Capítulo 9 - Honey

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Como se pudesse proteger os amigos, Helena se colocou à frente deles.

- Margarida! Sean! Não sei que ideia tinham ao virem para cá, mas escondam-se em algum lugar seguro! Rápido!

- E você acha que ainda existe isso neste castelo? - Sean contestou, olhando em volta.

- Tem certeza de que é seguro eu lutar ao lado de vocês, Sean? Eu ainda posso estar me transformando em um deles... - Margarida, que já estava incomodada com a chaga no pescoço havia algum tempo, levantou esta pauta.

- Não me importa. Eu confio em você.

- Eu não quero contrariar os senhores, mas vampirismo não é uma questão de confiança. Já que tocou no assunto, é melhor que fique aqui com a Margarida. A agitação pode fazer com que o antídoto não funcione - Helena dirigiu-se a Sean.

- Mas, Srta. Lee Rush, eu...!

- Você sabe o que precisa ser feito. Cuide dela e não a deixe sair daqui.

- E você, onde está indo? Ei, espere!!

Helena se distanciou deles e foi correndo em direção aos gritos que ouviu, sem responder nada. Ainda que ela desejasse se apartar dos Lee Rush, seria ruim para todos se o líder deles morresse. Bernard e Vincent não eram autoridades à altura do patriarca da família para guiar todos os outros, ainda que fisicamente fossem mais fortes; uma briga entre eles pela liderança do clã também poderia causar consequências desastrosas.

- Papai! Papai! - Angela tentava erguer o pai, que fora lançado na parede por um vampiro.

- Eu estou bem, minha filha. Eu estou bem - respondia o velho Karl, erguendo-se lenta, porém muito furiosamente.

Antes que qualquer um deles pudesse se manifestar, Helena correu na direção do vampiro que atacou Karl e, pulando em suas costas, conseguiu acessar a garganta do monstro, cortando-a. O monstro se sacudiu e a fez cair no chão, mas este ato de coragem dela permitiu que um dos mercenários contratados pela família terminasse de cortar a cabeça do vampiro com um machado. Angela concluiu o serviço enfiando uma tocha na boca do vampiro morto.

- Helena...Não deveria ter vindo aqui, se estava ferida! - disse a filha de Karl, com um certo despeito por heroicamente a prima não estar morta, considerando as condições em que foi abandonada. Na verdade, seu comentário aleatório e fora de contexto escondia justamente isso: vergonha.

Em vez de esperar qualquer agradecimento, Helena pretendia dar as costas a todos, mas um chamado do primo Bernard a deteve:

- Junte-se a nós, minha prima. Suas habilidades são e sempre serão úteis a todos nós.

Ela ficou sem palavras. Dezesseis anos de convivência a separavam da sua decisão de ir embora, e aquele elogio, naquela situação, era como um reconhecimento há muito tempo esperado. Porém, esse reconhecimento não vinha de quem ela mais esperava: o líder da família. Não queiram saber como funciona a mente humana. Agredida e afagada pelo tio em iguais medidas, Helena sentia ao mesmo tempo a revolta pela convivência com um monstro e a indócil necessidade de obter o reconhecimento do mestre que a acolheu; esses sentimentos simultâneos, confusos e opostos na maior parte do tempo eram ofuscados pelo calor das batalhas, pela urgência da união, pela necessidade vital de não romper com a família. Em meio a um tumulto tão grande, dar-se ao luxo de se importar com os próprios sentimentos era uma heresia. Pode-se arriscar a dizer até mesmo que era um espanto Helena ter alguma opinião, tão decidida e inquestionada era sua submissão. Por isso, quando Karl acenou com a mão e disse "venha", ela simplesmente foi até ele.

Vampires will never hurt youOnde histórias criam vida. Descubra agora