25 - "Ela se foi"

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Nunca mais poderia fitar os olhos mais meigos que eu já havia visto em toda a minha vida, nunca mais iria escutar os melhores conselhos amorosos ou até mesmo um: "Não esqueça o casaco!". Nunca mais irei comer de suas comidas ou a ouvir falar de Jesus. Não verei mais a mulher que eu tanto amei e amarei para sempre.

Como sobreviver a tudo isso?

Eu preciso do consolador.

― Tem algo muito sério que preciso te contar Ellie. ― Hugo me solta e esfrega as mãos no rosto.

― O que mais poderia ser pior do que a morte? ― sussurro enquanto apertava meu peito por cima da camisa jeans, tentando tirar a dor, que fisicamente, meu coração estava projetando. ― Dói tanto, H. Tanto!

Hugo fica em pé e respira fundo antes de começar. Um bipe estrondoso indica que seu celular estava tocando ao som de Hilson.

― Alô? ― diz atendendo no segundo toque. ― Sim, ela acordou...

Enquanto ele guarda o celular eu o observo atentamente. 

― O que foi? ― grito, sem paciência. ― Para com esse suspense! Está me matando...

Caio no chão de joelhos, fraca demais para conseguir me levantar, H rapidamente me pega em seus braços, depositando meu corpo frágil na cama.

― Nunca quis que você passasse por tudo isso. ― segreda-me ele, afagando meus cabelos. ― Se eu pudesse, juro por mim, que tiraria a sua dor. Mas não posso, não tenho poder algum para isso.

Sinto a respiração de H arfar sobre meus cabelos e alguns pingos de lágrimas caem.

― Ellie? ― chama, endireitando sua postura. ― Meu coração também está doendo, mas preciso lhe contar...

Sinto-me tonta.

― Você vai acabar causando-me um  infarto, H! Conte-me logo! ― sibilo, com a respiração cansada.

― Ellie, você surtou tanto com a notícia de sua avó que teve um colapso nervoso e... ― Hugo desvia o seu olhar para a janela. ― O enterro da Vovó Emma foi ontem.

― O que? C... Como assim? ― gaguejo com um novo nó se formando em minha garganta. ― Ela acabou de...

― Você esteve no velório e no enterro de sua avó, só não lembra. Seu cérebro criou um jeito de minimizar sua dor. Você desmaiava a cada trinta minutos e quando acordava não sabia onde estava. Então a trouxemos para o hospital e lhe injetaram um sedativo, e você despertou á poucos minutos atrás...

Estupefata. Triste. Melancólica.

Dentro do meu coração uma dor fina se instalara e todos os piores sentimentos possíveis vieram á tona. Havia em mim uma vontade tremenda de gritar naquele hospital, quebrar todos os aparelhos clínicos e insultar os médicos e enfermeiras...

Meu coração estava sendo esmagado. Nada estaria ao meu alcance nesse momento.

Jesus? É neste momento que...  É nesse momento que peço para toda a dor sumir? Ou até mesmo para que eu desapareça desse mundo de aflição e não veja mais a luz cintilante do sol brilhar?

Mas eu sei que o Senhor é bom o tempo todo mesmo sendo muito difícil de gerar um milagre, eu ainda irei te glorificar. 

― Ellie? ― H deveria estar me chamando á alguns minutos, pois sua afeição aparentava preocupada e algumas gotas de suor correm pela lateral de sua face. ― Ellie, por favor, olha para mim!

― Por que tudo isso? ― digo chorosa, levantando-me do chão sem ter a memória de ter caído nele.

[...] Um mês depois...

― Você precisa sair desse quarto, Ellie! ― Rapha tira a cobertas de cima de mim com certa violência. ― Não aguento mais ver você trancada neste quarto escuro. Olhe para você! Está acabada!

Puxo abruptamente as cobertas cobrindo até minha cabeça. Eu ainda não entendi qual parte do "Eu quero ficar sozinha" Rapha não entendeu.

― Me deixe em paz! ― vocifero, com um mau humor tremendo.

Rapha puxa as cortinas e abre a janela deixando o quarto mais claro e fazendo meus olhos arderem por de baixo das cobertas.

― Um mês. ― meu irmão senta ao meu lado, afundando o colchão. ― Exatamente um mês, Ellie! Você precisa reagir ou entrará em depressão e... Não quero perder mais ninguém , tenho só você agora. Eu sei que está triste, mas você sempre me disse que Jesus traria paz no meio da tempestade, só que eu não vejo você buscando. Não vejo você praticando o que tanto pregou sobre glorificar a Deus nos bons e maus momentos!

Ficamos em silêncio, balbucio um "desculpe-me" quase inaudível, logo antes do meu irmão sair do quarto para encontrar com Louise na sala.

Resolvo levantar. Eu realmente estava acabada e durante exatamente trinta dias eu não orei, nem sequer peguei a bíblia na mão.

Esse vazio estava matando minha alma. Eu precisava de Jesus, precisava sentir o abraço do meu melhor amigo e dizer que sentia muito.

Olho-me no espelho e o reflexo me dá repulsa.


*****

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Meu Céu Mais AzulOnde histórias criam vida. Descubra agora