Capítulo 1 - Helena

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Você não precisa matar para ser um assassino, nem ter noção do que estão fazendo ao seu redor para sentir culpa dos erros que acontecem por sua causa. Você sabia? Quando a dor e o remorso atacam o que ainda lhe resta de consciência, basta fingir que não conheceu outra opção. Assim, não há sentido em buscar qualquer mudança...basta acreditar que não saberia fazer outra coisa na vida.

Se você é capaz de aniquilar os seus inimigos, é absolutamente natural que tenha que lidar, vez por outra, com a morte de um dos seus amados...mas uma coisa ser comum, não quer dizer que você tenha o poder de se acostumar com ela.

(...)

- 4 de julho de 1871...Este será um dia memorável para todas nós. Sim! Este será o nosso último dia...

- O dia em que finalmente abandonaremos a matéria e alcançaremos o nosso objetivo: a eternidade...

- Helena? O que há com ela, Nanette?

- Não faço a menor ideia, Marton.

Richard, meu amado...Se você pudesse voltar, como nos sonhos...!

- Helena! Estamos falando com você!

- Combinamos de morrer todas juntas hoje, esqueceu-se?

- Morrer não! Abandonar a matéria!

- HELENA!!

O susto me fez largar o retrato de Richard, que eu segurava, no chão.

- Ah, não! O retrato de Richard...!

- Oh! Sabes que a culpa não foi minha - desculpou-se Marton - Eu estava apenas tentando chamar sua atenção, visto que te achavas tão distraída apreciando o retrato de nosso amado Richard...

- Não acho que estejas melhorando as coisas ao supor que Richard pertence a todas nós - acusou Nanette.

- Nanette, por que o falso moralismo? Richard é o que traz beleza para nossas vidas na clausura deste colégio para moças! Além disso, Helena já disse que, quando nosso suicídio for executado com sucesso, ela será a esposa de Richard e, nós, as concubinas...

- Não me lembro de ter dito algo semelhante a isto em momento algum - retruquei.

- Sim, tenho certeza de que disseste isso quando apresentei a você a garrafa de conhaque que meu pai me mandou entregar ao reverendo.

- Já que tocou no assunto, traga a garrafa para cá. Sei que ela ainda estava pela metade! Foi a última coisa que vi antes de ser carregada para a minha cama na noite passada.

- E eu ainda ia oferecer...

- Helena! Marton! Esqueci de dizer! Eu também trouxe algo terrível para animar a nossa noite!

- Desistiu de morrer por hoje? - perguntei.

- Obviamente que sim.

- Que coisa terrível trouxeste contigo? Ópio?

- Ora, não me ofenda! Onde conseguiria semelhante coisa? Não se trata disso. Trouxe um dos livros proibidos da sala secreta da biblioteca.

- Uau! Agora, saberemos mais do que as cortesãs! O que espera que façamos com isto?

- Comecemos a ler?

- Não creio!

Richard...já faz seis meses, não? Como o tempo passa! Como você está? Eu espero que bem. Por pior que seja estar sentindo sua falta, tenho conseguido sobreviver. No começo, eu tinha sonhos onde você voltava para os meus braços, mas já acordei por vezes suficientes para ter certeza de que tudo isso é fruto dos meus desejos que não irão mais se realizar.

Vampires will never hurt youOnde histórias criam vida. Descubra agora