Empurro a última mala do quarto para a sala, onde meu pai está conversando com Julia. Agora o lugar onde eu vim morando por mais de um ano não é mais a minha casa. Daqui a pouco a nova colega de apartamento de Julia vai chegar e eu preciso buscar a minha mãe e Gustavo na casa de Edgard para irmos à nossa nova residência.
– Acabou, Keka? – papai me pergunta. Ele parece exausto de me ajudar com a mudança.
– Sim. Quarto vazio. Já podemos ir pegar o resto da mudança.
– Okay. Julia, foi um prazer te conhecer – papai segura a mão de Julia e dá um beijo nela.
Julia fica sem jeito.
– O prazer foi todo meu – ela responde e olha para mim. Aproximo-me para dar um abraço na minha amiga. – Eu vou sentir saudades!
– Eu também, Ju. Não é só porque não vamos mais morar juntas que precisamos sumir da vida uma da outra, né? – digo.
– Eu sei, mas é que o seu college vai voltar logo, então a vida dura vai voltar também.
– Eu vou pegar menos matérias nesse semestre para poder trabalhar mais, então talvez dê tempo de nos vermos nos finais de semana.
– Okay. – Saímos do abraço e ela me dá um sorriso. – Espero que vocês sejam felizes nessa casa nova.
– Eu também. – Papai, ao meu lado, toca no meu ombro. – Vamos, então, pai?
– Vamos. Já estamos três horas atrasados.
É verdade. Desmontar os móveis, embalá-los e levá-los lá para baixo demorou mais do que meu pai e eu imaginávamos. A ideia era pegarmos a minha família às 2 da tarde para dar tempo de remontar tudo e ainda irmos ao mercado. Já são quase 5 e não temos nada pronto.
Com a ajuda do meu pai, empurro todos os meus pertences para o corredor do andar e quando entro no elevador, dando adeus a este prédio, respiro aliviada que nunca mais terei que ver Kevin na minha vida, muito menos brigar com ele por causa do banheiro. Julia continua com esse traste. Aparentemente ela não se tocou do quão babaca ele é apesar do que ele fez comigo meses atrás. Espero que ela veja em algum momento que merece um cara bem melhor do que ele.
Chegando na garagem do prédio, papai e eu colocamos as malas dentro do pequeno caminhão da Uhaul que alugamos e partimos para a rua com as janelas da frente abertas. Quando penso na nossa próxima parada, uma ansiedade monstruosa queima no meu peito e eu abro a bolsa para pegar meus cigarros.
Pego dois. Acendo o primeiro e passo para o meu pai, que está dirigindo. O segundo fica comigo.
Botamos os cigarros na boca ao mesmo tempo e expelimos para a rua basicamente na mesma hora também. Certas coisas copiamos dos nossos pais e nem percebemos.
Papai chegou na terça-feira e vai embora daqui a dois dias. Não estava nos planos dele me visitar nesse verão, mas depois do que aconteceu entre Alex e eu, eu pedi para ele vir me ver. Calhou de ele só conseguir vir nessa semana e sozinho. Tem sido bom. Temos passado bastante tempo juntos e agora podemos contar com uma mãozinha dele na mudança. Não acho que minha mãe tenha comprado muita coisa em um mês e meio para botar no porão de Edgard, então acredito que não vamos ficar nem cinco minutos carregando o caminhão antes de partirmos.
Só que eu queria muito falar com Alex. Já faz mais de quarenta dias que não tenho um sinal de vida dele. Uma mensagem, uma ligação, um vídeo. Nem os tutoriais do YouTube ele tem postado. Honestamente, eu também não tenho tocado e nem cantado. Desde que Alex e eu paramos de nos falar, todas as vezes que eu botei o violão nas minhas pernas para tocar, eu senti vontade de chorar olhando para a nossa tatuagem.
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Ao Som da sua Musica - Livro unico
RomansaQuase seis anos atrás, Erika conheceu um amigo virtual enquanto buscava tutoriais de suas músicas favoritas no Youtube e acabou se apaixonando. Ao chegar no Canadá, ela o conheceu pessoalmente por acaso e manteve esse segredo, mesmo ficando amigos...