A caminho de Gundabad

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O dia passou e a noite alcançou o local, preenchendo o céu com nuvens escuras, denunciando uma forte chuva, porém - para a dádiva de Legolas, embora ele não se importasse muito com chuva, a não ser para ficar com a roupa toda encharcada - nenhuma gota atingiu o forde-orc. Logo, percebeu que aquelas nuvens, na verdade, eram atraídas para a treva que dominava as montanhas, com a possível funcionalidade de não permitir que nenhuma luz incomodasse a paz dos orcs, fosse da Lua, fosse das estrelas, e isso entristeceu o coração de Legolas, pois não teria nem mesmo a luz das estrelas para acalentá-lo em seu tormento.

Ainda se via algemado com os braços presos envolta da pilastra atrás das costas, e por isso se sentia dolorido. Uma fogueira ao longe um pouco à sua frente fulgurava com força, lutando bravamente contra o vento gélido que cortava o ar com agressividade e balançava os cabelos de Legolas. A carne de um cervo (que provavelmente havia sido caçado na Floresta) estava assando sobre a fogueira, e o cheiro revirava o estômago de Legolas com bruscalidade. E para completar, um ou dois orcs passavam perto e o maltratavam por graça, desde a cuspes nojentos, até chutes maldosos. 

Legolas não poderia se sentir mais humilhado, no entanto não poderia esperar muito de Mormeril, afinal era seu prisioneiro, e agora precisava dar um jeito de seu sacrifício pelo pai não terminar em algo pior do aquela humilhação para o seu povo. Não sabia, mas tinha quase certeza de que estava nas Montanhas Cinzentas, acima da Grande Floresta ao Norte, porém não sabia dizer exatamente onde. Que diferença fazia? Naquelas condições, cercado por orcs, não havia a menor chance de fugir dali. Não sem ajuda!

De repente, sentiu uma energia diferente no ar, uma aura divina se achegando de forma tão suave que, se Legolas estivesse com a mente ocupada com alguma outra coisa, não a teria percebido. Ao olhar para o lado esquerdo, Legolas pulou de susto, pois a imagem de Thranduil apareceu altiva e majestosa. Legolas o encarou assustado, olhou ao redor e percebeu que os orcs não o haviam notado. Aquilo seria mais um sonho? De repente, a voz de Thranduil soou:

- Ninguém pode me ver, porque isso está acontecendo na sua mente - e Legolas o encarou de volta.

- Não sabia que o senhor podia se comunicar à distância - admitiu com o cenho franzido, como se esperasse que ele lhe explicasse como aquilo poderia estar acontecendo.

- Um dia, eu lhe explicarei tudo, mas, por hora, isso é irrelevante. 

- Mas e o senhor, ada? Você estava ferido, eles o levaram de volta ao reino? Está sob os cuidados dos curadeiros? O senhor está se recuperando d...?

Legolas continuaria fazendo mais perguntas, se não tivesse ouvido a aproximação de passos do seu lado direito. Eram dois pequenos orcs discutindo um com o outro alguma coisa em Língua Negra, a qual Legolas não compreendia:

- Dumpub-izg golugúk u gurum! (Eu vou condenar todos os elfos à morte!) - Exclamou o primeiro. 

- Lat? Globûrz! (Você? Tolo!) - Gozou o segundo, socando o braço do primeiro com tanta força, que o orc se desequilibrou e quase caiu. Suas vozes soavam como se houvesse algo nojento preso em suas gargantas.

- Agh lat kul push! Kul-izg hurûrz agh uf! (E você é asqueroso! Eu sou corajoso e assustador!) - Legolas ouviu a imagem de Thranduil segurar uma risada zombeteira. Ele estranhou: seu pai sabia falar a Língua Negra de Sauron?

- Lat gu ufu gothlob Lugbúrz? Ta prakhub u ghâsh! (Você não teme a senhora Lugbúrz? Ela vai atraí-lo para o fogo!)

- Gu ufu-izg Lugbúrz! Ûb ghâsh golug-hai tab. Agh ta kulub... (Não temo a Lugbúrz! Para o fogo vai o povo élfico dele. E ele será...) - o primeiro orc se adiantou em direção ao prisioneiro, enquanto dizia essas palavras. Legolas se encolheu, esperando que fosse agredido pelo orc, porém uma voz forte e autoritária ressoou bem a tempo, e o orc parou ao seu lado.

As Asas do Poder - O Diamante da Morte - Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora