A face da Inimiga

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A noite chegou, e Legolas classificou dois dos soldados para velarem a segurança do acampamento, enquanto os demais descansavam. Ele, no entanto, não conseguiu pregar os olhos em nenhum momento, refletindo sobre a conversa que tivera com Rácine. Olhou para a sua esquerda e viu a elfa encostada num amontoado de rochas grandes com os olhos fechados, porém - pela sua respiração suave - reparou que ela não dormia, talvez estivesse apenas meditando sobre algo.

Sem sono, levantou-se da relva baixa e caminhou até onde estava Rácine. Recostou-se sobre a rocha, cruzou os braços à frente do corpo e passou a observar o céu. A lua brilhava cheia no céu, e as estrelas cintilavam como pontinhos distantes de luz, no entanto a sua beleza não o encantava mais. O desejo que sentia de partir para o Oeste era tão intenso, que seus olhos pareciam estar cegos para a Terra-média. O Mar clamava por sua ida, mas algo ainda o mantinha ali, e para isso ele não sabia nomear. Amor talvez? Amor pelo quê? Por quem? Por seu pai? Legolas não queria acreditar que o amor que sentia por seu pai seria capaz de prendê-lo na Terra-média e, ainda, causar-lhe mais dor do que já causara quando vivera na Floresta das Trevas. Também havia Aragorn e Gimli. Amava-os intensamente, provavelmente mais que o seu pai. Mas seria justo sacrificar a sua felicidade por eles?

De repente, um barulho estranho o tirou dos seus pensamentos. Percebeu que vinha da Floresta de Fangorn atrás de si e, quando Legolas se virou, percebeu que vinha das árvores. O barulho se repetia em tons diferentes, e notou também que algumas das árvores estavam se mexendo, fazendo movimentos mínimos, porém impossíveis de não notar para um elfo, mesmo no escuro:

- Chega a ser mágico e assustador ao mesmo tempo ver árvores se mexendo, não é? - Rácine comentou, colocando-se ao seu lado.

- Depende de quais olhos as observam - respondeu inteligente. - As árvores estão falando umas com as outras, e os Ents, ao que parece, também.

- Sobre o que será que elas estão falando? - Perguntou ela curiosa, como se quisesse entender o que elas falavam.

- A nossa presença, talvez - respondeu, arqueando uma sobrancelha intrigado, e suspirou. - Nunca as tinha contemplado, até que foi necessário adentrar na Floresta de Fangorn durante a Guerra do Anel.

- Jura!? - Impressionou-se Rácine. - Agora, eu quero saber mais sobre as suas aventuras como membro da Sociedade do Anel!

- Digamos que essa é uma longa e boa história - disse sorrindo, recordando-se dos momentos vividos com seus companheiros de demanda. Embora muitas coisas ruins tivessem acontecido - a morte de Boromir, a divisão da sociedade, o ataque em Moria... -, muitas coisas boas também ocorreram: o retorno inesperado de Gandalf, o encontro com os hobbits em Isengard, a sobrevivência de Aragorn após a batalha contra os orcs no caminho para o Abismo de Helm! De fato, muitas emoções foram vivenciadas durante a guerra, tanto de desespero, como de alívio.

- Eu acredito! - Afirmou ela. - E na situação em que nos encontramos, parece ser bem produtivo contar histórias de guerra, sabendo que essa pode ser nossa última conversa antes de você ser levado pela Mormeril - suas palavras soaram como um banho de água fria na cabeça de Legolas. Ele ficou mudo, apenas foi capaz de soltar um longo suspiro cansado. Ia respondê-la, porém Rácine continuou rapidamente. - Não precisa se explicar mais do que já se explicou. Vendo pelo seu ângulo, até que faz sentido, mas será que você não percebe que é exatamente isso o que a Mormeril quer? É uma armadilha, sabe disso! - O seu tom de reprovação misturado com preocupação não passou despercebido pelo mais jovem.

- Sei que está preocupada, tia Cici, mas, só porque vou me entregar, não significa que vou morrer! E mesmo que isso aconteça, não vou deixar que ela seja em vão. Acredite, Rácine, não enfrentei tudo o que enfrentei para me entregar a uma sombra qualquer e morrer sem lutar!

As Asas do Poder - O Diamante da Morte - Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora