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A El ficou para trás. Não sei onde nos perdemos, mas não a conseguia encontrar de maneira nenhuma.
Estava com medo de que ela tivesse sido encontrada por alguém, mas estava ainda com mais medo de ser encontrada pelas mesmas pessoas, então corri até a sala arco-íris.
Antes de abrir a porta consegui ouvir um grito, mas só tive coragem de entrar quando não ouvi mais ninguém.

- Peter! - tentei gritar, mas saiu como um sussurro

Ele olhou para mim, sem mostrar nenhuma reação.

- Eu disse para esperares.

Olhei em volta e o meu coração começou a bater mais rápido. Estavam todos mortos. As únicas pessoas que eram a minha família. Os únicos que passaram pelo mesmo que eu.

Sangue estava espalhado por toda a sala e por mais que não quisesse, era impossível não notar.

O Peter caminhou até mim lentamente e eu podia ouvir os seus passos pisando o sangue.
Tentei respirar normalmente e controlar as lágrimas que escorriam pela minha cara, mas era impossível.

- Porque choras por eles, A? - perguntou e passou a mão pela minha cara, fazendo-me olhar para ele

Os seus olhos azuis estavam mais brilhantes do que o normal. Ele não sentia qualquer arrependimento.

- Eu sei como é ser diferente.

Virei a cara para não olhar para os seus olhos, mas ele agarrou-me e não me deixou desviar o olhar durante nenhum segundo.

- Como é estar sozinho neste mundo.

A sua mão soltou o meu braço e eu afastei-me dele, com nojo, ódio.

- segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses, anos, décadas! Cada vida uma cópia da anterior! Acordar, comer, trabalhar, dormir, reproduzir e morrer!

Corri para a porta, mas estava trancada. Por mais que gritasse, chorasse e implorasse, não havia maneira de fugir.

- Deixa-me ir embora! - gritei. - Não quero participar da tua vingança! És louco!

Ele atirou-me contra a parede e o seu nariz sangrava, assim como a minha cabeça.
Ele não parecia sequer arrependido e eu também não esperava que ele o fizesse.

Levei a minha mão a cabeça e olhei-o em choque. Ele sorria, como se tivesse ganho um jogo.

- Não queiras tentar ganhar o que já está perdido. Admite, não há maneira de me impedir. Não há ninguém mais poderoso que eu! Admite!

Fechei os olhos com força, esperando que fosse um sonho, mas era tudo real. A minha cabeça ainda sangrava, todos estavam mortos e eu também estaria.

O Peter baixou-se, passando a mão pela minha cabeça.
O meu corpo estava encolhido num canto, enquanto ele se divertia com o meu medo. Dava-lhe prazer ver o sofrimento dos outros.

- Não faças isso, por favor. - sussurrei

Ele sorriu, mas não amigavelmente. Ele gostava de ver os outros implorarem.

- E onde estaria a graça nisso?

Antes que pudesse responder a porta foi arrombada.
Ambos olhámos, admirados com o ato e a El passou pela porta. Tinha um ar confiante, mas estava com tento medo quanto eu.

- El, não te queiras envolver nisto. Não há nada que possas fazer. - disse o Peter.

Ela sorriu e o Peter enervou-se. Sentiu-se inferior.

- Juntem-se a mim. As duas. - pediu

Os seus olhos caíram em mim, esperando por uma resposta enquanto a El se aproximou delicadamente, passando despercebida por ele.

- Podias fugir. Eu prometi que fugíamos os dois. É essa a minha proposta. - disse e esticou a mão, ajudando-me a levantar-me

Ele olhava esperançoso. No fundo não queria ter de matar nenhuma das duas.

- Não! - disse a El

O Peter virou-se bruscamente para trás e eu empurrei-o contra a janela de vidro. O meu nariz começou a sangrar, mas era a minha última preocupação no momento.

- El! - gritei

Ela olhou par mim e sorriu. O nosso plano estava a funcionar e o Peter ficaria admirado com o que planeávamos fazer.

Ela aproximou-se de mim e segurou a minha mão, apertando-a com força.
Os nossos poderes viajavam no corpo uma da outra, tornando-nos uma só. Éramos mais fortes juntas.

Esticando o braço livre gritamos. Tínhamos de fazer força suficiente, ou perderíamos tudo.

- El, força! - gritei

O Peter gritava de dor, mas os seus olhos estavam focados nos meus.

Não consegui controlar as lágrimas quando ele desapareceu, formando um portal.
Sentei-me no chão, com as mãos na cabeça e tentei que a El não me visse chorar, mas não valeu a pena. Ela abraçou o meu corpo, sem dizer nenhuma palavra.

- O que vamos fazer agora? - perguntei-lhe

Senti-me estupidamente parva por perguntar a uma criança o que faríamos. Eu deveria ser quem a consolava e pensava no futuro, não ela.

- Ele amava-te. - disse, ignorando a minha pergunta. - Mesmo sem demonstrar ele amava-te. Não deixou de olhar para ti durante um segundo. Desapareceu com a tua imagem na sua memória.

Let me go | 001Onde histórias criam vida. Descubra agora