16 - Carta e Família.

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Após o fiasco que foi a tentativa de treinar com Sanemi, tudo continuou como era pra ser — seguindo o plano inicial de Shinobu.

Com o passar demorado das semanas, eles treinavam com diferentes Hashiras, o que era uma dor de cabeça, pois cada um tinha um jeito distinto de esnsinar. Apesar disso, a mudança era perceptível; Ayshe agora sabia mais que o básico e estava se ajustando com a respiração da serpente (Obanai até chegou a rir com certo escárnio quando percebeu isso e disse que não gostaria de uma tsuguko e que ela deveria seguir a respiração ou de Emma ou de Ray, ela não ouviu ele, no entanto), o que não fazia muito sentido, além disso, ela teve uma incrível afinidade com Kabarumaru — a serpente de Obanai; Emma se sentia mais forte e conseguia usar sua última forma mais vezes que antes — algo aliado a estamina e força que ela adquiria com o passar dos treinos; e Ray agora estava se acostumando melhor com a katana, embora ainda sentisse falta das armas de fogo.

Entre todos os Hashiras que trabalharam com eles, os piores, em questão de treinamento, foram Himejima, pois seu treinamento era super exaustivo e Emma não tinha nem um terço da força necessária pra mover uma pedra com o triplo de seu tamanho; Tokito, visto que ele era calado e perdido, ou seja, suas sessões com ele não ajudaram muito; e, incrivelmente, Mitsuri, que focava mais em flexibilidade do que qualquer outra coisa, porém, Ayshe tinha de admitir que até chegou a ajudá-la.

No entanto, a maioria teve uma abordagem gentil com o trio. Rengoku e Tengen eram os mais barulhentos, mas eram simpáticos e foi muito simples aprender seus estilos de trabalho; Mitsuri acabou ficando extasiada e, por isso, colocava muita animação em seu jeito de ensinar, o que rendia risadas; Himejima foi educado e disciplinado ao mesmo tempo, afirmou que gostaria do melhor empenho deles, além disso, seu tsuguko, Genya, que não quis providenciar a eles seu sobrenome, estava lá para ajudá-lo — visto que o Hashiras da Pedra era cego; Kocho decidiu não treiná-los, pois não conseguia nem decapitar onis, mas estava disposta a dar o espaço de sua residência para as sessões; e Obanai foi amistoso com eles, ele era quieto e não fornecia quase nenhuma informação sobre si mesmo, porém, incrivelmente, ele se deu bem com Ayshe, disse que Kabarumaru não sentia perigo nela e, embora não tenha dito, era perceptível que ele a achava agradável por ser silenciosa — não que ele gostasse dela, apenas apreciava sua quietude.

Em suma, os três chegavam acabados em sua residência. Normalmente, cochilavam ou apenas relaxavam durante a tarde para se prepararem para as missões durante a noite, que estavam ficando cada vez mais constantes.

Durante uma das semanas, Kocho teve de cancelar os treinamentos por causa de uma missão que pode ser chamada até de "missão de regaste"; aparentemente, um grupo grande de caçadores entrou no Monte Natagumo e não saiu vivo, haviam as suspeitas de ser um Lua Inferior. Tomioka foi junto, para auxílio.

No entanto, o que Emma não esperava era receber uma carta pendurada no corvo de Amane Ubuyashiki.

— Ei, Ray! Vem cá! — A caçadora o chamou após receber a carta.

Ray passou pelo shoji que levava ao lado de fora.

— Que animação é essa? Por acaso as flores já floresceram?

Emma suspirou.

— Se fosse isso eu provavelmente estaria dando pulinhos de alegria, mas não é. Amane nos enviou uma carta, provavelmente em nome do Mestre.

Ray assentiu e sentou-se na varanda, pedindo pra ela sentar-se ao seu lado.

— E o que ela fala? — Perguntou um pouco temeroso, poderia ser alguma notícia ruim, principalmente notando que haviam dois Hashiras fora em uma missão um pouco mais perigosa.

