Após caminhar por várias horas, Helena conseguiu voltar para casa. Por todo o trajeto, ficou rememorando, perturbada, a grande sorte que teve, e o argumento que o meio vampiro deu para poupá-la, quando ela perguntou se ele iria matá-la:
- Eu prometi a mim mesmo que jamais te machucaria.
Para ela, aquilo não fazia nenhum sentido. Tudo o que ela teve vontade de fazer, fez: rir. Mas seu humor logo se converteu em irritação quando ela distorceu mais uma vez na cabeça tudo o que tinha escutado. Viu-se, num primeiro momento, subestimada. Em seguida, creditou a frase a alguma paixão instantânea, pueril e vulgar. Coisa de crianças iniciando a puberdade. Pegou-se enojada e com raiva. Richard levara meses para falar com ela, enquanto aquele pretensioso, em menos de doze horas após conhecê-la, prometia dispensá-la da morte. Que atrevimento!
Aquele dia não tinha sido generoso para a caçadora. Apanhada pela sua família, fora imediatamente castigada pela fuga do vampiro, em boa parte por influência da versão dada por Angela. Mais do que nunca, ela tinha a missão de trazê-lo para casa, pois o ultimato era de que só poderia voltar para dormir se o arrastasse consigo.
(...)
- Você demorou, Arthur - disse ao meio vampiro um de seus semelhantes, igualmente pálido. Parecia indiferente às graves feridas que o jovem tinha pelo corpo.
- Por onde estiveste? - questionou uma de suas irmãs.
- Estive pesquisando sobre os caçadores de vampiros desta cidade, conforme o pedido de Vince, o atual líder de nosso clã.
Os demais ao redor dele riram. Estavam em cerca de onze, doze criaturas. Todos, homens e mulheres, aparentavam ser mais velhos do que Arthur, e provavelmente o eram, e muito. Havia somente duas mulheres; o restante dos parasitas eram do sexo masculino.
- Ele levou a sério nossas exigências de tratarmos hierarquicamente uns aos outros - comentou uma das mulheres, agitando o leque.
Arthur ignorou seu tom hostil e prosseguiu:
- Me deixei capturar, conforme o solicitado. Descobri algumas coisas.
- Conte-nos - exigiu o tal Vince, sentado em uma cadeira ornamentada que lembrava o trono de um rei.
- São poucos...um número bem reduzido. Havia um velho, dois varões e duas mulheres jovens.
- Como membro mais novo de nossa família, é importante que tu saibas de algo, Arthur. Em alguns momentos, é verdade que entraremos em conflito com os caçadores. Porém, como somos poucos, é mais prudente atacá-los primeiro. E a forma mais segura de fazer isso é atraí-los para a noite, a não ser que você mesmo, o único capaz disso, decida atacá-los de dia...
- Eles não parecem informados a respeito de quantos somos. De qualquer maneira, poucos são os que se prontificam a nos combater. Fiquei sabendo de duas famílias: o clã Martinelli e a quase extinta família Lee Rush.
- Você parece bem informado.
- Obviamente. Fui capturado por estes últimos. Dos Martinellis, ouvi dizer que são donos de grandes propriedades de terra, imóveis variados, hotéis, espaços para locação e coisas do gênero. Mas tudo isso, na verdade, serve para mascarar sua renda principal: o tráfico de vampiros para colecionadores.
- Isso deve justificar por que nossos amigos estão diminuindo em número – observou o atual líder do clã.
- Os Lee Rush, que me capturaram, também entraram para o segmento de tráfico de vampiros vivos. Estive entre ser vendido a um colecionador que iria me empalhar e um circo que pretenda me expor ao seu público.
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Vampires will never hurt you
VampireHelena é sobrinha dos Lee Rush, uma tradicional família de caçadores de vampiros da Inglaterra vitoriana. Com apenas 16 anos, assume uma inusitada responsabilidade: servir como isca sedutora para monstros ávidos de luxúria e sangue. Por trás de tão...