Amor?

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Marilia Mendonça Point's of View

Goiânia - 15 de abril de 2015

São 4h15 da manhã quando pego o celular ainda com dificuldade pra tentar achar minha chave dentro da minúscula bolsa que eu carregava.
Ao acha-la, tento fazer o menor barulho possível para que minha esposa não acorde. Tentativa essa que foi falha assim que abro a porta e tropeço nos meus próprios pés ao encarar a mulher que estava parada em pé ao lado do sofá com os braços cruzados, me olhando como se pudesse me fuzilar por inteira naquele momento.

- Ma-maraisa? - digo tentando não embolar as palavras e parecer o mais sóbria possível.

- Essa foi a última noite que eu te esperei, Marilia. - diz ela ainda com seu olhar penetrado em mim, porém com seu semblante vazio e distante.

- Amor, do que você tá falando? - falo me aproximando devagar, me apoiando na parede com a intenção de não tropeçar, mas ao chegar perto, ela estende a mão para que eu pare ali mesmo.

- Amor? - me pergunta de forma retórica com um sorriso irônico e cortante nos lábios - Não me chama de amor, sem ao menos conhecer esse sentimento. - agora foi a sua vez de se aproximar e parar a poucos centímetros de mim, a distância era tão curta que eu conseguia sentir o ar quente saindo de suas narinas enquanto ela me olhava parecendo conseguir enxergar a minha alma.

- Amor, por favor, não fala assim. Me perdoa - digo colocando a mão em seu rosto, mas ela a tira bruscamente.

- Eu já disse pra não me chamar assim, caralho. - grita. - São dois anos, Marilia. Dois anos que toda noite você faz questão de esquecer que tem uma mulher dentro de casa. Dois anos que você insiste em viver como uma adolescente rebelde e inconsequente. Dois anos que eu vejo o dia amanhecer esperando você chegar em casa, sem nem saber se você vai realmente chegar. - ela cospe aquelas palavras enquanto aponta seu dedo em meu rosto - Dois anos que eu não sei o que é um carinho seu, Marilia. Dois anos que você não me toca com amor. Dois anos que você me fez desconhecer o amor. - ao terminar, vejo uma lágrima solitária escorrer sobre o seu rosto, mas que ela faz questão de enxuga-la na mesma hora.

- Amor - falo com um fio de voz enquanto ela se afasta, voltando ao seu lugar de início e só agora que eu me dou conta que ao seu lado tinha uma mala, juntamente com uma mochila. - Maraisa, por favor - nesse momento, sinto meus olhos marejados e uma dor imensa preenche o meu peito. - Não faz isso comigo. Não faz isso com a gente - suplico.

- Não foi eu quem fiz isso, Marilia. Você quem fez isso com o que restou de nós. - ela fala voltando com sua expressão vazia e distante, enquanto coloca sua mochila nas costas e segura na alça da mala.

- Por favor, Maraisa. Eu juro que vou mudar, eu vou mudar por você. Só me dá mais uma chance... por favor - falo em um tom desesperado, sentido as lágrimas caírem de forma desesperada sobre o meu rosto.

- Chance. Só mais uma chance - ela repete com um tom debochado, mas logo volta a me fitar de forma séria. - Eu tô cansada de te dar chances, Marilia. Você fez questão de jogar todas elas fora. Eu estou farta desse seu discurso de mudança. A real é que você nunca esteve disposta a mudar por mim. Você nunca quis mudar por mim. Eu que fui burra de acreditar que você me amava o suficiente pra querer permanecer.

- Mas, eu te amo, Maraisa. Você sabe que eu te amo - falo pegando em sua mão enquanto ela me olha com desprezo. - Eu não vou saber viver sem você, amor. eu não sou nada sem você, se você for embora a minha vida tá acabada.

- Você já acabou com sua vida faz tempo - ela me corta. - e eu não vou deixar que você acabe com a minha também. - fala soltando sua mão de mim, e arrastando sua mala até a porta. - Eu apostei tudo que eu tinha em você, Marilia. Eu realmente acreditei em você, mas do que você mesmo acreditava em si. Talvez esse tenha sido meu erro - ela fala com a mão na maçaneta virando pra me olhar, e nesse momento eu já estava caída no chão ao prantos - Eu te amei quando você nem mesmo se amava. Eu achei que seria capaz de amar por dois - deu um sorriso irônico - mas eu não fui. Ninguém é. Eu sinto muito, Marilia, mas eu não consigo mais carregar esse relacionamento sozinha. Eu te amo, eu te amo mais do que um dia eu imaginei amar alguém, mas você não merece o meu amor. Eu te garanto que essa será a última vez que você vai me ver na sua vida, pois eu farei questão de sumir do seu mapa. E, por favor.. não me procure mais. Nunca mais. - diz pausadamente, e essas foram suas últimas palavras antes de passar por aquela porta e o barulho estrondoso dela batendo se fazer presente dentro daquele apartamento.
Nesse momento eu senti como se nada mais ao meu redor tivesse sentido. Ela foi embora. Sim, ela foi embora. O meu mundo me abandonou. Mas, afinal... o que eu posso fazer? quem sempre esquece o aniversário dela sou eu, quem nunca cumpre o que prometeu sou eu também. Eu não tinha o direito de pedi-la pra voltar, sendo eu mesma o motivo da sua partida. Eu magoei a única pessoa que foi capaz de me amar. Foi nesse instante que eu percebi que meus dias cinzas se tornariam muito mais escuros sem Maraisa Pereira ao meu lado. Ela foi o colorido da minha vida, o colorido que eu fiz questão de apagar.

