N. A: Voltei com mais Buijrol! Vamos ler o desenrolar do romance desse casalzão. Espero que gostem, votem e opinem! Beijos e boa leitura!
CAPÍTULO I
O mês de novembro no Rio de Janeiro era quente o suficiente para queimar torrada no asfalto. A sensação térmica, então? Ainda pior. Não fosse o bastante, treinavam desde às 15h e a roupa grudava na pele brilhante de suor. O apito de Bernardinho soou, encerrando o treino. Era sexta-feira, o dia mais puxado que tinham. Treinavam na academia, depois em quadra e, no intervalo disso, ouviam o técnico falar das estratégias de jogo e estudavam os times que enfrentariam. O elenco do Rexona Sesc Rio havia sido apresentado um mês atrás para a temporada 2016-17 da superliga A e treinavam muito antes disso todos os dias a fim de entrosar o time.
Carol achava que faltavam alguns ajustes, principalmente por ser pouco acionada nos treinos devido ao passe um pouco desajustado da ponteira holandesa, Anne Buijs. A central sabia que a colega estava melhorando, mas também sabia que ela seria um alvo quando os jogos começassem dali a duas semanas.
As jogadoras seguiram para o vestiário e Carol ouvia o tagarelar incessante de Gabi sobre como Sheilla Castro tinha jogado bem no Vakifbank e como era uma inspiração e blá blá blá. A central apenas acenava com a cabeça, concordando com a ponteira. Roberta, que se juntara a elas, revirava os olhos e chamava Gabi de "gay emocionada".
Ao adentrarem o vestiário, Carol viu o exato momento em que Anne tirava a blusa suada e deixava à mostra o top preto muito justo. Não era muito correto ficar olhando outra pessoa trocar de roupa, certo? Pensando em como parecia constrangedor, a central desviou o olhar. Não se lembrava de nenhuma outra vez onde sentiu o rosto queimar por encontrar uma companheira de time trocando de roupa. Foi só uma blusa, meu Deus!
- Carolana – Gabi estalava os dedos, chamando atenção de Carol, que disfarçou a olhada em Anne. – Vamos? Quero me largar na cama até amanhã.
- Não vou dormir em casa hoje, vou encontrar a Ju – disse, pegando a mochila. – Ela deve passar aqui daqui a pouco, pode ir.
Quando Gabriela foi embora, Carol se apressou em fechar seu armário e sair logo em seguida. Praguejou ao perceber que não tinha se despedido de Anne. Embora elas não conversassem tanto, educação sempre era bem-vinda. Teria se sentido nervosa? Por que?
A central se encostou em um carro estacionado, olhando impaciente para o relógio. Eram sete da noite, ela estava cansada e um pouco faminta. Faltando duas semanas para o início dos jogos, a tensão aumentava nos treinos e Bernadinho tentava corrigir todo tipo de erro que pudesse surgir. Em resumo, estava estressada.
Às sete e quinze, balançava tanto a perna que poderiam dizer que estava dançando. Havia enviado mensagem para sua namorada, Juliana, mas não recebera nenhuma resposta. Ela não costuma atrasar. Tentou pensar em qualquer outra coisa, até olhar o instagram, algo que não fazia com tanta frequência, na esperança do tempo passar mais rápido. Nada. Às sete e meia já havia respondido a todas as mensagens não lidas, e ainda não tinha recebido a mais importante. Dez minutos depois, praguejou de novo, a noite estava esfriando e agora ela se sentia grudenta.
O alarme de destrave do carro soou alto, causando um sobressalto em Carol. A central xingou, afastando-se e encontrando Anne com uma sobrancelha erguida, encarando-a.
- Desculpa? – pediu, mas tentava conter um risinho. – Não vi você.
- Tudo bem! – disse Carol, levemente envergonhada. – Achei que já tivesse ido, fiquei distraída aqui – apressou-se em dizer e teve a sensação de está dizendo nada com nada. Desde quando agia assim?
- Estava conversando com Bernadino – disse a ponteira, com um sotaque forte. – Preciso ajustar algumas coisas.
Carol não soube o que comentar depois disso, deveria concordar? Um breve silêncio se formou. Gabi era quem sempre conversava bastante com Anne, não só pela posição, mas porque a holandesa jogara a temporada anterior com Sheilla. A central desconfiava que o fascínio de Gabi pela oposta brasileira era maior do que apenas profissional.
