15 - Raiva e Preconceito.

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Sanemi estava se corroendo de raiva.

Enquanto andava de um lado pra o outro no pequeno bosque que havia ao lado de sua Residência, ele sussurrava obscenidades.

Primeiro; como diabos Oyakata-sama havia descoberto sobre o treinamento que Kocho queria fazer com os seus novos colegas? E, segundo; por quê diabos ele precisava ajudá-los?

Tudo bem, ele entendia que o dever de todos os Demon Slayers é proteger os inocentes dos demônios, e que os Hashiras tem um papel principal nisso, mas, em que momento, treinar seus companheiros ajudaria nisso? Por acaso não seria melhor simplesmente ir em missões para evoluir?

Sanemi suspirou e sentou-se no chão. Por enquanto, precisava, apenas, relaxar e pensar no que fazer de treinamento para o dia seguinte, além de pensar em estratégia que poderia utilizar para treiná-los. Força bruta, pensou rispidamente. Só com isso que evoluem.

Enquanto sentado, lembrou-se de um trecho da carta enviada por Amane Ubuyashiki que o fez querer quase morrer: "Além disso, informaram-nos que o treinamento não apenas ocorrerá com os novos Hashiras, Emma e Ray; ocorrerá também com sua tsuguko, do qual nos foi informado que se chama Ayshe. A informação que temos da garota é que ela não tem muitas habilidades com sua katana e parece ter um leve desgosto com nossa língua, o japonês, o que nos leva à crer que ela venha de outro país, por isso, pedimos a maior cooperação possível e paciência com ela. É relevante também adicionar a informação que talvez ela ainda não tenha um estilo definido de respiração; pelo que nos foi informado, Ayshe passou muito mais tempo ferida do que realmente treinando, por isso, sugerimos que um treinamento mais leve e diferenciado seja feito com ela por enquanto. Esperamos sua compreensão, Ubuyashiki Amane."

Ele estava ferrado, mas sabia que o pior ocorreria caso faltasse cooperação pelo lado de seus colegas e sua inexperiente tsuguko. Afinal, Sanemi sempre fora conhecido por seu pavio curto.

Mas o que mais o deixava com raiva era o simples fato de ter que treinar alguém inexperiente, ele não havia e não tinha planos de ter um tsuguko exatamente por um motivo; treinar os outros do zero é uma merda, normalmente não há cooperação e demora anos para que realmente evoluam.

Ele deitou-se no chão e suspirou. Iria sair a noite para caçar onis e esfriar a cabeça.

A pior decisão da sua vida, pensava ele na manhã seguinte, havia sido ter ido caçar onis na noite anterior. Simplesmente todos eram fracos e não davam a emoção que ele queria adquirir. Ele nem mesmo teve um arranhão!

Depois de duas míseras horas de descanso desnecessário por causa de um esforço que não fora feito, ele decidiu arrumar-se e ir para a Mansão Borboleta.

Colocou seu uniforme usual e saiu de sua residência, estressado com a hipótese de ambos não terem força suficiente.

Fazia tempo que ele não ia a residência de Kocho, mas ela estava igual. Aoi e as três garotas da qual ele não se importou em saber o nome estavam pra lá e pra cá, intercalando entre a cozinha e a área de pacientes. Já Kanao não pode ser avistada, certamente estava treinando em outro local.

Kocho o recebeu com o sorriso de sempre, mas parecia mais forçado dessa vez. Ela o avisou que Emma, Ray e sua Tsuguko, Ayshe, já haviam chegado e estavam apenas esperando ele.

— Espero que vocês não sejam tão fracos como parecem — ele começou, coçando a parte de trás da cabeça com raiva. — Se for assim, não valerá a pena perderem seu tempo aqui. Não comigo, pelo menos.

Sanemi reparou que os dois outros Hashiras já estavam se alongando e sua tsuguko estava longe de ser vista. Bem, isso pra quem não fosse treinado, claro. Na verdade, a garota pálida e loira dos olhos gélidos estava no telhado, com um corvo com um lacinho roxo em seu pescoço ao seu lado.

