com facilidade - Adamar sabia bem sobre o que ela estava falando.

- Já faz muitos centenários que isso aconteceu, Morwen. Tente entender, não fiz aquilo porque não a amava. Eu a amo como, se fosse minha filha, sabe disso. Eu tive meus motivos na época, mas eles não importam agora. Aconteceu um milagre, não percebe? Seu pai voltou para nós, depois de todos esses anos! Vamos deixar as desavenças de lado, vamos nos voltar para frente, seu pai precisará de nosso apoio mais do que nunca. Se não estivermos unidos, como seu pai lidará com isso?

Morwen apenas concordou com a cabeça e não disse mais nada, voltando a velar seu pai. Assim, Adamar segurou a mão inerte de Molostroi. Estava quente. Olhou para seu rosto, dormia profundamente com a respiração e a expressão tranquilas, porém as olheiras estavam fundas e o rosto esquelético, indicando que ele pouco dormira e pouco comera durante as últimas décadas, e havia marcas recentes de maus tratos em seus pulsos e seu rosto, não queria nem imaginar outras marcas que poderiam haver pelo resto do seu corpo coberto pelos lençóis claros.

As Asas do Poder - O Diamante da Morte - Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora