Meu Céu Mais Azul

Capítulo 8

― Ao contrário de você, estou indo nos cultos com a Vovó e o Pastor disse que precisamos ter intimidade com alguém para ser melhor amigo. ― ele entreabriu os lábios para afirmar algo a mais, porém saiu me dando ás costas.

Um peso recaiu sobre minha consciência, algo sobremaneira afetou meus pensamentos.

Durante essas últimas semanas eu havia me afastado de Jesus, estava longe da pessoa que mais me amou e que me ama. Afastada de quem morreu por mim e morreria se fosse necessário mais mil vezes. Longe eu estava do meu consolador, do meu melhor amigo, do meu Pai.

Isto tinha que acabar!

Jesus não se sacrificou para que eu entrasse em uma depressão relacionada ao abandono de H e me esquecesse Dele. Não!

Eu respiro para adorar a Deus, eu vivo para Ele.

― Tu és meu, e eu sou Teu Jesus! ― Ajoelho-me no tapete felpudo do meu quarto no qual minha avó amava e me derramo aos pés do Senhor. Uma tremenda paz tomou o lugar da mágoa que habitava meu coração, pude sentir a presença do Espirito Santo invadindo cada molécula do meu ser. Era como se estivesse gravado em minha alma: Eu te amo filha!

7 ANOS DEPOIS.

― Rapha, nem pense nisto! ― ligeiramente pego as chaves do carro e procuro minha bolsa.

Raphael senta no sofá bufando.

― Por favor, Ellie. Não vou bater!

― Pronto, achei! ― afirmo, tirando minha bolsa que estava atrás do sofá. ― Não vou te emprestar meu carro, se quiser eu te levo nesse encontro. ― Charles vendeu-me seu Mustang antigo e desde então aquele carro passou a ser um integrante da família.

― Seria um mico! ― rebate ele.

― Shhhh, fale baixo que a Vovó está dormindo.

Guardo a comida que sobrou do almoço e coloco meu sapato apressada.

― Cuide da Vovó, se ela tiver outra crise me ligue, por favor. ― dou-lhe um beijo na testa.― E eu te levo hoje á noite, ok? Deus te abençoe!

Estava trinta minutos atrasada e com certeza meu chefe não estava gostando. Ele nunca gostava de nada, mesmo que alguém chegasse trinta minutos antes.

― Está atrasada Ellie! ― afirmou ele de forma crua e arrogante, como sempre.

― Eu sei me desculpe, minha avó teve uma crise durante o almoço e quase não consegui acalmá-la.

― Ok. Tem um paciente te aguardando para coleta de sangue, use tubos com EDTA.

― Hemograma? ― questiono, colocando meu jaleco branco.

― Sim, mas colete um pouco a mais e introduza em tubo seco, precisamos de soro. ― ele me estende uma requisição médica. ― São muitos exames a serem realizados, tanto de soro, como de plasma e sangue total. Não colete com o êmbolo da seringa sem testar antes.

― Ok, Dr. Harry.

― Ah, temos KTTp...

― Eu sei coletar, Doutor Harry. ― suas palavras estavam me ferindo profundamente, ele não tem uma frequência maior do que dois dias por mês em sua própria clínica, era eu quem tomava conta de todos os procedimentos com pacientes e funcionários, e mesmo assim queria me ensinar?

― Ok. ― seus olhos denunciavam que ele não gostava da minha pessoa, sempre me criticando e humilhando quando conseguia.

Era uma loucura quando víamos o chefe entrar por aquela porta de vidro.

― Ele não tinha nada melhor para fazer em casa? ― sibila Mary, por cima do meu ombro, se referindo á majestosa visita do nosso chefe.

Solto uma risadinha abafada.

Termino de realizar a coleta e encaminho os tubos na grade plástica para o material ser centrifugado.

― Enfermeira Ellie. ― Pyetro se aproxima com uma requisição em mãos, as sobrancelhas arqueadas e um ponto de interrogação estampado em seu rosto. ― Não entendi a letra do médico.

Suspiro profundamente e sorrio para a requisição.

― Colesterol total e frações. ― afirmo.

O meu dia, apesar de alguns problemas naturais, era muito bom. Foi o que Deus me deu para me dar conhecimento e sabedoria a fim de lidar com a doença da Vovó Emma.

― Tenha um ótimo descanso pessoal! ― desejo a todos um bom fim de semana e dirijo até meu apartamento.

Estaciono meu carro na minha vaga, subitamente meu aparelho celular toca. Tento encontra-lo em meio a tantos papéis dentro da minha bolsa.