CAPÍTULO 48

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Violet entrou no quarto de Pride e viu que ele ainda dormia. Ela tocou nos cabelos dele, vermelhos escuros, e o beijou na testa.
"Chame Minerva, ela cuidará dele quando ele acordar." Ligue disse entrando no quarto e tocando o rosto de Pride.
"Sheer está na casa de Enrico?" Ela assentiu. Lily estava com os pais de Livie.
Violet ficou observando Livie tocar nas sobrancelhas de Pride, na boca dele com carinho, com reverência.
"Ele é tão bonito! Todos os seus irmãos são, mas ele é... Lindo!" Ela sorriu.
"Isso não ajudou muito ele. Pride acabou com você o prendendo num mundo de fantasia, tendo sua vida fragmentada entre a dita fantasia e a realidade onde ele estava destinado a ficar sozinho." Violet disse. Ela fechou bem os punhos. Dar um soco bem dado na cara de Livie aliviaria um pouco toda a raiva que Violet sentia de tudo o que Livie tinha feito ao seu irmão.
"Começou de forma inocente. Eu pensei em Pride e eu num café em Paris, e parecia que eu estava lá. Eu devia ter desconfiado, eu nunca estive numa praça em Paris, como minha mente poderia fabricar isso com tanta fidelidade?" Ela disse segurando uma mão de Pride. Violet entendeu que ela queria conversar, então esperou.
"Os sonhos, foram pra me distrair. Eu estava ocupada com a faculdade, eu estava encantada com o meu potencial! Ainda haviam as noites com Lily e Sheer, e depois disso, os sonhos com Pride. Samantha usou isso para ir gradativamente tomando conta da minha mente. Ela tinha todo tempo do mundo, ela me enredou e foi ficando forte. Até que Pride se interessou por Minerva. Só aí é que eu vi, que tudo estava sendo unilateral. Pride estava longe, os sonhos não o atraiam mais. E eu já... Eu já tinha visto Honor. Ele tinha longas conversas com Lily, eu fiquei um bom tempo só o observando, afinal ele poderia perceber." Violet entendia.
Ela já tinha Pride, afinal ele não foi um desafio. Eles compartilharam sexo e Pride decidiu que Livie era dele e pronto. Já o que ela passou com Honor, foram várias conversas, Livie foi aprendendo quem Honor era, foi descobrindo o grande coração que ele tinha.
"Até que um dia eu falei com ele pela boca de Lily e foi... Eu acho que nós dois percebemos de cara o que estava acontecendo, mas era bizarro, impossível, então, ele não pensou nisso, eu fingi que ele não tinha percebido. E todo esse tempo, Samantha estava me drenando. Evan usou o meu sangue, fez as drogas, mas Samantha queria controle, Samantha queria me usar. E eu tentei me fazer de doente. Eu tomava comprimidos e parecia estar viciada nas fantasias, mas eu só vivia para os momentos com Honor. Samantha, porém começou a perceber e então, eu fiz a vovó me encontrar, não foi fácil fazer ela ir do nada na mansão em que eu estava. Evan já tinha o que queria, ele já não tinha utilidade pra mim. Eu fiquei na mansão, tomando remédios para me livrar do vício, mas no fundo eu não precisava deles." Ela disse e Violet então, entendeu por que Livie não teve crises de abstinência. Seria comum algo assim acontecer.
"Como assim?" Violet queria muito entender.
"As fantasias, eram induzidas pelas drogas, mas o meu cérebro acabou resistindo. Meu cérebro é forte, sempre foi. Samantha, porém não percebeu que não estava mais me enrolando, que as drogas não me controlavam mais. Eu tentava expulsá-la da minha mente, mas eu não sabia como. Ela era forte, ela entrava e saía da minha mente a vontade. Quando você me resgatou, eu estava totalmente livre do efeito das drogas, mas ninguém poderia saber. Eu me fingi de fraca, de doente, por que quando eu me rebelei..." Violet franziu as sobrancelhas. Como assim?
"Você disse que ficou refém das drogas. Era mentira?" Violet perguntou. Os olhos de Livie a encararam e ela sorriu. Ela estava diferente.
"Eu fiquei por um bom tempo, mas meu cérebro se adaptou e eu tentei expulsar Samantha da minha mente. Ela matou uma das funcionárias da minha avó que eu mais gostava. Era a mais antiga, a mais querida. E fui eu que fiz isso! Samantha não se importa com ninguém, Vi. Ela matou a minha mãe exatamente por isso, para que eu me culpasse. E também por que minha mãe tinha algumas informações, coisas que ela não sabia que eram importantes, mas era."
Livie se levantou e ficou ante a janela. O lago reluzia lá embaixo.
"Por que me chamou aqui?" Violet perguntou. Toda aquela conversa estava parecendo uma puta justificação. Samantha era a malvadona, Livie, a pobre fêmea indefesa.
"Por que depois de tanto tempo, eu finalmente tenho uma chance. Uma pequena chance, mas uma chance. E eu vou embora, atrás dessa chance. Mas eu preciso que você conte ao Pride, aos meus filhotes, que eu os amo. Que eu não sou essa idiota fracote que todos pensam. E que tomem cuidado com Samantha. Cuidado máximo. E que protejam a filhinha de Hush e Cassie."
Violet se levantou também.
"O quê?" Livie não se virou.
"Você sabia que foi Samantha que fez o clone de Cassie, essa menininha terrível que quase me matou?" Violet balançou a cabeça, ela não sabia.
"Foi. O plano era matar Cassie e depois Albert Turner e ficar com a fortuna dele. E ele foi quem procurou Samantha! Ela sempre ria quando pensava isso." Violet pensou na personalidade de Jewel, no quanto ela era malvadinha. Mas ela era doce e boa quando queria.
"Então, Jewel é uma mistura de Samantha e Cassie?" Violet perguntou.
"Não. Jewel é ela. Albert Turner é uma raposa, a mãe de Cassie não ficava atrás. Cassie não puxou aos dois, mas Jewel sim." Violet pensou nisso.
"Mas isso seria verdade se Jewel fosse irmã de Cassie, não um clone." Livie sorriu.
"Exatamente. Noah e Adam são clones e são o papai. Eles tem a mesma alma do papai, eles até sentem o que ele sente sobre quase tudo. Mas Romulus, não. Romulus é indeciso, hesitante e humilde, papai não é nada disso." Violet pensou em Vengeance fazendo Romulus correr em todas as oportunidades, Romulus não sentia apelo por ser forte.
"Tá, Jewel é ou não é um clone?" Violet perguntou.
"Samantha odeia essa parte. Não, Jewel não é um clone, não como Adam ou Noah. Ela tem todas as marcações genéticas de Cassie, mas não a personalidade dela. Jewel é ela mesma. É como uma loteria, você faz o clone e tem certeza da aparência, do aspecto genético, mas a personalidade pode ser igual a da matriz ou pode ser diferente. Isso não importa muito, uma vez que Darlene frustrou os planos de Samantha. Quando fugiu, Darlene impediu que fizessem com Jewel o que fizeram comigo." Violet acenou. Bells salvou Jewel.
"O que fizeram com você?" Essa era pergunta que explicaria a história toda, Violet sentia isso.
"Há algo dentro da minha cabeça, dentro do meu cérebro, Vi. Um chip, vou chamar assim, mas não é bem isso. Um dispositivo, irrastreável, que permite que Samantha controle a minha mente. Ela queria fazer isso com Jewel, ela está tentando fazer Pride me engravidar e fazer com o bebê que nasceria." Violet arregalou os olhos. Isso era diabólico!
"Samantha quer destruir o povo Nova Espécie, mas não fisicamente. Ela odeia a integridade, a sinceridade, o coração puro, a honestidade, tudo o que fazem os Novas Espécies serem únicos, serem superiores aos humanos. Por que são. Os humanos se destroem todos os dias. Novas Espécies, não. Ela quer corrompê-los. E também lucrar muito com isso."
"Lucrar como?" Violet ainda não conseguia entender, era ódio demais.
"Imagine que você passou toda a sua vida trabalhando juntando uma imensa riqueza, mas que isso tenha consumido a sua saúde, o seu corpo. Você só pode tentar aproveitar o pouco tempo que te resta até morrer, o que significa que talvez você não gaste nem um décimo de tudo o que acumulou. Mas aí, Samantha te oferece a chance de mudar de corpo. De transferir a sua consciência para um corpo Nova Espécie, muito mais resistente, um corpo que inclusive não sabem quanto tempo pode permanecer jovem. Veja Silent. Você sabe quantos anos Silent tem?"
Violet sorriu ao pensar em Silent. Ele era o melhor deles, ele era bom, tão bom que parecia ingênuo. Mas não era ingenuidade, era bondade, era inocência, era pureza.
"Você sabe?" Violet perguntou de volta.
"Mais de setenta. E ele parece ter o quê? Uns vinte? Seu próprio pai, Violet. Ele já passou dos cinquenta, e nem tem rugas, mesmo ficando tanto tempo no sol, sua pele é macia, não é? Seus cabelos são macios, sedosos, viçosos." Ela disse e Violet concordou.
Quando foram libertos, basearam a idade dos Novas Espécies em trinta anos, ainda que uns parecessem mais novos que outros. Seu pai então imaginava que tinha cinquenta e três anos, mas até humanos com essa idade ainda eram considerados jovens devido ao conforto da era moderna e a ciência desses tempos. Mas setenta anos! Era muito para Silent que poderia passar por um macho de vinte anos da segunda geração.
"Então, ela quer dinheiro?" Violet perguntou.
"Sim, mas por que é necessário para o plano andar. Samantha, ela mesma, não tem desejo por dinheiro, ela quer poder."
"E ela já conseguiu fazer isso? Colocar esses... Dispositivos na cabeça de outros Novas Espécies?" Isso seria muito sério.
"Eu não sei. Eu não pude cavar tanto na mente dela, ela tem de estar pensando nisso para eu conseguir pensar também. Mas eu preciso me libertar, e para isso, eu preciso ir embora." Violet segurou na mão dela. Era tudo tão triste! Livie não merecia isso.
"E agora? Você vai tentar tirar essa coisa? Como?" Livie apertou as mãos de Violet.
"Sim. Eu vou embora, eu descobri quem foi que me implantou esse 'chip orgânico'." Ela fez aspas ao dizer o nome da coisa.
"Você disse que estava expulsando Samantha, por que não pode fazer isso?Sua mente é forte, eu presenciei isso em primeira mão." Violet se lembrou dos ratos, do gato e das pessoas correndo atrás dela. E se lembrou do lugar esquisito.
"Você pode levá-la para aquele lugar, onde estão o tio Blue e Mariah. Pode deixar a mente dela presa lá, não pode?" Violet sentiu um arrepio. Ela sentiu muito medo ali.
Livie bufou.
"Isso se essa história fosse uma história sobrenatural. Mas é uma de ficção científica." Elas riram.
"Acha que eu não gostaria de travar uma luta épica com a vadia da Samantha num lugar mental? Eu usaria as águas do lago contra ela, levantaria as pedras do chão e jogaria contra ela ou... O que mais? Algo bem clichê, por favor." Violet riu.
"Você a colocaria dentro de um redemoinho de ar, seus cabelos voariam com o vento, seus olhos brilhariam com uma luz verde." Livie riu.
"É, seria legal, bem pouco original, mais legal." Ela suspirou.
"Mas não é assim. Tudo o que eu faço com ela em minha mente, eu faço comigo. Eu morreria, ela simplesmente fugiria para outra mente. Ela não está em uma só. Ela não habita só a minha mente. Você sabe o que aconteceu com Rebbeca?" Violet balançou a cabeça.
"Rebbeca era uma das mentes em que Samantha tinha controle. Ela foi implantada mais velha, assim como eu. Minha mente sempre foi forte, a de Rebbeca não." Violet se lembrou de Rebbeca entrando em sua casa, nua com seu filhotinho nas costas. Ela era inocente, ainda que muito brava.
"Foi por isso que Rebbeca quase morreu, foi Samantha?" Violet perguntou.
"Foi. Ela conseguiu se libertar causando um curto circuito, eu não sei se foi isso, mas ela 'queimou' o chip. Ela morreria, mas papai dividiu a carga com ela e ela sobreviveu." Violet ficou indignada, ninguém contava nada dessas coisas para ela.
"Meus irmãos sabem dessa história toda?" Ela perguntou.
"Sim, é claro que sabemos! Como poderíamos ajudar se não soubéssemos?" Simple disse entrando no quarto de Pride. Ele se ajoelhou em frente a Pride, tocou no rosto dele com carinho e o beijou na testa. Se havia algo que não poderia se dizer de Simple era que ele não amava Pride.
"Está pronta?" Ele perguntou a Livie.
"Sim. Eu estou."
"Pensei que tinham ido embora." Violet disse. A poucas horas atrás ela tinha beijado esse farsante, lhe desejando uma boa viagem.
"E eu vou. Depois que colocar Livie num avião." Livie acenou.
"Mas eu ainda estou tão confusa! Quando lhe colocaram essa coisa, esse chip orgânico?" Isso era importante, Violet sentia.
"Quando eu voltei para a Inglaterra. Eu não estava bem, tinha perdido muito sangue, as drogas não tiveram tempo certo de agir. Minha avó me levou para uma clínica, uma da confiança dela, e cuidaram de mim lá. Só pode ter sido lá. Samantha não estava presente, eu não sei como ela fez. Acho que ela não está sozinha nessa empreitada e muita coisa ela prefere não saber. Se ela não sabe, não adianta fuçar na mente dela, eu não saberia."
"Isso se chama compartimentar informações. Os aspectos práticos não precisam ser de conhecimento geral. Com isso, ela protege o 'como' e o 'quem' fez essa inserção na sua mente." Simple explicou.
"Mas ela não vai saber que você me contou?" Violet perguntou.
"Não. Se a sugestão de Pride durar mesmo os sete dias, ela não saberá. Eu espero ter ela fora de mim o mais rápido que eu puder. Se tudo der errado, eu me matarei. Não vai acabar com ela, mas acabará com a conexão que eu tenho com Lily e Pride." Violet se levantou e puxou Livie com ela.
"Não! Não faça isso! Pride pode ajudar. Você acabou de dizer que ele sugestionou ela. Você está consciente, ela está sugestionada. Pride pode..."
"Olhe para Pride, Violet. Quando acha que ele vai acordar? Foi uma coisa extraordinária, ele penetrou na mente de Livie e sugestionou a vadia, mas por que Samantha não esperava isso. E todos os danos que a sugestão provoca nele? Não. Temos de lutar de outra forma." Simple disse, mas isso era exatamente o que se poderia esperar dele dizer. Ele fazia o que tinha de fazer. Talvez seria ele que atiraria na cabeça de Livie.
"Mas você não pode se matar, Livie! Não pode, Samantha venceria! Não pode deixar ela vencer! Você é forte, você..." Violet olhou bem nos olhos de Livie e viu que estava falando coisas sem sentido. Havia força ali. Era ela filha do tio Ven no fim das contas. Entre deixar Samantha ferir aqueles que ela amava e morrer, ela escolheria a segunda opção. E se isso não era ser forte, ela não sabia o que era.
"Eu sinto muito por ter te trazido. Acho que sua mãe..."
"Não. Não sinta. Eu convivi com Lily e Sheer, eu até tive o amor de Pride, ele e eu vivemos o que a minha covardia me impediu de viver e eu senti o quanto foi errado eu partir. Seu irmão é um homem incrível, bondoso, maravilhoso. Eu estava tentando lutar me escondendo na fraqueza, acho que uma hora, isso daria errado. E eu... Pude tocar em Honor. Ele..." Ela não terminou. Violet sentiu muito ódio de seu irmão. Ele sim foi o covarde da história. Se bater na cara dele não quebrasse a mão dela, ela lhe daria uma baita bofetada.
"Honor é um bundão. Nada mais que isso. Você quer saber mais alguma coisa, Vi? Simple perguntou.
Milhares delas! Havia tanta coisa para perguntar, tanta coisa para saber! Violet piscou.
"Bom, e Adam e Noah? Eles estão com ela, não é? Ela pode fazer alguma coisa com eles." Violet se lembrou da cara fechada de Adam. Malvado de coração mole, era como Jewel o chamava.
"Eu não posso lutar em todas as frentes, infelizmente. Eu disse a Brass onde eles estão. Assim que eu chegar a Escócia, ele vai atrás deles. Espero que dê tempo de tirá-los de lá." Violet torceu para que tudo desse certo. Tinha que dar! Ela iria rezar todas noites, ela mandaria todas as vibrações positivas que pudesse.
Livie a abraçou.
"Obrigada, Vi. Você foi incrível, você me deu esperança. Todos vocês foram piedosos comigo e me perdoaram de verdade. Eu amo todos vocês, não se esqueça disso." Violet a abraçou de volta. Tudo iria dar certo!
"Certo, Violet. Eu não achei certo Livie te chamar aqui, tudo é muito perigoso, então, tenha cuidado, tá bom?" Violet assentiu.
"Eu tinha de contar para alguém, eu precisava ordenar as minhas idéias, tudo estava rodando pela minha cabeça."
"É eu entendo. Quando éramos uma unidade, Candid, uma vez contou tudo para Jocelyn. Ele disse que ajudou."
"Unidade? Aquela besteira que vocês faziam de trocar de nome?" Violet perguntou e ele sorriu e se virou para Livie:
"Você quer fazer, ou eu faço?"

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