Ao Som da sua Musica - Livro unico

Capítulo 5

– Ele é chato – digo, empurrando o carrinho de compras ao lado de Julia. Estamos no Walmart fazendo as compras da semana, aproveitando que hoje nós duas estamos de folga.

– Chato tipo pedante? – Julia questiona.

– Não. Chato tipo... com um papo desinteressante.

– Eu achei que um advogado conversando com alguém que quer trabalhar como paralegal ia ter assuntos em comum para um ser interessante para o outro – Julia pondera e entramos na ala de farmácia do mercado. – Tem certeza de que você está o achando chato porque ele é chato mesmo e não porque você está se bloqueando de conhecer outras pessoas pensando no Alex?

Não tenho certeza. Desde que eu botei o pé no Canadá, eu não tenho olhos para mais ninguém além dele e nem sei se estou disposta a olhar para outra pessoa ou em outra direção.

– Outro dia eu confessei ao Alex como me sinto – conto, caçando os tonalizantes nas prateleiras da ala onde estou.

– E o que ele disse?

– Disse que também me amava e me chamou de fofa.

Encontro o que eu estava procurando e busco alguma cor de tonalizante aqui que eu não tenha usado ainda. Vou pintar os meus cabelos e os de Alex amanhã. Há dois potinhos de tonalizante turquesa e um de tonalizante roxo. Nossos cabelos não são longos, nem curtos. Acho que vou comprar um roxo e pintar os cabelos de ambos com um frasco só.

– Te chamou de fofa? Não te tascou um beijo na boca? – Julia confere.

– Exatamente. Ele não entendeu o que eu disse e eu fiquei tão frustrada que decidi não explicar. Lembra que eu te contei que ele ficou sem falar comigo como KekinhaxD depois que eu disse que o amava uns dois anos atrás? Eu não quero que isso aconteça de novo.

– Difícil. Você acha que ele sabe e está dando uma de cego, fingindo que não sabe que você gosta dele ou acha que ele realmente não entendeu? – Saímos da ala de cosméticos e vamos para as comidas assim que eu coloco o potinho roxo no nosso carrinho. – Porque, numa boa, um "eu te amo" para a gente é algo corriqueiro, mas para canadenses, não.

Julia também veio do Rio, como eu, e chegou aqui três anos antes de mim.

– Eu não sei. Ele tem dificuldade de confiar nas pessoas. Acho que foi um grande passo eu arrancar esse eu te amo dele, porque ele nunca disse isso para mim como Kekinha.

– Você está quebrando a armadura dele aos pouquinhos. Só fico receosa de você viver essa vida dupla com ele e acabar sem ele no final das contas por alguma besteira que fez ou que falou.

– É o meu maior medo também, Ju, mas eu tento prestar atenção e por enquanto eu só cometi um deslize que eu nem sei se foi deslize.

Passando pela ala de doces, pego um monte de besteiras, mais um potão de nutella. Aqui essa porcaria é tão barata. Adoro o Canadá.

– Por que você não me chama para fazer alguma coisa com vocês dois e aí eu fico observando se ele te olha de um jeito diferente quando você não está vendo? – Julia pergunta. – Eu estive com vocês dois no mesmo lugar só duas vezes e foi tão rápido. De repente vale a pena tentar antes de marcar qualquer coisa com o frouxo chato.

– Já marquei de sair com o frouxo chato – rolo os olhos.

– Sério? Por quê?

– Porque além de frouxo e chato, ele é bem insistente. Ele sabe onde eu trabalho e Deus me livre de ele aparecer de novo por lá para tentar algo comigo.

– Ahan – ela afirma, claramente irônica. – Você aceitou sair com ele para fazer ciúmes no Alex. Está na sua cara.

– Talvez... – faço-me de desentendida enquanto ponho mais alimentos no carrinho.