CAPÍTULO 22

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Minerva entrou no quarto de Lily e pegou a maldita boneca que tinha ido buscar. Ela ia saindo quando Pride a barrou. Minerva não queria falar sobre o que viu. Ela não iria dar uma de esposa traída, eles não eram um casal.
"Minerva, eu posso..." Ele começou e ele não queria mesmo ouvir as desculpas dele.
"Pride, me dê licença. Lily e Peter estão me esperando na cidade, tenho de levar essa boneca." Ela disse já sentindo o quão bobo foi a desculpa.
"Minerva, precisamos conversar, eu não queria ter tocado em Livie."
"Isso não me diz respeito. Com licença." Ela pediu licença, mas o empurrou e saiu. Tocar na pele quente do peito dele doeu, ela tinha de sair dali, ela precisava de um lugar para chorar. Por que estava doendo.
Ele segurou o braço dela.
"Minerva, eu errei. Eu toquei em Livie, mas eu não queria, eu queria respeitar o nosso compromisso, mas..."
"Me solta, Pride. Por favor." Ela não olhou no rosto dele, ela olhou pra baixo.
"Ela mexeu com a minha cabeça, Min. Ela me fez pensar que tudo estava na minha cabeça e..."
"Me solta!" Ela deu um safanão mas ele nem pareceu sentir. Minerva estava vendo em primeira mão o quanto ele era forte.
"Você vai me escutar!" Ele a aproximou dele, Minerva se viu presa aquele corpo quente e se desesperou.
"ME SOLTA!" Ela gritou, ele a soltou.
Minerva pegou a boneca e viu que a tinha deixado cair e uma parte da cabeça de porcelana tinha rachado.
Pride a olhou indeciso.
"Eu vou honrar a minha palavra, Min. Vou conversar com Livie, vou falar com o tio V., com a tia Marianne, eles vão me ajudar, eu..."
"Você pode ir pro inferno e pedir ajuda para Satanás em pessoa que não vai adiantar nada, Pride. Fique com ela, vivam com seus filhos. Não foi culpa sua ter se casado comigo, você não sabia. Só me deixe sair daqui."
Ela disse e ele se afastou. Ela entendia Pride. Era muito doloroso ver Livie voltar simplesmente pedindo perdão e ele não ser capaz de rechacá-la. Todo o sofrimento dele foi por culpa dela, ela escolheu deliberadamente fazê-lo sofrer, ainda que ela também tenha sofrido. Pride se apegava a ela na esperança de fazer Livie sofrer um pouco, de fazer Livie se arrepender do que fez, mas não era justo com ela, Minerva.
Ele baixou a cabeça.
"Eu não a quero. Ela está usando o poder,dela, está usando a porra do vínculo, isso me dá tanta raiva!" Ele disse, olhando para Minerva,os olhos tristes, a pose desesperada. Minerva sentiu pena dele. Ele sempre fez a coisa certa. Ele criou os filhos, ele seguiu com a vida, era uma pena.
Minerva virou as costas para ele e saiu. Isso provavelmente foi a coisa mais dolorosa em sua vida, mas ela não podia contra Livie. Ela não podia entrar naquela roda de fogo, ela sairia totalmente queimada.
No jipe, enquanto dirigia e chorava, ela tentou apagar as lembranças da noite anterior, quando Sheer pediu que ela deitasse com ele e Pride também tentou deitar na cama de Sheer, ele caiu, Sheer e Minerva riram, Pride juntou os dois nos braços e os carregou para a cama dele. Ele se ajeitaram, Sheer no meio dos dois, Minerva contou uma história com Sheer e Pride a interrompendo todo o tempo, foi tão divertido! E de manhã, Sheer se levantou de mansinho e Minerva acordou nos braços de Pride.
