Minerva bateu na porta, ouviu um 'entre' numa voz rosnada e abriu a porta. A cabana estava numa penumbra mas se podia ver que era um lugar muito agradável.
"Então te mandaram pra cá. Às vezes eu não acredito nesses machos. Eles pedem pra apanhar."
"Apanhar? Como assim? Simple disse que era pra eu vir pra cá por proteção." Ela disse.
"Proteção contra eles, você quer dizer."
Minerva se sentiu confusa. Ela olhou para o pequeno homem que lhe falava, ele estava sentado numa cadeira, bem em frente a uma fonte de luz.
"Eu não estou entendendo. Eu não preciso de proteção contra Simple, ou Vengeance ou..." Eles a acolheram, eles estavam procurando seu filho.
"Ou Pride? Eu os proibi de pisarem aqui, não vai vê-los se estiver aqui." Ele informou.
"É, eu sei. Eu também sinto muito pela sua perda."
Ele sorriu amargo e Minerva não disse mais nada. Ela não conhecia Ann Marshall. Diziam que ela tinha outro nome, Ann Graham, e foi integrante da mais alta classe do país, mas tampouco Minerva a conheceria, pois ela sempre foi pobre. Havia uma foto num porta retrato e assim como era uma linda foto o próprio porta retrato também era. Era de madeira, com entalhes de flores e folhas, muito delicado. Na foto estavam Jewel, com dois imensos laços no cabelo, um Nova Espécie de pele escura e olhos claros, amarelos, muito bonito, um menino forte e idêntico ao Nova Espécie, Minerva sabia o nome dele, era Treasure, ele era amigo de Sheer, Uma mulher negra de compridos cabelos encaracolados,que seria a esposa do Nova Espécie e mãe das crianças, o Nova Espécie pequeno, dono daquela casa e uma outra mulher que deveria ser Ann.
"Ela me obrigou a posar para essa foto. Ela disse que eu tinha de ficar bonito, que já bastava ela para estragar." Ele disse olhando para fora, para a luz.
Minerva estranhou ele saber que ela estava olhando para o porta retrato, mas Novas Espécies faziam essas coisas. Ele não parecia cego, talvez só tivesse os olhos descoloridos.
"Eu sou cego, mas sua respiração mudou e eu sei onde está cada coisa aqui." Ele disse.
"Você lê pensamentos?" Ele riu.
"Isso é para idiotas. Toda a família do idiota do Vengeance tem algum tipo de poder mental. E agora esse poder mental estourou na cara deles. Eu não os invejo. Ainda mais que eu fui o mais atingido."
"Acha mesmo que Livie matou Ann?" Minerva perguntou. Quando soube da morte misteriosa de Ann, Minerva se sensibilizou com a situação, mas quando Simple continuou contando que Livie era suspeita, que ela tinha capacidade de entrar na mente das pessoas e fazer o que quisesse, Minerva teve medo. Livie estaria estável? Haveria algum perigo dela machucar Sheer ou Lily? Ou Pride?
"Eu não acho. Foi ela. Mas Vengeance é ainda um filho da puta muito esperto e aquele filhote dele, o Harrison, ele é especial. Ele vinha muito aqui, sabia?Ann tinha convivido com a mãe dele muito mais que Marianne. Ela contava muitas histórias de Mariah para ele."
Minerva viu Harrison. Segundo Sheer, Harrison era um ano e alguns meses mais velho que ele. O que o deixava com quase sete anos. Ele já era mais alto que Minerva, e forte, como toda criança Nova Espécie.
Minerva se levantou.
"Se vou mesmo ficar aqui, onde vou dormir?" Ela perguntou, o Nova Espécie sorriu. Ele era muito bonito, sua feições eram delicadas, seu rosto perfeito. Ele tinha uma cicatriz que cortava o lado esquerdo de seu rosto, mas em nada isso diminuía a beleza dele. Os cabelos estavam a altura do ombro e eram castanhos, de um tom rico, um marrom brilhante, com alguns reflexos mais claros, devido a luz da janela que o banhava.
"Eu não enxergo na luz, eu preciso da penumbra. Ann conseguia ver bem na claridade, aquela malandra. Agora, eu não quero sair daqui, eu não quero ver. Eu não quero viver. Se o filhote de Vengeance não tivesse arranjado uma alternativa, talvez eu já estivesse morto uma hora dessas."
Minerva se aproximou e tocou no braço dele, ele se moveu até segurar a mão dela.
"Você não é tão pequena quanto eu imaginava." Ele disse.
"Minha estatura é mediana, não sou alta, mas também não sou baixinha."
"Quantos anos você têm?"
"Vinte e quatro." Ela disse, ele bufou.
"É claro." Minerva sorriu, ele fazia a linha rabugento encantador.
"Então, Minerva. Não existe comida grátis. Pra ficar aqui, terei de saber a sua história. Primeiro, me diga qual foi a mentira que te contaram para que você viesse pra cá."
"Espero que não tenha sido mentira. Por que eu já contei tudo pra eles, tudo." Ele sorriu.
"Tudo? Tudo mesmo? Eu não acredito. Falou sobre seu pai?" Ele perguntou, Minerva se surpreendeu. Ninguém sabia disso e não era importante, como ele sabia?
"Viu? Bom, talvez possamos começar por aí." Ele se ajeitou na cadeira, puxou uma manta que estava dobrada no braço da cadeira e se enrolou.
"Frio?" Ele balançou a cabeça negando, mas não disse mais nada.
"Ok. Minha mãe engravidou de um cara qualquer, ela trabalhava numa clínica, era faxineira, começou a sair com um cara de lá e engravidou. Mas tinha sido sexo de despedida, o cara estava se mudando, então até ela descobrir, ele já tinha ido. Meu pai, ou seja, meu outro pai, sempre foi apaixonado por minha mãe, então assim que ela se viu grávida de um cara que sumiu, ela não perdeu tempo, voltou para a cidade dela, o convidou para sair na mesma noite que chegou, eles transaram e uma semana depois ela foi atrás dele dizendo que suas regras não vieram. Ele gostava dela, mas a cidade não era muito grande e a reputação da minha mãe não era muito boa quando ela saiu de lá, e não melhorou com sua volta. Ele hesitou. Ele tinha uma loja, precisava ser bem visto, então, se casaram. Minha mãe rezava pra que eu nascesse o mais tarde que desse, afinal foi menos de um mês entre ela e outro cara transarem e ela e meu pai. Mas eu nasci prematura. Totalmente saudável e com heterocromia! Meu pai surtou. O casamento deles foi só ladeira abaixo, mas por fora, eram um casal modelo. Minha mãe tinha olhos azuis e cabelos loiros, então diziam que eu tinha puxado um tio dela.
O casamento deles ainda durou oito anos. Minha mãe morreu quando eu tinha acabado de completar quatorze anos e estava quase dando à luz. Meu bebê também também nasceu prematuro, com seis meses."
Ele ficou em silêncio. Um silêncio opressor, Minerva sentiu frio. Os olhos descoloridos dele a fitaram, havia algo estranho neles, era como se realmente a vissem, enxergassem cada nuance da alma dela.
"Um bebê prematuro?" Ele perguntou.
"Com quantos meses um bebê é considerado prematuro?" Ele fez outra pergunta.
"O normal são nove meses, minha mãe disse que o hospital queria que eu ficasse lá, para que entrassem em contato com um hospital maior, pois eu nasci de cinco meses e era bem pequenina, mas muito saudável. Já meu bebê, nasceu de seis meses, também saudável. Os cabelinhos dele eram castanhos e ele tinha olhos verdes, intensos, um parecia ser um pouquinho mais escuro que o outro."
"Ele se parecia com você?" Dusky perguntou. Minerva riu.
"Eu não sei direito. Ele tinha uma carinha de rapazinho, tão bonito!" Ela ficou triste...