— Não temos o dia todo — ele reclamou. — Desça já daí.

A garota chiou e pulou com leveza, caindo atrás de Emma.

Os três agora o encaravam e Kocho estava longe de ser vista.

— Se tiverem algum relatório, passem. Se tiverem alguma dúvida, falem, mas não esperem ser respondido. E, sinto dizer que não pegarei leve igual Tomioka certamente fez.

Foi perceptível ver a ruiva engolindo a seco. Já os seus outros dois companheiros, no entanto, apenas o encararam.

— Tomioka disse que é necessário treinar defesa e a capacidade de enxergar o próximo movimento do oponente. — Ray disse. — Mas isso é apenas comigo, Emma não participou do treinamento ontem e só fomos avisados sobre a participação de Ayshe ontem.

— Tsk. Parece que terei que perder mais tempo do que esperado — Sanemi comentou pra si mesmo. — Peguem suas katanas e lutem entre si sem uso das respirações. Cada um por si, quero ver suas habilidades.

Ele sentou-se na varanda, observando enquanto os três pegavam katanas de treinamento; Emma e Ray pareciam acostumados ao peso da arma em suas mãos, mas algo o dizia que não era sua escolha típica para armas, já Ayshe parecia desajeitada e com dúvida, como se só tivesse pegado algumas poucas vezes na espada.

Foi perceptível o lampejo de compreensão nos olhos de Emma enquanto tentava ajudar Ayshe dando leves sinais, em alguns momentos parecia até que estavam sussurrando em outro idioma.

— Vão ficar aí o dia todos descobrindo como se pega numa espada, por acaso? — Shinazugawa perguntou enraivecido.

Os três puseram-se em posição, estava na hora de descobrir se eles realmente sabiam fazer algo.

A luta foi entediante. Sanemi entendia o motivo de terem virados pilares, ambos lutava muito bem, porém, sua tsuguko era certamente inexperiente. Ela sabia apenas o básico. Além disso, a luta ficou mais centrada em Emma e Ray, pois, aparentemente, ambos estavam tentando evitar o máximo possível atacar Ayshe, que o Hashira dos Ventos havia acabado de descobrir ser uma pessoa analítica e estrategista, que também sabia se esconder muito bem.

— Tudo bem, podem parar agora — ele falou, desacreditado. — Por que diabos vocês não estão atacando ela? — ele apontou pra Ayshe. — Vocês são Hashiras! Apenas pensem nela como um maldito demônio e parem de apenas se atacarem! Parece até que ensaiaram esse ataque. Olha isso — ele então apontou para a posição das katanas de Ray e Emma que estavam cruzadas —, os ângulos em que estão posicionadas são pra não causarem danos. Por acaso vocês lutam assim contra demônios?! Se lutarem assim, então, não merecem esse cargo.

Ray abaixou a espada de madeira e se apoiou nela. Emma, no entanto, tinha uma carranca profunda no rosto.

— Entendo que você esteja irritado, Shinazugawa-san, mas ninguém está aqui pra se matar! E, não estamos atacando nossa tsuguko sabe porque? Porque estamos aqui exatamente para o contrário do que você está pedindo! Não estamos aqui pra nós matar, estamos aqui pra aprender e, acima de tudo, evoluir. Se você quer lutar e machucar alguém, aqui não é seu lugar. — A garota tinha deixado sua katana no chão e agora estava de frente com Sanemi. — E eu entendo que você ainda não nos aceite como seus colegas, mas isso não dá motivo pra você basicamente pedir pra nós lutarmos e basicamente se matar!

Sanemi precisou se conter pra não pegar sua espada.

— Se você não quer estar aqui — Ray começou, enquanto puxava Emma levemente pra trás, como se soubesse da ameaça que Shinazugawa significava no momento, após ter sido ameaçado por sua amiga — apenas saia por aquela porta. Não temos tempo a perder com alguém que não quer nos treinar.

Sanemi suspirou irritado e virou as costas. Afinal, em momento nenhum ele tinha concordado com aquele treinamento.

Flores da Esperança (Tpn x KnY)Onde histórias criam vida. Descubra agora