Minerva via que Sheer queria juntá-los, isso parecia ser o plano dele desde o início, e o plano continuava, mesmo com a volta da mãe dele. Talvez até Sheer estivesse usando Minerva para castigar a mãe que o deixou. 'Não. Não vá por aí, Minerva', ela se disse. Sheer e Lily realmente gostavam dela, Lily a olhava com tanta ternura, Sheer a olhava com carinho. Eles eram tão vítimas nessa história quanto ela.
Minerva chegou a loja de conserto de brinquedos e entregou a boneca de Lily. O senhor de idade, dono da loja, examinou a boneca e balançou a cabeça.
"Vocês disseram que era apenas para consertar uma das mãos. Mas, veja a cabeça está rachada." Ele disse, Minerva olhou para ele e para a rachadura no rostinho da boneca. As lágrimas vieram, pensar que Lily se desapontar ia com ela, por que ela deixou a boneca cair lhe deu tanta tristeza!
"Você não pode, sei lá, trocar a cabeça? Por favor é importante!" Ela suplicou. Ela daria para esse senhor tudo o que ela tinha se ele consertasse a boneca.
"Você é a sobrinha do velho Decker, não é?" Ele perguntou.
"Sim, o senhor o conhecia?" Ele acenou.
"Ele era um bom homem. Muito cabeça dura, você sabe, mas um bom homem. Eu vou fazer o meu melhor." E aquilo a fez derramar mais algumas lágrimas. Ele ia ajudar, isso era bom, Minerva precisava fazer algo bom a Lily, Lily merecia, ela acolheu minerva no coraçãozinho puro dela, coisa que Minerva não merecia.
Ela ligou para Peter, eles estavam na sorveteria, ela se dirigiu para lá e quando parou num sinal alguém jogou um celular, daqueles descartáveis no banco ao lado dela. Foi muito rápido, Minerva teve de seguir o fluxo, ela continuou dirigindo e parou um pouco distante da sorveteria. Foi só ela parar, o telefone tocou. Minerva pensou em jogar o telefone longe, mas não podia, não agora, afinal, ela já tinha contado tudo. Ela não tinha nada para esconder.
"Alô." Ela atendeu.
"Oi, Pam. Vejo que tudo deu certo para você." A voz disse.
"Eu contei tudo. Não vou fazer nada mais, não vou seduzir ninguém, não me ligue."
"Você desistiu? Do seu filho?" Minerva sentiu o peito doer. Ela não tinha desistido, mas não iria fazer mal nenhum a ninguém para vê-lo. E não cederia a chantagem.
"Parece que você encontrou outra família, não é? Outros filhos, um marido. Pride North, estou correto?"
Ela sentiu medo. Ela sentia muito medo desse cara, ele parecia um fantasma, ele a encontrava onde quer que ela fosse.
"Não deu certo." Ela não podia dizer que iria voltar para a livraria, na verdade, conversar com o velho na loja de conserto, lhe deu uma dorzinha no peito. Seu tio amava sua livraria, mas talvez minerva tivesse de vendê-la e ir embora dali, ficar o mais longe possível da Reserva.
"E se eu disser que a família que adotou seu filho não era das melhores?" Ele estava mentindo. Padre Phill não daria o filho dela para um casal qualquer.
"Mentira." Minerva disse.
"Pode ser, pode não ser, como você vai saber?"
Minerva descansou a testa no volante. Era mentira, era mentira! Mas...
"Não deu certo, eu não tenho serventia para você, me deixe em paz!" Ela disse, ele riu.
"Volte para a Reserva e fique lá." Ele desligou.
Minerva não ficaria, ela iria embora, ela venderia a livraria e iria embora, ele não a acharia.
Na sorveteria, Peter a olhou e Minerva viu em seus olhos de diamante que ele se sentia culpado. Ele devia saber que Minerva encontrou Pride e Livie juntos. Ela era irmã dele, ele a ajudaria. Minerva sorriu, conversou o tempo todo com Lily e o ignorou.