Maraisa Pereira Point's of View

Após sair do apartamento em que eu dividia com Marilia, entrei em meu carro e me permiti chorar. Chorar por saber que nunca amaria alguém como amei e amo Marilia. Chorar por não saber o que eu faria a partir daquele momento, já que não conhecia mais ninguém ali fora ela, e não tinha muito menos onde ficar. Voltar pra casa dos meus pais estava fora de cogitação, não posso retroceder agora. Não tenho outra alternativa a não ser ir pra casa da Maiara em São Paulo. E até que era uma boa opção. Tudo que eu preciso é ir pra o mais longe possível desse lugar, e eu tenho certeza que ter a minha irmã ao meu lado nesse momento vai ser indispensável.
Vou recomeçar novamente a minha vida, e dessa vez será do jeito certo. Marilia Mendonça nunca mais terá notícias minha.

****

Eram 6h quando peguei meu celular para discar o número de Maiara, e já tinham inúmeras mensagens e ligações perdidas de Marilia. Não vi nada, apenas deletei tudo e bloqueie ela de todas as minhas redes sociais e também suas ligações. Eu iria deleta-la da minha vida, começando pelo meu celular.
Liguei pra Maiara e no terceiro toque ela atendeu.

- Maiara? - digo com a voz ainda um pouco embargada, o que não passa despercebido por ela.

- Irmã? O que aconteceu? tá tudo bem? São 6h da manhã, por que diabos você tá me ligando uma hora dessas? - pergunta de maneira sonolenta, mas visivelmente preocupada

- Calma, Maiara. Faz uma pergunta de cada vez.- fiz uma pausa. - Eu terminei tudo com a Marilia, irmã. - antes de continuar eu pude ouvir um sussurro de algo como "caralho" do outro lado da linha. - Agora não tenho mais onde ficar aqui, e te liguei pra avisar que estou a caminho do aeroporto pegar um vôo para São Paulo.

- Puta que pariu - ela diz pausadamente.

- Maiara, será que você consegue falar outra coisa que não sejam palavrões? Que porra. - digo já irritada

- Porra, Maraisa. São 6h da manhã e você me joga uma bomba dessas. Eu não tava preparada.

- Tá, irmã. Que seja. Eu quero saber se tem alguma possibilidade de eu ficar na sua casa, já que ainda não tenho condições de morar sozinha.

- Você ainda pergunta? é óbvio que você pode ficar aqui. Você deve ficar aqui - da ênfase no "deve" - Até porque eu não aceitaria que você viesse pra cá e não ficasse na minha casa. - ela fala como se fosse óbvio.

- Ok, vou pegar o primeiro vôo e acredito que chego aí antes das 9h - falo já ligando o carro pra dar partida - beijo, irmã. vou te avisando qualquer coisa.

- Tá bom, amor. tô te esperando - ela fala em um tom de animação e desliga em seguida. Não nos vemos tem um tempo, e a saudade ja tá apertando. Maiara sempre foi minha maior parceira de vida e companheira pra tudo. Esses anos longe dela foram um tanto quanto difíceis. Mas, agora tudo vai voltar pra o seu devido lugar. Isso vai ser bom pra mim, eu sei que vai.
Não tem ninguém mais indicado pra lhe ajudar a superar uma ex do que Maiara Carla - penso e esboço um sorriso de canto ao lembrar do histórico de relacionamento de Maiara.

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Oi, oi gente!! tudo bem? Essa é a minha primeira fic, então já peço que relevem se tiver algum erro e tenha paciência comigo, prometo que vou procurar melhorar cada vez mais. Espero que gostem dessa proposta de história e que acompanhem essa saga comigo!

Comentem para que eu possa entender o que estão achando, e não deixem de dar a estrelinha. Até o próximo capítulo, amores!!! 🥳

Abandonment Of Incapable || Malila Onde histórias criam vida. Descubra agora