A carta chegara e, dois dias depois, eles já estavam na estação onde partiria o Trem Infinito.
Ambos os Hashiras da residência Gunpa, embora soubessem que Kyoujurou Rengoku já estaria na cidade há uns dias, combinaram de se encontrar com ele na estação meia-hora antes da chegada do trem.
Rengoku, em seu uniforme chamativo, estava de pé esperando na estação com várias caixas de bentos enroladas em um pano. Seus braços cruzados constrastavam com seu rosto sorridente.
— Que bom que chegaram! — Ele exclamou alegre. — Espero que o jovem Kamado e seus companheiros não se atrasem!
Emma sorriu simpática.
— Boa tarde, Rengoku-san!
— Olá, Rengoku. — Ray cumprimentou com sua falta de energia usual, mas com um semblante carregando um sorriso.
Ray observou a estação; era deprimente pensar que todas as pessoas que iam e vinham poderiam passar por um ataque de oni a qualquer hora. E, era mais deprimente ainda pensar que aquele trem estaria carregado de vítimas em que, se não houvesse a Organização, estariam mortas pouco após o anoitecer.
Esse mundo o irritava de um modo que não era exatamente bom. Ele sentia-se sobrecarregado em muitos momentos pelas obrigações que tinha como Hashira e também como irmão de Emma. De algum modo, ele pegou o pensamento dela de se preocupar com tudo e todos e agora estava assim: preocupando-se com coisas simplórias e vendo-se pensando em muitos momentos sobre sua família e como eles estariam se ambos estivessem mortos e tudo aquilo fosse um delírio seu.
Suspirou e observou Emma e Rengoku conversando: eles pareciam alegres, no entanto, o brilho inconfundível de tristeza e dor estava no olhar de ambos. Ray se incomodou... por algum motivo, saber que os outros escondiam o sentimento de raiva e tristeza do mundo o incomodava, mas, afinal, o dever de um Hashira é passar confiança, não abalo e desespero.
A estação não estava quieta. As pessoas passavam apressadamente de um lado pra o outro, olhando seus relógios mecânicos e pensando em suas famílias. Alguns carregavam pastas e usavam ternos elegantes, outros, carregavam malas e vestiam-se de modos simples. Até mesmo crianças estavam ali, conversando alegremente com seus pais e apontando pra todos os lados. O rosto de Ray se contraiu em indignação... por que nenhum mundo poderia ser livre de seres imundos e apenas ter paz? O destino o irritava mais que tudo. Não importa a crença, religião ou cultura, o destino é sempre uma merda e todos sabem disso. O mundo, Deus, ou quem quer que seja, sempre está brincando com ele e isso simplesmente o abalava e não de um modo bom.
Um apito auto chamou sua atenção, tirando-o de seus pensamentos. A luz forte vindo do quase nulo horizonte o fez encarar o nada que, logo, virou o Trem Infinito. A visão do trem o lembrou de Phill e de sua inocência. O sonho dele... Phill estaria tão feliz ao ver aquele trem ali. Certamente, animado igual todas as poucas crianças presentes na estação. Ray conseguia ver uma visão do irmão agitado, apontando alegremente para o Trem, dizendo que ele era muito legal e que, se pudesse, não sairia lá de dentro ou poderia ficar encarando o maquinário por horas.
Ele sorriu. Phill carregou um fardo enorme por tanto tempo escondendo o maldito segredo sobre os demônios das outras crianças que ele deveria, pelo menos, poder realizar seu sonho. Lágrimas inexistentes ameaçaram cair no eu de seu subconsciente. As crianças... toda aquela inocência... de jeito nenhum que ele deixaria mais crianças como a que ele já foi sofrerem. E não por causa desses demônios malditos. Nunca por causa deles.
Emma pareceu perceber seu desconforto crescente ao lembrar de seu passado e colocou a mão em seu ombro. Seu olhar transmitia a mensagem de simpatia e de que tudo ficaria bem, mesmo que ele e ela em si soubessem que o "bem" se referia à um futuro cheio de sacrifícios e perdas que de modo nenhum seriam indolores.
Rengoku os encarou com um sorriso complacente no rosto que foi devolvido pelo Hashira das Estrelas. Ray sentia-se confortável perto do dito colega é isso certamente se dava por causa de sua personalidade incrivelmente parecida com a de Emma.
— Sei que vai dar tudo certo! Não é necessário preocupações. Além do mais, sei que vocês são incrivelmente fortes e competentes, então acabaremos com essa missão facilmente. — Kyoujurou disse de modo reconfortante. — Mas... se, por algum motivo um sacrifício tiver de ser feito, não hesitarei em proteger os inocentes presentes nesse trem, nem vocês. Nosso dever principal aqui é que nenhum inocente se envolva nessa luta e se machuque...
O maquinista do trem indicou por meio do mesmo apito anterior que os passageiros já poderiam entrar na locomotiva, assim interrompendo a frase de Rengoku.
— Vocês são as estrelas de uma nova era pacífica...! — o sussurro quase inaudível do Hashira das Chamas foi ouvido por Ray que ficou em silêncio, analisando o haori esvoaçante do colega ao adentrar o trem.
"As estrelas de uma nova era pacífica..." isso era algo que Ray, sem sombras de dúvidas, estava disposto a lutar por. Se ele havia lutado uma vez por isso e saído vivo quase que sem baixas, ele certamente faria isso de novo. No entanto, dessa vez ele estava disposto a fazer isso sem sofrimento. Ele queria fazer isso sem sofrimento. Ele precisava de um alívio desses. Todos precisavam e queriam uma nova era pacífica.
E todos estavam dispostos a arriscar suas vidas por isso...
Entrou no Trem e dessa vez faria igual Rengoku: não deixaria ninguém morrer. Seria o brilho que deveria ser; mesmo que fraco, estaria presente. Pois, só desse modo, retornaria para onde queria e cumpriria uma Promessa que duraria muito mais que milênios se saísse vivo. Só assim, aquilo funcionária... só sendo um pequeno brilho que poderia se expandir. Que iria se expandir.
Tanjiro chegou e, a partir da chegada dele, Ray viu que as coisas ficariam um pouco mais agitadas. Mas, mesmo assim, isso não tirava o fato de que todos da Organização presentes no Trem carregavam semblantes preocupados com o que futuramente poderia acontecer.
O pior de tudo isso? É que Ray entendia o porque os olhos de Tanjiro, Zenitsu e Inosuke carregavam semblantes tão preocupados. Afinal, por que seriam necessários 3 Hashiras mais 3 caçadores de demônios de ranking mediano em uma missão? Uma decisão assim vinda do Mestre definitivamente não significava coisa boa e todos ali sabiam disso.
No entanto, as coisas só pioraram quando os passageiros ficaram em silêncio absoluto logo depois que o funcionário do trem veio conferir e furar as passagens.
E Ray sabia que aquilo não estava certo. Não deveria estar quando ele ficou acordado, meio desnorteado, por um pouco mais de tempo enquanto via todos os passageiros e seus companheiros dormindo profundamente. Porém, quando ele dormiu, algo muito pior do que ele imaginava o esperava.
O Hashira das Estrelas caiu em um sono profundo, de um sonho turbulento.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Flores da Esperança (Tpn x KnY)
FanfictionOs novos Hashiras eram muito estranhos e todos conseguiam concordar com isso. Nenhum deles haviam fornecido sobrenome e também pareciam já se conhecer, mesmo antes de virarem Hashiras. Havia também outro motivo para essa impressão: os dois pareciam...