– Mentira! – Julia exclama no meio da rua. Estamos caminhando até o Aquário de Toronto, onde ela começará o expediente dentro de 30 minutos e onde marquei de encontrar com Alex esta manhã. – Tadinho, Erika. O que aconteceu depois?
– Ele pediu desculpas mais umas duas vezes, disse que isso nunca aconteceu antes, voltou a me beijar, fez sexo oral em mim, depois nós transamos de fato e só – resumo o fim da minha noite de sexta-feira.
– Como assim "só"? Foi bom? Foi ruim? Ele já te ligou para marcar outro encontro?
– Tirando o fato de que ele queria que eu passasse a noite com ele no apartamento dele e deixou bem claro que iria adorar dormir abraçado comigo, o que eu odeio porque não consigo relaxar com nada me apertando, inclusive pessoas, foi bom.
– Bom do tipo "ah, foi maneiro, mas eu poderia viver sem" ou do tipo "Julia, foi boooom, viu?".
Julia quer que eu conte essa história com uma emoção que eu não consigo ter. Não quando não sinto nada por esse cara. Se eu tivesse transado com Alex, aí sim ela ouviria a história mais cheia de emoção do século.
– Foi bom e ponto. Eu cheguei ao final com o sexo oral, o sexo de forma geral é gostoso com ele, mas é só. Ele não me ligou, nem mandou mensagem. Não acho que ele vá ligar, na verdade, depois do que ele disse sobre não me procurar mais caso ele não conseguisse acabar com a impressão horrível que ficou da primeira parte do nosso encontro.
– Depois de te dar flores, um violão, um orgasmo, te oferecer um emprego do jeito que você queria e ainda confessar que queria dormir do seu lado, eu duvido que ele não dê sinal de vida.
– Depois de eu dizer que não dormiria com ele e que precisava ir para casa, negando a carona e companhia para ir até a estação Davisville, eu duvido que ele dê sinal de vida.
– Ai, Erika, sério? Por que você não aceitou a carona?
– Porque a gente mora a uma estação de metrô de distância um do outro, eu não queria que ele soubesse onde eu moro e foi só sexo.
– Para ele não foi. O garoto está apaixonado por você, Erika. Ele deve estar se torturando agora na frente do celular, na dúvida se manda mensagem.
– E isso agora é culpa minha? – questiono, incrédula.
– Não, mas... – ela se interrompe e enquanto a espero voltar a falar, pego os meus óculos escuros para proteger meus olhos do sol nesse dia lindo. Céu azul e limpo, a cidade vibrando com um monte de gente na rua... Está bem bacana o dia hoje. O que estraga é o calor. – Sei lá, Erika. Achei que tendo sido bom, você poderia sair com a cabeça um pouco mais liberta do que você sente pelo Alex.
– Eu já perdi a esperança de que algo tenha essa capacidade. Eu sou doida por ele, Ju. Doida, doida, doida. Eu não demonstro, mas eu entendo totalmente o que a stalker dele fez. Por isso eu tenho ficado cada dia com mais medo de dizer a ele a verdade sobre quem eu sou. E ao mesmo tempo mais medo também de ele sem querer descobrir sozinho.
– Você sabe que não tem como isso terminar bem.
– Não diz isso... – falo, aflita e sentindo um pouco de falta de ar. – Ju, eu não sei o que é não me apaixonar por ele a cada brincadeira que ele faz comigo ou quando ele sorri. São quase seis anos nutrindo um sentimento por ele que não foi embora nem no período em que ficamos sem nos falar. Ou quando eu estava namorando com outros caras. Eu nunca gostei de ninguém como gosto dele, e ele o tempo todo fica no fundo da minha cabeça, não importa o que eu esteja fazendo.
– Por favor, não me diz que você estava pensando no Alex enquanto transava com o Colin.
Puxo da minha bolsa o meu maço de cigarros, pois essa conversa, que era para eu desabafar, está me deixando estressada. Acendo o isqueiro e dou uma tragada para evitar responder a pergunta de Julia, mas ela fica me olhando como se cobrasse uma resposta.
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Ao Som da sua Musica - Livro unico
RomanceQuase seis anos atrás, Erika conheceu um amigo virtual enquanto buscava tutoriais de suas músicas favoritas no Youtube e acabou se apaixonando. Ao chegar no Canadá, ela o conheceu pessoalmente por acaso e manteve esse segredo, mesmo ficando amigos...