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Laboratorio nacional de Hawkins

8 de julho de 1979 - dois meses antes do ataque


Corri o mais rápido que pude, mas eles eram mais rápidos. Mal conseguia respirar e as minhas pernas doíam, mas não desisti. Mas eles não me deixariam fugir. Eu era demasiado importante e demasiado poderosa e eles temiam os meus poderes. E quando me agarraram tentei mata-los, mas já tinham injetado um líquido no meu sangue que me fez desmaiar. 

Quando acordei estava na sala branca. Sabia o que me esperava. Eles não gostavam quando não seguíamos as ordens e em casos como o meu a punição não seria leve. Sabia que eles me iriam magoar. Queriam mostrar o quão poderosos eles eram. O pior era o pai. Eu não era ingénua para não perceber que o que ele fazia não era certo, mas parecia que era a única a pensar dessa maneira. Todos os outros o veneravam e queriam mostrar que eram bons para ele. Eu já tinha sido como eles. Aprendi desde muito nova a respeitar as regras e a ser a melhor em tudo, mas quando sofri pela primeira vez por desobedecer as regras percebi que não valia a pena. 

Quando o pai entrou no quarto não olhei diretamente para ele. Olhei em volta, mas as luzes fortes magoavam os meus olhos, então fechei-os.

- Sabes que eu não queria fazer isto. Tu é que me obrigaste. - disse o pai

Ignorei o que ele disse e sentei-me no chão á espera do seu castigo. Ele colocou em volta do meu pescoço uma coleira que dava choques que podiam ser leves ou podiam matar. Dependia do castigo. O pai, ou o cientista que comandava as experiências, segurava num comando onde podia escolher a intensidade do meu castigo. E eu sabia que não seria um castigo leve. 

Comecei por sentir uma dor leve, mas quanto mais tempo eu passava sem mostrar sinais de dor, mais ele aumentava a intensidade.  

Tentei ser forte e mostrar que a sua tortura não me faria mudar de ideia, mas passado algum tempo as dores eram tão fortes que não aguentei. As lágrimas que aguentava caíram e enquanto me contorcia, gritava para que ele parasse. 

Depois da sua tortura ele saiu sem olhar para mim. Não se importava em saber se sobreviveria. O meu corpo doía e sempre que respirava pensava que seria a última vez que o faria. Mas o castigo só tinha começado. 

Duas enfermeiras entraram no quarto e seguraram-me pelos braços. Gritei de dor, mas elas não se importaram. Carregaram-me até á sala arco-íris onde todos que passavam pelo mesmo experimento que eu, passavam o seu tempo livre. Eles deixaram de prestar atenção ao que faziam e direcionaram os seus olhos para mim e o único som que se ouvia eram os meus gemidos de dor. 

As enfermeiras sentaram-me numa das cadeiras e usaram-me como exemplo do que aconteceria caso eles tentassem fugir. Se todos vissem o que me aconteceu quando tentei fugir nunca tentariam fazer o mesmo.

Durante quinze minutos não se ouviu ninguém dizer nada. As crianças mais novas tentaram voltar para as suas atividades, mas os mais velhos apenas se sentaram e observaram-me. 

Quando chegou a hora de ir dormir o pai e o seu ajudante entraram na sala. Só quando todas as crianças já estavam nos seus quartos o seu ajudante levantou-me e levou-me até á enfermaria. Dessa maneira nenhuma das crianças saberia o que me iria acontecer. 

O ajudante do pai era novo. Não mais de vinte e cinco anos e sabia de tudo que acontecia com as pessoas que aqui passavam. Já estava cá quando eu cheguei, mas nunca falei com ele, mesmo que tivéssemos quase a mesma idade. 

Antes que alguém chegasse percebi que ele queria dizer alguma coisa, mas não tinha a certeza se podia. Parecia nervoso e enquanto passava as mãos pelo seu cabelo olhava pela sala e procurava por alguma coisa.

Passado pouco tempo sentou-se na cama onde eu estava e agarrou-me no pulso, passando os seus dedos pelo lugar onde deveria estar um número.

- Sabes porque é que ele não te deu o número um? - perguntou

Eu tinha sido a primeira a chegar ao laboratório, mas nunca me deram um número. Ao segundo rapaz que chegou foi dado o número dois e assim por diante, mas eu fui deixada sem identificação. Todos eram chamados pelo seu número, mas quando se queriam referir a mim chamavam-me de "A". Sempre houveram rumores sobre o número 001, mas todos sabíamos que eram só rumores e que seria impossível haver mais alguma pessoa dentro do experimento que nós não conhecêssemos.

- Não poderiam repetir o mesmo número. Seria impossível.

Sorri como se quisesse rir e ele percebeu. Levantou-se cuidadosamente da sua cadeira e colocou a mão no seu braço. Quando puxou a manga do seu uniforme revelou a tatuagem com o número 001.

Não acreditei que fosse verdadeira. Não podia ser. Mas quando olhei para os seus olhos percebi que não mentia. Ele olhava atentamente para a minha cara, esperando por uma reação e eu arregalei os olhos e esforcei-me ao máximo para levantar o braço e tocar no seu pulso. Quando senti a sua pele fria o meu corpo arrepiou-se. Passei os dedos pela sua tatuagem e voltei a olhar para ele. Era verdadeira.

- Não entendo. - disse-lhe e ele sorriu

- Não te preocupes. Por enquanto não precisas de entender nada. Basta apenas confiares em mim.

Antes que pudesse dizer alguma coisa ouvimos passos pelo corredor. Ele afastou-se de mim e foi embora deixando-me confusa e com duvidas sobre tudo que eu sabia sobre as experiências do pai.

Let me go | 001Onde histórias criam vida. Descubra agora