"Você não tem filhos? Nunca teve?" Ela perguntou. Ela já sabia que não, Simple explicou que ele tinha um companheiro, e que Ann e ele tinham uma relação sem sexo.
Ele sorriu.
"Engraçado você me perguntar isso. Sabia que depois de vinte anos de liberdade os primatas se mostraram os menos férteis?" Minerva se ajeitou. Ela gostava muito de saber as particularidades do mundo deles, era um outro universo.
"A idéia geral é de que vocês se reproduzem facilmente. Veja Valiant." Ela sorriu, ele franziu a boca.
"Jericho teve ajuda do doutor Gabriel para engravidar Elisabeth. Agora eu entendo porque sobraram tão poucos de nós. Nossos filhotes, pelo menos os concebidos naturalmente, são mais humanos. Não seria interessante para eles."
"Eu sinto muito." Minerva disse. Não só por ele, mas por todos, todo o seu povo que foi massacrado, criados como cobaias, sendo privados da liberdade fundamental de que todo todo ser humano anseia durante tanto tempo.
"É, você sente. Esse é o seu dom, e eu sinto muito por isso. Deve ter sido muito difícil quando vendeu as fotos, quando ajudou Noah." Minerva olhou para as mãos. No fim das contas ela não prejudicou ninguém e isso ajudou um pouco, fora que aquele cara a assustava. Mas tudo o que poderia ter acontecido doía muito nela.
Dusky se levantou, ele e ela eram da mesma altura. Ele não seria considerado baixinho demais entre os humanos, mas ali, com a maioria dos homens medindo mais de um metro e noventa, ele era pequeno. Seu corpo era forte, seus músculos eram proporcionais.
"Venha." Ele disse. Minerva o seguiu, ele abriu uma porta e entraram num quarto. Duas camas cobertas por colchas de retalhos tomavam conta de uma parede, um guarda roupa e uma cômoda ficavam noutra.
"Eu só tenho um quarto e não vou cedê-lo. Se quiser dormir naquela cama ali, fique a vontade, se não, pode ficar no sofá. Eu também não perco um capítulo dessa novela, se te incomoda, vá para a sala." Ele disse ligando a tv. Uma abertura de novela, daquelas dubladas estampou a tv, lançando um brilho no quarto. Minerva sorriu, ainda que achou estranho. Ele era ou não cego? E parecia uma novela infantil.
"Você consegue ver?"
"Não. Mas eu posso ouvir. Ann conseguia e Jewel também." Logo um barulho de passos na varanda, da porta sendo aberta e Jewel apareceu na porta do quarto.
"Dindo! Eu quase perdi! Papai demorou pra me trazer." Ela disse pulando na cama e o abraçando.
"Você não disse oi para Minerva." Ele disse, ela se ajeitou nos braços dele e apenas acenou para Minerva.
"Oi, trapaceira." Ela disse.
"Eu entendi errado?" Minerva colocou as mãos na cintura.
"Não, mas não é por mal. Minha Dinda chamava todo mundo assim. Acho que o pior foi Isaac, que era o tarado com calda." Ela riu, Dusky também.
"Eu gostava de garota sem sal." Dusky disse e enxugou uma lágrima no rosto de Jewel. Ela do nada tinha começado a chorar.
"Acha que ela ia gostar de nos ver chorando?" Ele perguntou, Jewel balançou a cabeça.
"Ela era cega, Dindo." Ela sorriu ainda com os olhos cheios de lágrimas.
"E essa é a minha macaquinha!" Ele a abraçou apertado.
Minerva se sentou na outra cama e sorriu. Jewel era uma menininha muito peculiar, isso era certo.
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FILHOTES DE VALIANT - PRIDE
FanfictionPride tinha decidido escolher uma fêmea que pudesse ajudá-lo a criar seus filhotes e a festa de ano novo na Reserva parecia a ocasião perfeita para isso. Só que Livie, a mãe de seus filhotes, que Pride acreditava estar morta não gostou nada dessa hi...