Prisioneiros em fuga

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Ainda presos naquele buraco nebuloso, Legolas se forçou a pensar em como poderiam escapar de Gundabad. Gostaria de fazer isso sem causar muito alarde, mas, certamente, isso seria impossível. Provavelmente, não demoraria muito para Arghob aparecer à procura de seu corpo morto, ou para verificar se ele ainda estava vivo, e quando isso acontecesse seria bom ter um plano, porém Legolas se sentia muito cansado, estava perdendo sangue e não sabia o quanto mais poderia aguentar. 

Ouviu, de repente, uma tranca ser aberta seguida de um agoniante som agudo de ranger os dentes de dobradiças enferrujadas. E, assim, Legolas viu a luz dourada da marca da outra prisioneira se aproximar apressadamente e surgir em seu campo de visão a forma de um ser usando trapos velhos, os cabelos sujos e embaraçados, e todas as partes do corpo à mostra cobertos por cinzas e lama, não muito diferente da outra. A única diferença era que era os lábios da primeira estavam ressecados, implorando por água, enquanto os da segunda estavam cobertos de sangue. Do seu sangue. E ela também tinha um par de asas encrustado nas suas costas, e Legolas se perguntou se elas haviam sido deformadas pelas trevas de Mormeril e o quão horrível deve ter sido a experiência. Simplesmente deplorável, pensou:

- Precisamos sair daqui, e rápido, antes que Mormeril perceba e envie um exército para cá - alertou a primeira.

- Posso, pelo menos, saber quem são vocês e por que estão aqui? - Pediu Legolas, ainda bastante confuso, por causa das marcas em seus pulsos, que eram similares à sua.

- A razão para estarmos aqui é uma conversa para outra hora - retrucou o ser em pé ao seu lado. - Porém, como já nos contou seu nome, Legolas, acho justo saber os nossos. Pode me chamar de Yára, por enquanto. E essa é Pitya - apresentou ela a garota ainda sentada no chão, que havia acabado de reparar no sangue em sua boca e sua língua.

- Pitya? - Repetiu Legolas, como quem tenta compreender o significado de uma palavra.

- Sim, esse é meu nome, - respondeu a garota - mas pode me chamar de Arcanja, se quiser.

- Certo - dúvidas bombardeavam sua mente, no entanto aquele não era o momento, como Yára havia deixado bem claro, e era difícil bolar um plano de fuga com o ombro latejando. - Certo. Suponho que haja guardas vigiando a porta e um contingente de orcs suficiente para conter qualquer um de nós, caso Arghob, seu comandante, esteja disposto a entrar aqui com ou sem as ordens de Mormeril. E, com certeza, existe um exército dentro dessas cavernas e do lado de fora também. Não temos armas para nos defender, e não sabemos a direção da saída, não sabemos como sair daqui. Se seguirmos correndo completamente às cegas pelos túneis, vamos nos perder e Mormeril vai nos pegar e nos trazer de volta pra cá, ou matar todos nós.

- Se Mormeril quisesse matar a mim e Pitya, não teríamos ficado presas aqui por tanto tempo - comentou Yára ao seu lado. - A única coisa que ela quer agora é você, a pessoa que ela sempre quis em seu poder. E você veio parar direto na armadilha dela, se não reparou. Veio aqui para nos resgatar, como disse, mas é você quem precisa ser salvo, é a última pessoa que deveria visitar Gundabad - repreendeu-o Yára, aproximando-se de forma ousada, o que não ameaçou nem um pouco Legolas, que apenas lhe devolveu o olhar gélido.

- Se tem alguma coisa a me dizer, então diga, Yára. Sinceramente, não faço ideia do que Mormeril quer de mim, a única conversa que tive com ela não foi nem um pouco esclarecedora. E você acha mesmo que eu viria até um lugar tão repugnante como este sozinho apenas para salvar duas desconhecidas que devem estar aqui, há tanto tempo, que já deveriam saber qual a melhor saída para fora daqui? Eu não sou louco, se foi o que pensou - respondeu Legolas no mesmo tom.

- O que você acha que a Mormeril faz com seus prisioneiros? Sai com eles para passear por aí igual cachorro ou cavalo!? Nós não vemos a luz do Sol há incontáveis anos, há mais anos do que você pode contar, e os túneis daqui são todos parecidos e confusos aos olhos dos seres da luz, tornando este lugar um verdadeiro labirinto! Somente os orcs são capazes de transitar por aqui. 

As Asas do Poder - O Diamante da Morte - Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora