CAPÍTULO 10

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Livie abraçou Vengeance e Marianne  sentindo alívio e que suas forças eram renovadas. Vengeance a soltou, depois a abraçou de novo.
"Minha bonequinha!" Ele estava com dificuldade de soltá-la, ela também não queria largá-lo. Tia Marianne, porém, limpou a garganta.
"Estamos muito felizes por você ter finalmente voltado, mas você tem muitas explicações para dar mocinha!" Até isso fazia Livie sorrir, o jeito professora de sua tia era uma das melhores coisas nela, ainda que ela fosse severa.
"Eu não sei por onde começar, é tanta coisa!"
"Que tal só sentar aqui no meu colo?" Seu pai, Vengeance, se sentou e a puxou para o colo dele. Ela fechou os olhos e inspirou o cheiro dele. Tão bom! Cheiro de amor, cheiro de bondade...
"Você tem cheiro de amor, papai. Cheiro de chuva, cheiro de grama molhada, cheiro de terra úmida, cheiro de saudade..." Ela recitou e o abraçou mais apertado.
Seu pai a afastou.
"Como conhece esses versos?"
"São meus. Eu e Lily os recitamos as vezes." Ele a encarou.
"O que foi, Ven?" Sua tia se sentou ao lado deles e segurou na mão de seu pai.
"Não foi de Lily que eu os ouvi." Seu pai ainda a olhava nos olhos.
"Honor? Ele e eu gostamos de poesia." Ela deu de ombros. Honor. Ela não pensaria em Honor agora, tinha de pensar em Pride. Pensar em Lily, em Sheer.
"Você se comunicava com ele também?" Seu pai era como um cão com um osso, não largava!
"Isso não é importante agora, Ven! Livie, nesse momento, Violet deve ter chegado em casa, deve estar contando tudo para Pride! Eu aposto que ele chega aqui nessa mesma madrugada, então, se explique." Tia Marianne disse e ela estava com a razão.
"Honor nunca disse nada. Eu sei que ele é muito discreto, mas... Você pediu para ele não contar?" Livie ficou pensando sobre o que seu pai disse.
Honor seria o responsável por Violet a trazer de volta, contra a sua vontade?
"Eu nunca conversei com ele como eu mesma. Sempre falei com ele pelos..."
Ela se soltou dos braços de seu pai e arregalou os olhos.
"Como eu fui tão idiota? Lily é só uma criancinha, não poderia fazer versos, conversar sobre poesia!" Ela elevou os braços ao céu.
"Livie! Tudo bem, não importa."
Sua tia a consolou. Mas sim, importava. Honor foi uma âncora para a realidade todos esses anos. Tudo o que ela viveu com Pride foi no mundo dos sonhos, mas suas conversas com Honor...
Vengeance abriu os braços e ela se sentou em seu colo e ele a beijou na testa.
Marianne lhe tocou no rosto, Livie se forçou a esquecer Honor, as poesias, todo o resto e se focar. Ela disse:
"Como acha que Pride vai reagir? Eu estou com tanto medo! Eu não sei como justificar o que eu fiz." Ela olhou para sua tia, seu pai a olhava com tanto amor, carinho e aceitação, mas ela precisava da resolução de sua tia.
"Que tal dizer por que você fez isso para nós? Mas de verdade, bonequinha. O que passou pelo seu coração quando você viu que estava viva, que seus filhotes estavam vivos, que Pride estava ali, pronto para viverem o resto de suas vidas juntos? Me diga, Bonequinha, do início." Seu pai a encarou.
"Nós sabemos muito bem por que ela fez o que fez, Ven, essa não..." Tia Marianne disse, mas Livie entendeu o que seu pai queria.
"Tudo bem, tia Mari. Papai está certo."
Ela se ajeitou nos braços dele, ele lhe beijou de leve nos lábios, lhe deu forças:
"Eu senti medo. Muito medo, muita incerteza. Meus bebês estavam ali e eu só podia pensar que eu não era boa o suficiente. Eu engravidei para livrar Peter! Isso me fez enlaçar minha vida com um homem que por mais que seja lindo, maravilhoso, eu não conhecia. Eu amei Pride desde que o vi, depois que fizemos amor, mas eu senti muito medo dele, ele é tão grande, tão poderoso! Você o viu, papai, ele estava disposto a despedaçar você para me impedir que eu fosse embora. E ele me prenderia, vocês sabem, eu sei. Eu tinha  vivido presa toda a minha vida, eu só estaria passando de uma prisão para outra, isso me assustou. Eu estava abalada, eu vi uma forma de fugir e como a covarde que eu sou, eu fugi."
Sua tia a abraçou. Livie se sentia protegida ali, no colo de seu pai abraçada a sua tia.
"Você não é covarde, querida! Eu estava lá, foi tudo muito traumático, não se culpe por algo que não é sua culpa." Livie bufou.
"Não me isente do que eu fiz, tia. Eu fui covarde e egoísta e eu deixei meus filhos!" Ela suspirou. Tudo era muito doloroso, e o pior é que ela era responsável por tudo.
"Se tirar o que você fez, o que mais sobra? Nessa história, o que mais aconteceu? Sem que você tivesse culpa?" Seu pai perguntou, ela não soube responder. Seu pai fixou o olhar nela.
"Pride compartilhou sexo com você. Você não o forçou, na verdade, ele se aproveitou do fato de que você achava que era James que estava ali. Peter se deixou apanhar, mesmo sabendo que Evan não te faria mal. Ann apoiou Evan. Os leãozinhos te ajudaram. Até Marianne foi ficar com você, me deixando para trás, totalmente insano." Ele olhou para sua tia, ela ergueu o queixo.
"Romulus trocou seus filhotes por Harrison. Grace te encorajou. E por aí vai. Todos tivemos uma parte nessa história, eu deveria ter impedido você de ir embora, mas não impedi. Você errou. Mas quem de nós pode julgar você?" Ele perguntou.
"Lily e Sheer. Eles podem me julgar. Eles não pediram para vir ao mundo, eles só vieram por que eu tomei a pior decisão do mundo ao engravidar para trocar meu bebê por Peter." Seu pai ficou calado.
"Querida, você precisa pedir perdão a eles, nenhum de nós nunca dissemos o contrário. Só que você parece querer continuar fugindo. Parece que você está usando o grande problema como uma desculpa para fugir de novo." Tia Mari disse.
Livie baixou a cabeça. Ela se lembrou daqueles dias, quando foi para Homeland e de quando Pride e ela fizeram amor. Se lembrou de todos os sonhos que compartilhou com ele nesses anos, se lembrou da gravidez, da incerteza, do medo de morrer, do tiro, da dor. Ela foi soltando o corpo, foi soltando sua mente, até que o céu da clareira de Mariah começou a aparecer pelas bordas de sua visão. Era a hora de parar.
"Eu não vou fugir dessa vez, papai. Vou enfrentar o que quer que seja. Eu só peço que fiquem comigo, eu preciso de vocês." Ela abraçou seu pai mais uma vez, ele era tudo o que ela precisava.
Mais tarde, Livie se deitou em sua cama na casa de Kit e suspirou. Pride viria na manhã seguinte com certeza e daí ela iria para a Reserva, ficar com seus filhotes e com ele. Ou não. Tudo era incerto, Livie só podia esperar pelo melhor que pudesse acontecer.
Ela fechou os olhos e procurou Lily. É claro que ela ainda não estava bem, não tinha se livrado do vício de viver na fantasia. Isso ainda era um problema.
Lily estava no quarto de Honor, ele trabalhava e ela estava lendo um daqueles livros feitos a mão que ela adorava. Livie disse:
"Honor?" Ele deixou os papéis que segurava caírem.
"Por que está fazendo isso?" Ele se levantou, seu semblante estava nervoso.
"Eu voltei." Ela disse.
"Eu sei. Vá embora. Deixe a mente de Lily, me deixe em paz." Ele disse se ajoelhando a frente da cama segurando nos braços de Lily.
"Me desculpe, eu sei que isso é muito errado, eu não sei como fazer para Pride me perdoar." Ele a olhou, Livie achava os olhos dele tão claros, tão transparentes! Tão lindos.
"Pride vai te perdoar, você sabe disso. Você esteve nos sonhos dele, você e ele estiveram juntos todo esse tempo. Adeus Livie." Ele virou as costas e saiu do quarto.
Lily fechou os olhos e Livie não conseguiu mais conexão com ela e isso doeu. A primeira rejeição tinha vindo de onde ela menos esperava, de Honor, seu melhor amigo.
Ela fechou os olhos, Pride parecia fora de alcance. Ele teria tomado os comprimidos?

FILHOTES DE VALIANT - PRIDEOnde histórias criam vida. Descubra agora