Um canadense atrasado, quem diria? Deve ter alma de carioca que é incapaz de ser pontual, ao contrário de mim que sou carioca com alma canadense. Em vez de mandar mensagem para perguntar onde ele está, acendo um cigarro. Colin disse que não é chegado em cheiro de cigarro, mas como não vim ao mundo para agradá-lo e só estou fumando porque ele está atrasado, o problema é dele.
Saí da casa de Alex mal-humorada até o último fio de cabelo recém-pintado de roxo na minha cabeça. Não consigo parar de repetir o que ele disse sobre eu não querer deixar Colin esperando. A cada dia que passa, tenho perdido um pouco mais das minhas esperanças de que a minha amizade com Alex evolua para algo mais. Talvez Julia tenha razão. Sou tão aficcionada com Alex que me enchi de bloqueios com outros caras. É como se eu já partisse do princípio que ninguém é ou será tão bom quanto ele, então nem vale o meu esforço.
Honestamente, acho que Colin nem deve ser tão chato assim.
Eu sei lá, eu não...
– Erika – escuto o meu nome vindo de trás de mim e me viro de costas. Vejo metade do corpo de Colin saindo por trás da porta do restaurante. Ele estava lá dentro esse tempo todo me aguardando?
– Ah, eu estava te esperando aqui fora – digo dando uma última tragada e jogando o cigarro no chão antes de expelir a fumaça. – Você estava aí dentro?
– Sim, cheguei já tem uma meia hora. Eu te mandei mensagem no Facebook dizendo que estaria na mesa.
Droga, deixei o chat do Facebook falso logado, não do meu Facebook pessoal, por isso não vi.
– Eu não vi, foi mal.
Vou até onde ele está com um sorriso ansioso me esperando. O sorriso é dele, não meu. Eu estou sem graça mesmo por ter cometido uma gafe dessa. Bom, ele não parece se importar.
Colin dá um beijo no meu rosto, o que eu não retribuo, e abre a porta para eu entrar no restaurante.
O The Keg tem uma ambientação refinada, piso de madeira, lustres, luz baixa amarela, assentos com estofado preto. É bonito e certamente o lugar perfeito para gente rica. Fazendo menos de 16 dólares por hora, me sinto meio deslocada por aqui
Colin puxa uma cadeira para mim na mesa previamente escolhida por ele e eu quase dispenso a gentileza só por ela não estar vindo de Alex. Preciso apagar Alex da minha cabeça esta noite, senão não vou conseguir provar a mim mesma que Colin é chato mesmo, não uma invenção da minha mente apaixonada.
– Para você – ele pega um buquê de flores que estava em uma cadeira perto da dele e me entrega.
Nunca ninguém me deu flores na vida. Verdade seja dita, não faço ideia de como cuidar delas e acho que é um assassinato às flores. Porém, sorrio e agradeço.
– Você já veio aqui antes? – Colin pergunta, sentando-se em seu assento.
Seus cabelos têm as ondas bem definidas hoje, como se ele tivesse os arrumado de propósito. Colin está com um costume além de uma camisa branca e gravata. Quem estiver nos olhando de fora vai diagnosticar na mesma hora que somos duas pessoas completamente diferentes. Eu com os cabelos recém-pintados, com várias tatuagens pelos braços, uma camiseta branca sem mangas que deixa o meu umbigo de fora e shorts jeans desfiados, e ele todo engomadinho, parecendo o CEO de uma empresa famosa. Se estivéssemos juntos, seríamos o casal mais nada a ver do planeta.
– Eu vim no verão do ano passado, logo que cheguei ao Canadá com a minha família. O meu padrasto nos trouxe aqui – respondo.
– Espero que tenha gostado. É o meu restaurante favorito.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Ao Som da sua Musica - Livro unico
RomanceQuase seis anos atrás, Erika conheceu um amigo virtual enquanto buscava tutoriais de suas músicas favoritas no Youtube e acabou se apaixonando. Ao chegar no Canadá, ela o conheceu pessoalmente por acaso e manteve esse segredo, mesmo ficando amigos...