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━━━━━• POV [nome] •━━━━━
Metade do trajeto é feito em silêncio, incrivelmente nem um pouco desconfortável. No início, quando Sanzu praticamente me ameaçou a entrar no carro pensei que poderia me assassinar e abandonar o corpo, mas essa sensação vai passando lentamente se dando conta que o caminho para casa é feito tranquilamente. A janela está aberta, então aproveito para fechar os olhos e respirar. Céus, se quando eu era mais nova falassem que eu sentiria prazer em respirar sem dificuldades eu estaria rindo na cara do sujeito, desacreditada pelo óbvio. Não vejo, mas sinto todas as vezes que Sanzu me olha de canto, me fazendo sentir curiosidade para saber o que pensa de mim. 'In my life dos the Beatles' toca baixo, aquilo, por razões que não consigo pensar, me faz sorrir, ao ponto de esfregar entre os olhos segurando a risada.
- O que foi? - Ele pergunta, servindo como gatilho para o início de minha risada. Quando ele não fala mais nada, viro a cabeça buscando sua expressão, talvez eu o tenha irritado por achar estar sendo motivo de minha graça. Sanzu me encara, com o cenho franzido estranhando minha reação. As bochechas esquentam ao mesmo tempo que a lateral da bochecha dói, devido o sorriso largo.
- Desculpa - Limpo uma de minhas lágrimas. O refrão da música é tocado, me faz se calar prestando atenção, além de levar minha mente a pensar com mais clareza
- Por que não aceitou a bebida? - Questiona chamando atenção de meus olhos mais uma vez. Não tem julgamento algum em seu tom, apena uma curiosidade real. A resposta não é difícil, então danço os dedos sobre o ar fora do carro, enquanto respondo
- Meus irmãos me instruiram a não aceitar bebidas de estranho. Eles diziam desde cedo, que caso eu aceitasse poderia acordar na cama de um desconhecido - Escuto a risadinha nasal do garoto, além de um som grutural semelhante a uma risada rouca. Apoio a lateral da cabeça contra a janela aberta, ainda com a nuca dolorida pela falta de ar mais cedo, até mesmo o músculo de minha boca parecia ter atrofiado. A música troca, agora com 'Last Goodbye de Jeff Buckley' tocando, me fazendo cantarolar baixinho sentindo o peso do sono pousar sobre meus olhos.
- [Nome]? - Ele questiona, me fazendo sussurrar um "sim" com os olhos fechados - Se isso realmente for verdade, então por qual motivo aceitou a bebida no final da insistência?
- Eu não sei...
- Sabe, você não é como eles. Não precisam querer aceitar o que te oferecem, pois isso não te faz ser mais próxima daquilo que eles são, no fim teria apenas uma ressaca - Bate a seta para a direita. Meus olhos se fecham com tanta força que consigo ver pontilhado rosados sobre a escuridão que criei. Como se não fosse o suficiente, Sanzu continua - Eles não gostam de você
- Obrigado pelo aviso, mas não é como se as pessoas não me lembrassem disso todos os dias da vida - Arruma a postura apoiando a parte posterior da cabeça sobre o banco do carro. Mordo a unha do polegar tentando arrancar uma pele que irrita até mesmo visualmente. Com a boca ocupada, falo atrapalhada - As pessoas não gostam de você também. Um país inteiro e mais alguns outros, todos te odeiam ao ponto de desejar sua cabeça como presente de Natal. Você deve ter nascido sendo odiado, então agora, com aproximadamente vinte anos, as coisas permanecem iguais. Não somos diferentes
