Corte de Labirintos de Rosas e Estrelas

Capítulo 22

{Lyra}

Lyra definitivamente não queria ir até a Corte Outonal, não queria ver o macho ruivo que por um longo período de tempo no passado, havia consumido cada vez mais seus pensamentos, dia após dia. Era tão confuso e doloroso para ela pensar que a pouco menos de um ano atrás, as coisas estariam sendo diferentes, ela estaria se sentindo diferente.

A fêmea se lembrava de como era se arrepiar ao apenas pensar em Alev Vanserra, e ela sentia que causava o mesmo efeito nele, ela sabia que causava. Mas de repente, todas aquelas sensações novas e interessantes pareceram... Morrer. Foram consumidas por outra coisa, por frieza, por ignorância.

Ela estava naquele lugar, fazendo aquilo, naquele momento, por Nyx. Apesar de não entender o porquê dele se preocupar tanto com a Herdeira da Primaveril, e a droga de seu colar e seus problemas. Mas, quando ela o viu desabar em sua frente, algo que raramente acontecia, ela soube que era sério, e que ela talvez deveria se preocupar também.

Lyra se lembrava da última vez que tinha visto o Herdeiro da Noite chorar, apesar de terem pouca idade na época, ela se recordava. Eles estavam no acampamento Illyriano, mesmo que seus pais odiavam que eles frequentassem aquele lugar, Lyra e Nyx, acreditavam que só seriam guerreiros de fato, se treinassem ali, assim como seus pais treinaram um dia.

Lyra treinou lá, mas apenas com o pai ou com os tios. De qualquer forma, aquilo não havia impedido a fêmea de se colocar em diversas brigas com alguns machos illyrianos. Ela odiava ficar perto deles, principalmente por eles a olharem com tanto desprezo. Já Nyx, fingia que mal conhecia sua própria família enquanto estava lá. Ele se arriscava sempre a treinar com outros machos, muitas vezes, os maiores que ele. Lorde Devlon fazia Nyx treinar mais que ninguém, Lyra se lembrava disso.

O macho havia saído do treino, com certeza já exausto. E quando estava sozinho, caminhando até a casa de sua falecida avó, onde eles costumavam ficar, alguns machos mais velhos o encurralaram. Eram muitos. Muito mais do que Nyx conseguiria derrotar sozinho naquela época, hoje, com certeza ele não teria problema. Mas ele deveria ter menos de 13 anos, então mal conseguiu se defender.

Lyra o encontrou algumas horas depois. Ele havia ido para longe, não querendo chegar perto de casa, não querendo encarar seus pais ou seus tios. Não querendo que eles pensassem que tinham razão em achar que ele não deveria estar ali.

Ele estava atrás de uma árvore, sentado na neve, em um local distante e afastado. Ele chorava, chorava tanto que Lyra não sabia dizer se era apenas por conta da dor que sentia em seu corpo. Ela havia feito a mesma coisa que tinha feito algumas noites atrás. Ficou ao seu lado, e o abraçou firmemente, mostrando que ficaria ali por horas, por quanto tempo ele precisasse daquilo.

Nyx se sentiu tão oprimido e tão diminuído que nunca mais mencionou aquele dia. Ele nunca contou aos pais quem havia feito aquilo, por mais que eles tivessem perguntado diversas vezes, Lyra nunca tinha visto a Grã-Senhora tão furiosa. Mesmo assim, não conseguiram fazer muito, já que Nyx se silenciou completamente, e apenas pediu, quase implorando, que eles não fizessem nada. Ele não queria ser tratado diferente, pois isso apenas provaria o que todos pensavam. Que ele seria sempre protegido de tudo por ser quem era.

Então, quando ela o viu chorando, naquela noite, daquela forma, ela sabia que algo realmente estava perturbando-o, e o machucando. Foi apenas por isso que ela concordou em ir até aquela Corte.

Catrin e ela mal conversaram a caminho da Corte Outonal. Lyra pensava em tantas coisas ao mesmo tempo, em tantas coisas que sua prima nem fazia ideia, que preferiu ficar calada. Fechou bem seu rosto, para que ela sequer tentasse dizer algo.

Lyra treinava aquela feição. Aquela firme e dura como uma rocha, que jamais conseguiria quebrar. Ela a praticou por tanto tempo na frente do espelho, encarando aqueles olhos tempestuosos. Os olhos de sua mãe. Até que uma hora, ela se tornou natural, se tornou real, e ela não se recordava mais de como era estar com uma feição relaxada.