"Vamos pra casa? Estou cansada." Ela disse, Lily assentiu. Ela era exatamente como uma criança normal, ela dormia de tarde, dormia cedo, se cansava, só comia um pouco mais que uma criança normal. Minerva sorriu para ela.
Eles entraram no jipe com Lily tagarelando sobre as cortinas, ela estava muito animada. No meio do caminho porém, Lily dormiu. Minerva a ajeitou em seu colo e acariciou o rostinho de boneca dela.
"Ela te chama de mamãe." Peter disse sem se virar. Ele dirigia na frente, Minerva e Lily iam atrás.
"Sim, mas não se preocupe, depois que eu for embora, ela passará a chamar só a sua irmã de mãe." Minerva estava uma pilha de nervos, não ia se explicar para ele.
"Eu não me preocupo com isso. Você tem sido como uma mãe para ela e Livie, mesmo depois de chegar, não. Livie ainda não se achou, ela não sabe como se aproximar deles, ela sente muita culpa." Ele disse.
Minerva pensou que Livie com certeza sabia se aproximar de Pride.
"Eu não concordei com a ida dela para a Inglaterra, mas sendo sincero, se ela tivesse ficado, as coisas poderiam ter sido piores. Livie iria querer terminar seus estudos em algum momento e Pride não iria deixar, ele não iria deixar ela sair das vistas dele, eu e papai iríamos nos intrometer, seria uma merda." Minerva não concordava com isso.
"Pride não faria isso." Ela disse.
"Sério? Porque eu vi os olhos dele quando você e Lily desciam até o jipe. Ele estava até com os punhos fechados."
"Por Lily, então, não por mim." Ele ficou em silêncio.
Minerva todavia viu um pouco de verdade nisso. Todas as vezes que ela saiu, ele ficou desconfortável. Ele não gostou delas saírem. E vivia dizendo num tom imperioso que Minerva não iria embora, ele dizia isso, com se não houvesse a mínima chance de que ela fosse. Antes. Agora, provavelmente ele a levaria até os portões.
"Ele está controlado, mas a sede o acompanha. Eu sinto muito por ele, Pride é bondoso, amável, altruísta. Mas a qualquer minuto pode se tornar violento e sanguinário. Ele quase me matou uma vez. Eu olhei nos olhos dele e não vi ninguém ali. Nada, só a sede."
"Eu olho nos olhos dele e vejo uma pessoa boa, uma pessoa incapaz de magoar alguém, uma pessoa disposta a morrer por aqueles que ama. Você mesmo disse que foi antes." Minerva disse.
"Você é boa para ele, e principalmente é boa para meus sobrinhos. É uma pena toda essa história. Eu amo Livie, eu quase morri por ela, mas ela tem muito que se recuperar. Ela não está bem. Há algo muito diferente nela, algo que me causa arrepios. Eu sei que você quer ir embora, e que também é até meio egoísta te pedir isso, mas fique. Por Sheer e Lily." Ele disse, Minerva se sentiu mal. Ficar seria acatar o que o homem misterioso disse. Ir embora seria deixar Lily e Sheer no meio da incerteza da história dos pais deles. Caso Pride e Livie não dessem certo, ela estaria ali. Mas também significava ver Pride com Livie como ela acabou de ver. Isso machucava.
"Não precisa resolver isso agora, Minerva. Se não for possível ficar na casa de Pride, há a minha casa. Meu pai fez uma casa gigante, há dois quartos de hóspedes. Você seria bem vinda." Minerva balançou a cabeça. Ficar na casa de Peter? Com Alicia às portas de nascer? Ela não ficaria lá, não mesmo.
Ela iria levar o telefone para James, ele poderia procurar esse cara, e ela iria embora. Nada de ficar dando murro em ponta de faca, como seu tio dizia.
Eles voltaram, Peter subiu com Lily nos braços, ela entrou sem olhar para Pride. Peter colocou Lily na cama e se foi, ele a olhou deixando bem claro que ela poderia ficar na casa dele.
