Capítulo 23

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{Primrose}

As últimas manhãs haviam sido silenciosas, se não fosse por minha mente agitada e os turbilhões de pensamentos embaralhados e lembranças que eu preferia que fossem esquecidas.

Ouvia o fraco barulho da pena em minha mão, enquanto ela se movia contra o papel. Minhas sobrancelhas se franziam em concentração, e minha mão livre segurava minha têmpora que começava a latejar. Apertei meus olhos com força, uma ou duas vezes, quando sentia vontade de adormecer.

Eu tinha decidido copiar o que eu enxergava no livro que Catrin havia deixado para mim em algumas folhas em branco, já que aparentemente eu era a única que conseguia lê-lo. Pensei que aquela poderia ser a coisa mais útil a se fazer no momento, e eu queria ser útil para algo, aquilo era capaz de distrair minha mente dela mesma. Lis havia partido após o baile, então, tive bastante tempo sozinha.

Não havia chamado o Herdeiro da Corte Noturna ainda, como havia prometido a Encantadora de Sombras, planejava acabar aquilo primeiro, enquanto usava o tempo para pensar no que diria a ele, ou o que eu mesma pensava dele naquele momento. Me sentia cheia de dúvidas e repleta de explicações malfeitas.

Suspirei, sentindo minha mão dolorida e trêmula por repetir os mesmos movimentos durante horas, me encostei na cadeira, relaxando a postura tensa. Suavemente, deslizei meus dedos até a ponta de uma página, passando para a próxima.

Enrijeci completamente com o que meus olhos viram, com a imagem que eles reconheceram. Quatro pétalas. Meus dedos trêmulos passaram pelo desenho, e minha respiração prendeu.

Elas estavam no livro, assim como o colar que eu usava, o colar que era de minha mãe. Passei as páginas rapidamente, o procurando mais uma vez, igual havia feito diversas vezes nos dias anteriores, como se quisesse ter certeza de que aquele desenho não fosse sumir. Não era apenas uma coincidência, não podia ser. Não era um símbolo comum, parecia quase como um aviso para mim, um alerta.

Me virei rapidamente ao ouvir a porta sendo aberta, e ergui minhas sobrancelhas em surpresa.

- Bom dia, Primrose - era Amélia, ela sorriu fraco, parecia quase aliviada - Está acordada tão cedo? - ela olhou para a escrivaninha cheia de papéis e livros - Encontrou algo bom para ler?

Mal sabia Amélia que eu sequer tinha pregado os olhos durante a noite. Após a noite que eu voltei da Corte Outonal, os dias haviam sido a maioria daquela forma.

- Sim - assenti, afirmando lentamente com a cabeça, enquanto fechava meus olhos com força - Estou... Estou lendo um dos livros que Ísis me emprestou

Ísis havia passado em meu quarto algumas noites anteriores, dizendo que tinha encontrado um livro ou outro que me ajudaria naquele tal assunto que tivemos. Não entendi muito bem, e achei que ela estivesse brincando.

Havia começado a ler um deles, pela forma como ela sorriu travessamente ao me entregar, me senti curiosa, aquilo me mostrou que o livro provavelmente era interessante. Era um romance, sobre um casal adorável, mas não entendi o que ela queria que eu visse ali. Havia abandonado o livro após algumas páginas.

- Fico feliz em vê-la lendo algo que gosta novamente - ouvi ela dizer, e algo em sua voz pareceu tranquilo e mais relaxado, menos tenso do que costumava ser

Fechei o livro, ainda olhando para seus desenhos e símbolos que eu jamais saberia interpretar.

- Amélia - a chamei, após alguns segundos, enquanto a via guardar algumas roupas minhas, mesmo que minha mente estivesse distante - Já sentiu como se estivesse lutando contra tudo que já acreditou? - suspirei, abaixando meu olhar, sentindo que agora o olhar da fêmea estava em mim - Você já precisou fazer algo que não parece certo, e sabe que magoaria algumas pessoas, mas no fundo, sente que está certo - murmurei o final, falando mais comigo mesma do que com qualquer outra pessoa

Corte de Labirintos de Rosas e Estrelas Onde histórias criam vida. Descubra agora