— Diz assim: "Caros Hashiras da Vida e da Estrela, pedimos seus comparecimento na reunião trimestral. É um infortúnio dizer que também ocorrerá um julgamento no mesmo dia; o caçador de nível Kanoe, Kamado Tanjiro, será julgado por todos por inflingir as regras da Organização e proteger uma oni. O relatório que nos foi entregue afirma que a oni era sua irmã e, além disso, Kocho Shinobu afirma que Tomioka Giyuu protegeu ambos. Para a infelicidade da organização, o julgamento de ambos os caçadores, Kamado Tanjiro e Tomioka Giyuu, estará nas mãos de vocês e será avaliado por Oyakata-Sama. Atenciosamente, Amane e Kagaya Ubuyashiki".

Ray encarou Emma, estoico.

— Eu não esperava alguém como você aqui — zombou ele. — O garoto está disposto a proteger o que deveria ser sua irmã, assim como você estava disposta a proteger Mujika e Sonju a qualquer custo.

A ruiva concordou com um aceno lento.

— Você irá votar em quem? — ela perguntou. — Ficará do lado do Kamado ou não?

Seu parceiro abaixou a cabeça.

— Primeiro, irei ouvir sua história, sinceramente, ele deve ter um motivo. Segundo, não irei te falar, Emma. Eu não quero ser influenciado por você e seus pensamentos gentis demais nessa situação. Me desculpe.

A Hashira da Vida o encarou.

— Não se preocupe, irei fazer o mesmo. Mas temo estar propensa a protegê-lo, afinal, Tomioka também está com o garoto e ele não é idiota para se arriscar protegendo qualquer um que vem na sua frente.

Assim, ela se levantou e foi para a estufa. Não estava brava com Ray, muito pelo contrário, entendia sua decisão, aliás, ela era conhecida por influenciar nas decisões dos outros e isso as vezes não acabava sendo muito bom.

Para sua felicidade, as Flores Vida começavam a se mostrar fortes durante o crescimento; algumas estavam mais desenvolvidas que as outras, no entanto, nenhuma a ponto de ser utilizada. A notícia boa sobre seu crescimento era que, provavelmente, em algumas semanas senão menos, elas já poderiam ser usadas e até testadas em onis — isso para ver se desempenhavam o mesmo efeito que as Glicínias.

Emma suspirou e voltou para dentro; não estava preparada para o julgamento no dia seguinte. E também não estava preparada para ela e Ray discutirem caso tivessem opiniões diferentes.

Mas sabia que, se qualquer coisa acontecesse e eles argumentassem, eles iriam se resolver, aliás, conheciam-se dês de pequenos e sabiam os pontos fracos uns dos outros e, exatamente por isso, não conseguiriam discutir seriamente sem chorar e logo em seguida pedir desculpas.

Enfiou o rosto entre as mãos, estava disposta a protege o garoto, porém não a brigar.

Sim, agora ela entendia o que era ser ingênua e dócil demais. Agora entendia o que Norman falou naquele jogo de pega-pega antes de se decepcionarem durante a noite que estava por vir. Agora entendia o que "solidão mesmo acompanhada" queria dizer. Agora sabia que faria de tudo pra deixar esse mundo nas mãos da humanidade novamente.

Jurou, por sua família, que salvaria aquele mundo a qualquer custo. Mesmo que tivesse de defender um garoto ingênuo que não sabia das regras da sociedade. Mesmo que tivesse de arriscar sua vida por ele e por sua família que não via à muito tempo.

Quis chorar, mas deixou os sentimentos de lado e deitou-se no chão enquanto ignorava a saraivada de pensamentos que vinham a sua cabeça.

Pensou em tudo, até mesmo que, se fosse ela no lugar do garoto, ela se manteria firme e forte por sua família. E, por isso, decidiu defendê-lo no dia seguinte, mesmo que não soubesse seus verdadeiros ideais, entendia seu motivo em proteger sua irmã.

Ele protegia quem amava e ela também, por isso, se fosse para ocorrer, ela até mesmo brigaria com Ray e arriscaria sua vida pra salvar o garoto.

Além disso, ela tinha um sentimento de que ele seria um trunfo se deixado vivo. Talvez até a chave para a sobrevivência da humanidade contra os onis.

Era um sentimento muito vivido, quase claro como o dia.

Flores da Esperança (Tpn x KnY)Onde histórias criam vida. Descubra agora