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Laboratorio nacional de Hawkins

23 de julho de 1979 - 47 dias antes do ataque

Outro sonho. Desde que incendiei a minha cama que os tenho, mas desta vez não há fogo. Ninguém ficou a saber do que aconteceu e o pai decidiu que eu poderia voltar á minha rotina. Poderia voltar a treinar as minhas habilidades com o pai.

Não podia dizer que não estava feliz. Por mais que odiasse o laboratório a única coisa que fazia os dias passarem mais rápido eram os treinos. Eu era a mais velha entre todos e isso dava-me uma grande vantagem, mas o Dois tinha pouco menos de 19 anos, o que significava que eramos quase da mesma idade e as suas habilidades eram quase tão boas quanto as minhas. Sempre que tínhamos algum treino em conjunto eramos uma equipa. Mas isso não significava que eramos muito amigos. Ele era simpático comigo, mas com algumas das crianças mais novas as coisas eram diferentes. Ele não gostava particularmente da El e sempre que podia usava a sua superioridade para a rebaixar. Isso acabava por fazer com que eu me afastasse.

Eu sabia que um dia voltaria a fazer testes aos meus poderes. O pai sabia que eu além da Telecinese também conseguia controlar a mente das pessoas. Claro que se conseguisse faze-lo dentro do laboratório já o teria feito, mas o pai conseguiu anular os meus poderes de alguma maneira. Só era permitido que eu usasse os meus poderes quando estava na sala de treinamento ou com o pai nos dias de exames.

Quando entrei na sala de treinamentos o pai e o Peter estavam á minha espera. Ambos viam alguns papeis, mas quando me viram passaram a atenção para mim. Todas as semanas costumávamos fazer testes para ver como estavam os nossos poderes, mas eu já não os fazia há mais de meio mês.

- Ainda bem que chegaste, já temos tudo preparado. - disse o pai

Sentei-me numa cadeira e o Peter colocou equipamentos por toda a minha cabeça e tronco. As suas mãos passavam pelo meu corpo lentamente enquanto colava a parte de baixo do equipamento. Eles iam analisar o meu coração.

- Vamos começar por alguma coisa fácil. Tenta fazer o Dr. Peter sair da sala. - Pediu o pai

Fiz o que ele me pediu. O Peter baixou-se ao meu nível e eu sussurrei ao seu ouvido.

- Sai da sala.

Podia sentir uma pequena pressão na minha cabeça, mas nada que não fosse normal.

O Peter fez o que eu disse e saiu da sala. Quando voltou apontou alguma coisa no seu caderno e olhou para as linhas na tela do aparelho.

- Nada de incomum. - disse ao pai

- Bem, então vamos tentar alguma coisa diferente. Vais fazer com que eu e o Dr. Peter andemos para trás duas vezes, três vezes para a frente e uma para o lado. Mas há um senão. Não podes falar.

Claro que ele diria aquilo. Sempre tive dificuldade em fazer com que as pessoas fizessem alguma coisa sem falar. Não me conseguia concentrar. A minha cabeça ia parar sempre a algum lugar que não era a tarefa.

Tentei concentrar-me ao máximo possível. Fechei os olhos e a mão e fiz pressão contra ela, espetando as unhas da palma da mão. Isso ajudava-me a concentrar-me melhor no que tinha de fazer.

Esforcei-me e imaginei o cenário.

Assim que abri os olhos percebi que ambos faziam o que tinham de fazer, mas quando percebi estava deitada no chão sem conseguir ver nada e a sangrar do nariz.


Laboratorio nacional de Hawkins

24 de julho de 1979 - 46 dias antes do ataque

Quando acordei estava na enfermaria. Não me lembrava bem do que tinha acontecido, mas sabia que estava a fazer exames aos meus poderes.

O Peter estava lá. Ele não percebeu que eu estava acordada e eu também não o quis incomodar. O meu braço estava preso á cama então não me podia levantar. Não confiavam mais em mim.

Tentei soltar-me. Não porque queria fugir, mas porque odiava a ideia de estar ainda mais presa. Não queria pensar na ideia de ser uma prisioneira dentro da própria prisão.

Não percebi que o Peter tinha notado que eu estava acordada até ouvir o som de chaves. Olhei para ele e percebi que ele se aproximava. Quando tocou no meu braço gentilmente e me soltou sorri-lhe como agradecimento. Ele sentou-se na cama onde eu estava e colocou a mão na minha perna.

- Estás melhor? O teste de ontem foi muito pesado.

Acenei que sim e ele apertou a minha perna. Senti o seu olhar penetrante e quando olhei para ele não consegui desviar o olhar. Os seus olhos azuis eram com o mar e eu sabia que me ia afogar. Só não queria acreditar nisso. Tinha esperança que eu conseguisse fugir com a sua ajuda, mas sabia que se não conseguisse fugir sofreria as consequências.

O seu olhar intercalava entre os meus olhos e a minha boca, mas o pai entrou na enfermaria antes que alguma coisa acontecesse.

Eu sabia que ele não queria mais do que o meu potencial e de que tudo não passava de uma maneira de me manipular, mas não me importava. Eu sabia que ele o fazia e eu também sabia faze-lo, então seria com um jogo onde ambos tentávamos entrar na cabeça um do outro e faríamos vários estragos. Só não tínhamos a noção da gravidade do futuro.

Let me go | 001Onde histórias criam vida. Descubra agora