Capítulo 15

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― O que fazem aqui? ― perguntamos juntos, Hugo e eu.

― Eu moro aqui, H! ― digo exasperada.

― Eu também moro aqui! ― afirma ele.

― Desde quando? ― questiono mal humorada.

― Desde ontem, e esse prédio é do meu pai.

Seus olhos cintilantes, mesmo frustrados, transmitiam humildade. Hugo não havia mudado, apenas amadurecido.

Ingrid me observava com certa insatisfação e repugnância.

― Precisamos ir meu amor. ― sibila Ingrid segurando firme o braço de Hugo. ― Vamos perder o cinema!

Hugo me fitava como se analisasse toda a embaraçosa situação, enquanto Charles não parava de tremer segurando minha mão suada.

A noiva do Hugo o puxa escada a baixo como se ele fosse uma criança de dez anos fugindo do banho. Antes de parar no topo, H me lança um olhar por cima dos ombros retirando o oxigênio das minhas emoções confusas.

Gelei por dentro.

― Vamos Ellie. ― a voz de Charles saiu como um sussurro amedrontado.

Depois de uma longa e reforçada refeição, decido que já estava na hora de ir para ver como Vovó se sentia, deixa-la com Rapha me preocupava.

― Obrigada pela companhia, Charles. Estava tudo ótimo! ― agradeço, tirando o cinto de segurança do carro que estava estacionado em frente a minha casa.

― Agora que ele voltou vai ser tudo diferente, não é? ― Charles comenta mais para si.

Charles Marshall estava temeroso por Hugo, durante o jantar a comunicação estava com um clima bem tenso e enuviado.

Ergo as sobrancelhas tentando lhe dar uma resposta coerente, sem mentiras.

― Por que mudaria?

― Por que eu vi o jeito que você olhou para ele hoje. ― seus olhos estavam turvos, era como se eu pudesse sentir sua dor através deles.

― Charles, ― tentei soar calma. ― sempre terei boas memórias de Hugo porque fomos amigos durante quase dezoito anos, isso que você viu foi afeto. H está prestes a casar em dois meses. ― tentei não transmitir a minha decepção. ― E... Ele está feliz!

― E você Ellie, está feliz?

― Eu tenho Jesus, que é a verdadeira felicidade. Ele que me sustenta e alegra os meus dias. Eu sou feliz.

Marshall não estava convencido. Nem eu mesma havia me convencido, mas estava crendo que tudo isso estava cooperando para o meu bem.


Fazia alguns dias que eu não pegava meu violão para não acordar Vovó, mas estava decidida a louvar a Deus com uma música antiga do Ministério Diante do Trono que fez me apaixonar por Jesus ainda mais.

Tem ciúmes de mim, o Seu amor é como um furação e eu me rendo ao vento de sua misericórdia. ― meus dedos dedilhavam as notas e o som que saia eu entregava a Deus. ― Então de repente não vejo mais minha aflições eu só vejo a glória. Percebo quão maravilhoso Ele é, e o tanto que Ele me quer. Oh, Ele me amou, Oh, Ele me ama, Ele me amou!

O verdadeiro avivamento não vem sobre nós como um sopro ou até mesmo como um calor incomparável, o verdadeiro avivamento é sentido dentro de nós quando observamos a mudança dia após dia.

E dentro dessa mudança o objetivo principal é ser mais parecido com Jesus, é carregar a nossa cruz e exalar o perfume dEle por onde andarmos.

Jesus, naquele dia, deixou-me senti-lo. O que eu vivi jamais poderei explicar ou descrever, porque é algo sobrenatural e isso não entendemos, porque o homem não consegue decifrar a mente do Senhor.

Uma paz inconfundível imperou dentro da minha alma e eu pude sentir o cuidado de Deus com a minha vida. Cada molécula do meu ser queria adorá-lo, exaltá-lo e engrandece-lo pelo que Ele é não pelo que Ele poderia fazer ou me dar.

"Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim." João 14, 6.

― Eu te amo Jesus.

O sol estava radiante, seu calor na temperatura mais agradável em que eu já havia sentido antes e o céu azul com pouquíssimas nuvens, demonstrando a maravilhosa criação de Deus.

Céu azul.

Meu céu mais azul. Quem era o meu céu mais azul?

Meu aparelho celular vibra avisando a chegada de uma nova mensagem:

"Não acredito que você ainda usa o mesmo número!"

Sorrio para o celular. Hugo mal sabia que o mesmo número era por sua causa na esperança que ele entrasse em contato comigo algum dia.

"É só um costume de família."

Meu suspiro saiu pesado, parecia errado estar mantendo essa conversa.

"Perdoe-me pela grosseria daquele dia, não quis ser indelicado com você e seu namorado."

Sento-me na cama da Vovó enquanto penso na resposta plausível para Hugo. Digito e apago no mínimo três vezes antes de mandar:

"Está tudo bem."

Minha coragem não iria expor o que eu realmente estava sentindo naquele momento, é claro que já o perdoei, mas ainda sim me sentia desconcertante.

― Ellie, é impressão minha ou eu vi Hugo entrando no apartamento do lado? ― Raphael estava com uma incredulidade na expressão.

Ri pelo nariz, nervosa.

Meu Céu Mais AzulOnde histórias criam vida. Descubra agora