Anne pigarreou, chamando atenção de Carol e a central se deu conta de que voltara a bloquear a porta do carro alheio.
- Quer uma carona? – ofereceu a holandesa, sem entender como alguém podia ser tão distraída, mas, ainda assim, achando-a engraçada.
- Eu estou... – a brasileira olhou novamente a hora, constatando que esperava por Juliana há uma hora. – Estava esperando alguém. Não se preocupe, vou pegar um uber para casa.
- Faço questão – adiantou-se Anne e, dando a volta rapidamente no carro, abriu a porta do carona para Carol.
A central esperava que a holandesa não conseguisse enxergar como seu rosto estava vermelho. Não sabia dizer por qual motivo estava agindo estranhamente com Anne. Será que era por que tinha encarado descaradamente o corpo da outra algum tempo atrás? Mas ela podia jurar que foi sem querer! Não houve maldade.
- Obrigada – disse, deixando-se ser convencida, e entrando no carro da ponteira. – Está com fome? Conheço um bom restaurante aqui perto.
- Morrendo de fome – a ponteira sorriu e ligou o carro.
O trajeto desde a unidade de treinamento até o restaurante citado por Carol não levava mais que dez minutos de carro, porém, incrivelmente, elas pararam em todos os semáforos possíveis, o que acarretava em mais tempo juntas. Anne havia ligado o rádio e dividia sua atenção no percurso que faziam e nas canções em português que tocava. Carol achava que a ponteira estava tentando aprender o idioma português com muita dedicação e, apesar de vê-la conversando com Gabi, duvidava que saísse muitas outras palavras que não "Sheilla" da boca da ponteira brasileira.
A central observou também que a holandesa dificilmente tirava as duas mãos do volante e sempre verificava se estava no limite de velocidade permitido. Mas só estava reparando no bom senso da ponteira, certo?
Pouco depois elas estacionaram no restaurante La Chica. O ambiente possuía as mesas e assentos de madeira com estofado bege, as luminárias pendiam do teto com cores quentes, tornando o ambiente mais acolhedor. Uma música tocava lenta e baixinho e havia poucas pessoas no local. Anne olhava o máximo que podia, encantada.
- Gostou? – perguntou Carol.
- É muito lindo – respondeu a ponteira, sorrindo. – Você faz o pedido? Acho que não vou entender muito do cardápio.
- Sabe que sou vegana? – questionou a central e ao receber um aceno afirmativo, chamou a garçonete.
A brasileira pediu ravioli de shiitake ao molho pomodoro para as duas e enquanto esperavam, conversavam amenidades. Anne contou que ainda não havia se aventurado na praia, estava tentando se acostumar com o calor. Carol fez uma careta pensando em como a holandesa poderia ficar queimada e aconselhou usar um bom protetor solar a cada quinze minutos.
Também soube que Anne conhecia pouquíssimos lugares, pois além de ser um tanto reservada, não tivera muita disposição após os treinos ou uma parceira disponível. Então, Carol se prontificou de levá-la a outros lugares a partir daquele dia. Quando os pratos chegaram, a holandesa se deleitou ao provar a comida. Na opinião dela, o Brasil tinha muito gosto por diferentes temperos e por utilizá-los juntos de uma vez.
Carol continuou a conversar sobre os pontos turísticos e o que fazia para descansar nos dias de folga. Geralmente assistia a séries, mas gostava muito de ir ao cinema e finalizar o dia numa cafeteria. Para sua surpresa, Anne propôs que fizessem tal programa em outro dia qualquer.
- Você vai querer sobremesa? – perguntou a central. – Eles fazem um mousse de maracujá muito gostoso, de acordo com a Gabi.
- Eu quero o que você for pedir – respondeu a ponteira, esboçando outro sorriso.
A brasileira se sentiu tocada com a cordialidade de Anne e decidiu pedir cookies veganos, que foram muito bem recebidos pela holandesa. Depois disso, Anne insistiu em deixar a central em casa, mesmo que significasse fazer um caminho oposto ao seu. Por fim, decidiu aceitar, havia sido uma noite realmente prazerosa.

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FanficA temporada 2016-17 estava prestes a começar e uma nova jogadora se juntou à equipe do Rexona Sesc Rio. A ponteira holandesa Anne Buijs tentava se adaptar ao país e ao estilo de jogo e iria contar com a amizade e companheirismo da central, Carol. (E...