Capítulo 19

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{Primrose}

Não sabia o motivo pelo qual eu estava roendo minhas unhas ao encarar o vidro da janela dentro do meu quarto. Eu só estava pensando como ultimamente o tempo estava engraçado, como alguns dias estavam se passando tão rápido que eu nem percebia, e como outros, se passavam tão lentamente que pareciam até torturantes.

Meu pai não havia dito nada mais sobre o baile na Corte Outonal, então apenas apaguei o pensamento de minha mente. Não queria conversar com ele. O tempo sozinha, em silêncio, havia me mostrado como as coisas seriam mais fáceis se fossem daquela forma. Se eu não dissesse nada, não brigávamos. Se eu não fizesse nada, não o decepcionaria tanto.

Estava dormindo pouco, e acordando algumas vezes no sono. E quando o dia finalmente chegava, eu não via grandes motivos para sair da minha cama. Ao mesmo tempo que eu estava descansando o tempo inteiro, assim que me levantava, ainda me sentia cansada. Sentia vontade de me afundar na minha cama, mesmo assim, jamais me sentia capaz de relaxar, sempre pensando que algo ruim fosse acontecer se eu me atrevesse a mexer meu corpo ligeiramente tenso.

Eu costumava ficar olhando para a janela, e para o lado de fora, mas os únicos barulhos que eu escutava, ficavam na verdade, do outro lado da porta. Eram passos, de vez em quando, pesados demais. Eram passos de sentinelas. Eles costumavam ficar parados, mas eu sempre escutava alguns de seus movimentos e sentia seus cheiros, era como um lembrete de que eles estavam ali. Mas eu não sentia o cheiro de Jasper, ele nunca estava próximo ao meu quarto. O que era bom, pois caso eu saísse do meu quarto, tinha uma chance de não encontrá-lo, de não ter que lidar com seu rosto decepcionado ou esperançoso.

Quando não estava tão ocupado, meu pai entrava em meu quarto, falava uma coisa ou outra, mas nada que chamasse minha atenção. Me desejava uma boa noite, e me deixava sozinha novamente.

Sozinha.

Eu estava entendendo melhor o significado daquela palavra, principalmente, nos momentos em que eu clamava por aquilo, principalmente quando Amélia aparecia vezes demais no meu quarto, eu não dizia nada. Permanecia com meu rosto fechado, em silẽncio quase completo, a encarando, como se assim, ela finalmente entendesse que deveria sair.

Não me virei quando ouvi minha porta ser aberta lentamente, porque já sabia quem era.

— Boa tarde, Primrose - a voz serena de Amélia preencheu o cômodo, mesmo não a encarando diretamente e apenas a respondendo com um suspiro baixo, notei seu olhar fixo em mim, me encarnado lentamente de cima a baixo — Quer que eu prepare seu banho? - ela perguntou, e a ouvi ir até minha cama, começando a ajeitar os lençóis

Neguei fraco com a cabeça, mas mesmo assim, ela percebeu.

Amélia demorou um tempo para responder, não sabia se ela pensava no que dizer, mas depois de alguns minutos, ela apareceu atrás de mim, e começou a encarar a janela comigo. Como se tentasse compreender o que eu estava vendo, no que eu prestava tanta atenção, mas não havia uma resposta. Eu não via nada.

— O dia está lindo - ela comentou, ajeitando sutilmente os lençóis que ela carregava nos braços — Não quer sair um pouco? - ela sugeriu, e eu apenas tombei um pouco a cabeça para o lado — Faz um tempo que você não caminha pelo jardim - eu não queria caminhar pelo jardim. Meu corpo se sentia cansado demais, mole demais — Jasper anda um pouco carrancudo - ela disse, depois de um tempo em silêncio — O que acha de ir treinar um pouco com ele? Posso tentar fazer isso acontecer

— Não precisa, Amélia - finalmente a respondi apropriadamente, mas minha voz saiu baixa e sem força — Estou um pouco cansada - completei, lentamente forçando-me a me colocar de pé, e ir em direção a cama

Corte de Labirintos de Rosas e Estrelas Onde histórias criam vida. Descubra agora