Minerva molhou uma toalha e foi limpar Lily do sorvete. Pride entrou no quarto e ficou observando sem dizer nada. Lily não acordou, ela dormia do nada, mas sempre de uma forma pesada, um sono pesado. Era estranho.
Minerva limpou as mãozinhas, o rosto, tirou o vestido dela e a limpou bem. ajeitou a cabeça dela no travesseiro e a cobriu. Lily, como Sheer, sorriu dormindo e ela segurou as lágrimas. Lily não era dela, ela não podia se apegar.
"Eu não pensaria nisso. Eu a sacudiria até ela acordar." Ele disse, minerva se virou para a parede e enxugou o rosto, pois uma lágrima teimosa tinha escapado.
Ela saiu do quarto sem responder. Foi ao dela, parou bem no meio do quarto, indecisa. Talvez devesse ir embora no dia seguinte. Ou não. Sheer iria sofrer menos se não a visse mais. Isso deu forças para ela e Minerva começou a tirar suas roupas do closet.
"Você não vai embora." Ela ouviu ele dizer por trás dela, e o ignorou.
"Minerva, vamos conversar. Eu não vou deixar você ir embora e você não vai." Ele disse.
"Por que ela iria embora?" A voz de Simple foi ouvida da porta. Minerva fechou os olhos. Por que tudo ficou tão difícil tão rapidamente?
"Livie esteve aqui e..." Pride começou explicando, isso a enfureceu.
"Isso não é da sua conta, Simple! Vá embora, você não tem nada a ver com isso!" Ela se virou e o encarou, mas o olhar distante e indiferente não estava lá. Os olhos dele estavam alertas.
"Você a tocou?" Ele perguntou para Pride e Minerva notou Pride parecer encolher ante a autoridade de Simple. Pride quase baixou a cabeça demais quando acenou.
Simple inspirou.
"Vocês conversaram?" Simple perguntou.
"Sim. Ela quer que fiquemos juntos, quer que eu mande Minerva embora, mas eu não vou mandar, eu não vou ceder! Minerva não sai daqui." Minerva ia abrir a boca, mas Simple foi mais rápido.
"Você é um fodido de merda se deixar Minerva ir. Se você fizer isso, esqueça que sou seu irmãozinho. Nunca mais olhe para a minha cara." Ele a surpreendeu, Minerva o olhou ainda com a boca aberta.
"Eu não quero que Minerva vá. Ela não vai sair daqui." Pride disse concordando com Simple.
"Que bom que não são vocês que decidem." Ela disse e ia pegar mais roupas no closet quando ouviu Simple dizer:
"Você não vai sair daqui." Ela olhou para ele.
"Vão me impedir? Me trancar?"
"Faremos o que for preciso. Eu não vou deixar você sair daqui. Eu volto pra casa dos meus pais se você quiser, mas essa é a sua casa. Você fica aqui." Pride disse e o coração dela disparou pela milésima vez. Ele queria cuidar dela, ele a queria por perto. Isso era muito egoísta, uma vez que seria doloroso se ele acabasse voltando com Livie, mas ela não tinha ninguém e ainda havia um cara misterioso lá fora que a amedrontava.
"Vai construir outra pra morar com Livie?" Ela perguntou.
"Você se importa? Por que eu quis te contar o que aconteceu mas você não quis saber." Ele disse.
"Você e ela estavam transando aqui na sala, eu interrompi, não há explicação para isso." Ele suspirou e depois rosnou.
"Guarde suas roupas. Eu vou para a casa dos meus pais." Ele disse e saiu do quarto.
"Simple, o homem que eu contei, alguém jogou um telefone dentro do jipe, foi rápido, eu não vi quem foi. Ele quer que eu fique aqui."
"Até ele? Viu? Você tem de ficar." Ele disse com um sorriso malandro.

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