Capítulo 10

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Ponho o processo pronto para revisão na pilha da esquerda e puxo um novo da pilha da direita. É o segundo que finalizo hoje e não deu nem meio-dia ainda. Acho que depois de três semanas lidando com processos em papel, estou ficando mais rápida. Pretendo finalizar pelo menos mais dois hoje. Assim, ficarei com os bolsos bem gordinhos.

Sim, eu voltei a trabalhar com Colin. Colocando na balança o salário, a experiência, o nome da empresa dele no meu currículo, onde quero chegar profissionalmente e o fato de que ele jurou que não vai me tocar em ambiente de trabalho, eu tomei a decisão de retornar à firma e tem sido bom. Aprendi muita coisa, especialmente com os meus erros. Colin é de uma paciência inacreditável e tem me incentivado a seguir carreira na área de imigração. Por enquanto peguei apenas três tipos de processos em papel e no mês que vem ele quer começar a me ensinar a mexer nos sistemas online de imigração. De acordo com ele, os processos são ainda mais simples quando estão nesse sistema. Já estou me imaginando fazendo seis por dia e botando mais dinheiro no bolso.

Meu celular toca e vejo que é a minha mãe. Pego o aparelho, fico de pé e me viro para Colin.

– Eu vou lá fora atender, okay?

– Pode atender aqui dentro. Acho que lá fora vai ter mais gente ouvindo a sua conversa do que só eu aqui.

– Ah, tudo bem, então. – Sento-me novamente e atendo. – Oi, mãe.

– Oi, Keka! Como andam as coisas por aí? – ela pergunta.

– Está tudo bem, mãe, mas eu estou no trabalho. Podemos conversar na parte da noite?

– Vai ser rapidinho. Prometo. É que de noite eu vou sair com o William.

– Está bem. Fala.

– Você trabalha no McDonald's na parte da manhã agora também?

– Não, mãe. Eu não estou mais no Mc. Estou trabalhando como assistente de um advogado de imigração.

– Nossa, e você não me contou? Quanto tempo tem isso?

– Três semanas. E eu não contei porque não sabia se iria ficar.

– E agora você sabe?

– Sim. No final da semana passada eu pedi as contas no Mc para poder trabalhar exclusivamente aqui. Mãe, sobre o que quer falar? Você sabe que eu não gosto quando me ligam no horário de trabalho.

– Saber eu sei, mas você nunca liga para mim. Parece até que não se mudou comigo do Brasil. Eu gosto de saber as novidades.

– Eu sei, mas como eu disse, eu estava trabalhando mais de 15 horas por dia até a semana passada. Eu não vim tendo muito tempo nem para mim e chegava em casa quase à meia-noite. Fala, por favor, o que você quer falar. Eu preciso voltar a trabalhar e o meu chefe está do meu lado escutando tudo.

– Seu chefe fala português?

Observo Colin de rabo de olho. Ele disse que tem ascendência espanhola, mas nunca contou se sabia falar espanhol. Talvez ele entenda mais ou menos o que estou falando em português caso fale.

O que não vai fazer diferença nenhuma na minha vida.

– Mãe, só fala, por favor. Eu preciso trabalhar.

– Está bem. Você sabe que dia é sexta-feira?

– Que dia do calendário? Sei.

– Não, Keka. Eu quis dizer que é o dia que completamos 1 ano de Canadá.

– Ah. Okay, e daí?

– E daí que o William queria comemorar conosco. Ele quer fazer um jantar especial para a nossa família. E isso, obviamente, inclui você.

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