A Arte no Olhar

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Esticando-se para dentro de seu carro, Taehyung alcançou a mochila pequena do outro lado do banco e pegou para entregar ao seu irmão mais novo ao seu lado na calçada contrária a da escola.

- Se comportem, está bem? - ele pediu sério enquanto ajudava o garotinho a colocar a mochila nas costas. - Não quero reclamações sobre você nesse ano, me ouviu, Taejun?

- Sim, Hyung - o garotinho extremamente parecido com ele respondeu com a cabeça baixa. Não gostava de levar broncas, ainda mais quando vinham do mais velho.

- Não seja tão duro - a adolescente ali presente passou a mão na cabeça do irmão mais novo, trazendo o conforto que às vezes lhe faltava -, o último ano foi meio conturbado até para ele.

- Está tudo bem, eu vou me comportar - Taejun negou com a cabeça, bagunçando o cabelo castanho grande e cheio como o do irmão.

- Você tem nove anos, Taejun, é normal que faça besteiras, - Taehyung suspirou cansado, sabia o quanto pegava pesado com seus irmãos, mas ele não sabia como agir de outra forma. Nunca havia precisado ser o chefe da casa por tanto tempo - apenas não exagere na quantidade.

- Você não era tão diferente dele, oppa - Taeyong sorriu, aquele sorriso terno e bonito de sua mãe -, a omma contava muitas histórias de quando você era mais novo.

- Como assim, Taeyong? Você era uma criança quando eu ainda estava no ensino médio - Taehyung franziu o cenho por ter sua autoridade interrompida.

- Não quer dizer que eu não me lembre das histórias.

Era verdade. Kim Minah contava histórias para os filhos dormirem todas as noites sem falta. Mas, diferente do comum, não eram histórias de livros, romances de princesas e heróis, mas sim histórias reais, histórias que Taehyung se lembrava palavra por palavra contadas pela voz sussurrada de sua mãe nas noites silentes.

Decorado em sua memória sabia toda a história de seus pais: a primeira vez que se viram; o primeiro encontro; o primeiro beijo; a primeira reconciliação após a primeira briga... Taehyun se lembrava de todas as histórias sobre o romance deles, e além delas, sabia também da primeira vez que sua tia Sunhe havia fugido de casa; a vez que seu tio Donghee fora pego beijando uma garota comprometida; sabia quem tinha sido o culpado pela janela quebrada entre os três irmãos, e principalmente, Taehyung sabia de suas histórias. Da sua história, de como seus pais decidiram ter o primeiro filho; a história bonita do dia que decidiram seu nome; a noite do seu nascimento beirando ao último dia do ano.

E, além de todas as histórias que tinha ouvido de sua mãe, Taehyung também tinha histórias que havia contado junto com ela como, a vez em que se espatifou no chão aprendendo a andar de skate; sua primeira tentativa falha de colocar o dente debaixo do travesseiro; e até mesmo o dia em que descobrira que teria uma irmã; como havia escolhido o nome dela; um dos dias mais felizes de sua vida que era o nascimento dela.

Isso durou até o dia que as histórias não eram mais contadas. Muito menos vividas.

E Taejun não ouviu histórias o suficiente para lembrar delas.

- Eu vou me atrasar se demorar mais, então entrem - Taehyung mudou de assunto antes que a melancolia o atingisse fundo, e era a última coisa que queria logo no primeiro dia de voltar à rotina acadêmica. - Taeyong, segure a mão do seu irmão.

- Tchau, Hyung - o garotinho acenou já no meio da rua, virando com dificuldade para sorrir para sua cópia mais velha.

Ele sorriu. Os lábios fechados mas que contornavam perfeitamente o sorriso ameno.

Taehyung às vezes se assustava com a semelhança entre ele, seu irmão e seu pai. Os mesmos sorrisos retangulares; os mesmos cabelos castanhos e cheios de volume; os olhos curvilíneos de olhar intenso. Ele via muito de si mesmo no pequeno Taejun, o via rir radiantemente, via o olhar ingênuo iluminado por galáxias, Taehyun o via, e sorria para seu eu do passado. Queria poder dizer que não estava tão cansado de tudo.

You As Art |TAEKOOKMIN| Onde histórias criam vida. Descubra agora