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― Já chega Ellie! ― sussurro para mim, encarando aquela mulher de aparência magra e feia. ― Você nunca foi assim, e não vai ser agora que você vai se deixar levar pela tristeza. Você é amada por Jesus, filha do Rei dos reis!

Tomo um banho demorado, porque fazia alguns dias que eu não me dava esse luxo.

Pensar em Vovó Emma doía arduamente, porém eu precisava sair do casulo de tristeza e solidão.

Pego meu celular da cômoda.

― Olá, celular. ― ligo-o. Fazia mais de duas semanas que eu estava sem contato algum, a não ser por meu irmão e Louise.

Meu estômago ronca de fome fazendo-o doer.

―Agora sim! ― braveja Rapha, abotoando sua camisa. Era dia de culto. Louise abraça-me apertado. ― Hugo veio aqui mais cedo, como todos os outros dias.

Meu aparelho celular vibra com mais de cem mensagens e entre elas tinha de Mary, Charles, Hugo, de meus colegas de trabalho, de meu chefe e uma sem identificação:

"Sinto muito pelo que aconteceu, Girassol. Espero que esteja bem! Dylan King."

― Oh, ela sabe sorrir!

― Deixe-a em paz, amor. ― defende-me Louise, abraçando as costas de Rapha.

Eu não estava sabendo lidar com minhas emoções ainda, é muito difícil separar tudo.

Rapha e Louise vão para o culto e fico sozinha em casa, observando alguns buquês de flores secas que estavam em cima da bancada, talvez estivessem ali por dias.

olhei para fora e o ar gélido me fez tremer. Pensei em qual seria o propósito de tudo isso, ou, o que Jesus queria nos ensinar.

Assusto-me com batidas na porta, recomponho-me suspirando pesadamente e então a abro.

― Olá!? ― Ele estava diferente, seus cabelos desgrenhados e seu sorriso charmoso.

Talvez eu devesse fechar a porta e mandá-lo embora, porém meu coração é muito idiota.

― Oi. ― digo seca.

― Posso entrar? ― sibila. 

Hugo havia voltado a namorar Ingrid, eu tentei avisá-lo, mas ele não ouviu. O que essa garota tinha de tão especial?

― Claro. ― sento-me no sofá e o deixo vir atrás de mim.

Seus olhos estavam turvos, porém cintilavam como nunca antes. H estava realmente feliz e, por um lado, tentei ficar feliz por ele também.

― Quero minha melhor amiga de volta! ― diz ele, sem olhar para meu rosto. ― Senti sua falta, Ellie.

Pestanejo.

― Hugo, você tem namorada agora. Não precisa de uma melhor amiga! ― digo pesarosa e dramaticamente e então me afasto, sentando do outro lado do sofá.

Eu sei ser dramática.

Ele franzi os lábios e passa a mão no cabelo, noto a imensa aliança dourada na mão direita.

― Venha! Vou te levar para em um lugar...

― Falando sério, H. Você é um homem comprometido, não quero atrapalhar você de forma alguma.

― Não vai atrapalhar e Ingrid não é ciumenta como pensa. ― seu sorriso aparece de novo. ― Vá se arrumar, Ellie!

Depois de quase uma hora estamos no carro de Hugo, escutando um hino da Hilson enquanto a brisa gélida sopra em meu rosto.

― Quando volta trabalhar? ― questiona ele, sem tirar os olhos do trânsito.

Observo a curva dos seus lábios enquanto sua face está de perfil, o leve movimento de sua respiração enquanto o seu peito incha de ar. O modo como seu cabelo cai sobre a testa. Ele não mudou muito desde a adolescência. 

― Ellie? Esta me ouvindo?

― Oh, sim. Desculpe-me. ― meu coração dispara. Espero que ele não tenha notado. ― Estou pensando se irei voltar ainda. Aquele lugar me lembra de Vovó Emma, entrei lá por ela...

― Entendo. Eu tirei férias semana passada e estarei livre para o que você precisar!

― Por que você tem que ser tão legal comigo? ― sorrio.

Chegamos a um lugar com mata fechada, abandonamos o carro e caminhamos por longos trinta minutos até chegar á beira de um rio. O lugar era lindo, as folhas das árvores caiam sobre a terra como se fosse um tapete em 3D, o luar ilumina a face da água calma e serena. Existe um poste logo acima de uma mesa feita de madeira bruta e um banco rústico.

― Eu não conhecia aqui. ― digo, sentando-me no banco gelado. ― É lindo!

Hugo coloca seu moletom sobre meus ombros e senta-se ao meu lado.

― É lindo mesmo! ― ele sorri com som, deixando fluir uma covinha solitária em sua bochecha.

― Como descobriu?

Hugo hesita por um momento e cobre o rosto com as mãos. O barulho da água movida pelo vento enche meus ouvidos de paz, tranquilizando meu coração.

― Eu venho sempre aqui quando tenho que pensar.

― O que aconteceu com o velho coreto? ― balbucio rindo-me.

Eu estava rindo. Sentia meu coração mais leve com essa atitude.

― Me trás más lembranças...

Hugo é uma incógnita.

― Perdão, mas por que más lembranças se vivemos muitos momentos alegres naquele lugar? ― H fica em silêncio e sua testa forma uma ruga. ― Lembra quando juramos de mindinho nunca brigarmos de novo?

H solta uma rizada gostosa.

― Não gosto de lembrar da última vez que estivemos nele. Foi horrível! ― desabafa.

― Mas agora está tudo bem. - mecho no meu cabelo e sinto a macies que estava, o que um bom banho não faz!

― Não, não está tudo bem! ― seu rosto vira freneticamente. ― Eu te magoei Ellie! Me perdoe.

― Tudo bem. Senti muito sua falta! ― dou um tapinha em seu braço. ― Posso te perguntar algo? 

Arranco uma florzinha amarela do chão e começo a tirar suas pétalas.

― Claro!

― Por que você acha que Ingrid é o seu céu mais azul?

É uma pergunta íntima, eu sei, mas sempre tive essa curiosidade e era algo que não fazia sentido. Hugo Perry sempre foi um garoto doce e gentil, por outro lado Ingrid era uma pessoa frustrada e triste. Ela precisava sempre pisar em alguém para se sentir bem. Nenhum dos frutos do Espirito Santo estava nela.

Certa vez ela trancou Meredith Sun do terceiro ano no banheiro, a garota ficou lá por três horas e quando saiu mal conseguia falar!

― Não acho que ela seja o meu Céu mais azul.

― Tudo bem, meu cérebro bugou agora. ― arranco mais uma pétala da florzinha.

― Eu a amo, é claro, ― meu coração se apertou, porém era disso que eu precisava ouvir. A verdade. ― mas acho que um dia ela será meu céu mais azul.

― Entendo. - minha voz sai trêmula.

― Você deve estar gelada. ― sibila, ajeitando o casaco nos meus ombros. ― Me diga você, agora. 

Meu Céu Mais AzulOnde histórias criam vida. Descubra agora