Era manhã de segunda-feira e eu estava em uma das mesas mais afastadas da biblioteca da universidade, com o meu notebook aberto na minha frente, como em todas as outras segundas-feiras daquele semestre. Porém eu não estava corrigindo a minha monografia como eu deveria, e sim procurando o preço de viagens de trem que me levassem de Coimbra até Portimão no próximo final de semana.
Quando finalmente criei coragem de abrir a mensagem que Charles me mandara e respondê-la como se eu não tivesse deixado ele esperando por mais de doze horas, eu me vi combinando de encontrá-lo depois da corrida no domingo, no hotel em que ele iria ficar, para poder devolver a roupa dele que ainda estava comigo. Parecia absurdo viajar quatro horas até outra cidade só para isso, mas eu estava me convencendo que, depois de Charles ter feito tanto por mim na noite em que nos conhecemos em Barcelona, aquilo era o mínimo que eu poderia fazer para recompensá-lo.
Depois disso, tinha ficado um pouco difícil aproveitar a cama e o aconchego com o meu agora namorado naquele domingo, enquanto a minha mente se preocupava em como eu faria para ir até aquela cidade que eu nem conhecia, e era constantemente invadida pelo pensamento de "O que eu tinha na cabeça para ter combinado aquele encontro com Charles no dia seguinte de ter aceitado o pedido de namoro de Adrian?". Adrian, que estava focado demais em me servir café da manhã na cama e me convidar para tomar banho junto com ele, felizmente não percebeu que a minha cabeça não estava totalmente presente naquele momento, mas ainda assim eu me sentia mal. Passei o dia todo me esforçando para apreciar a dedicação e o carinho adoráveis de Adrian, mas bastava eu me distrair por cinco minutos para que os meus pensamentos fossem desviados para a bendita viagem que eu arrumara para o próximo domingo.
E foi por isso que, logo cedo na segunda-feira, eu comecei a tentar arrumar uma forma de fazer aquilo funcionar, para ver se conseguia diminuir a minha ansiedade. Depois de passar quase a manhã inteira pesquisando passagens e fazendo contas para descobrir a opção que iria me tirar menos dinheiro, eu estava exausta e ainda mais confusa, então saí no terraço do andar da biblioteca para tomar um ar. Peguei o celular e decidi pedir ajuda para a única pessoa que eu conhecia que era mais racional do que eu, e muito, muito mais calma.
𝙿𝚛𝚎𝚌𝚒𝚜𝚘 𝚍𝚎 𝚊𝚓𝚞𝚍𝚊.
Eu mal tinha enviado a mensagem para Luísa quando a resposta dela apareceu na tela do aparelho.
𝙾 𝚚𝚞𝚎 𝚊𝚌𝚘𝚗𝚝𝚎𝚌𝚎𝚞?
Suspirei, com os polegares flutuando sobre o teclado. Eu mal sabia como começar a explicar aquilo tudo para ela.
𝙿𝚘𝚜𝚜𝚘 𝚝𝚎 𝚕𝚒𝚐𝚊𝚛?
Definitivamente era mais fácil contar em uma ligação do que por mensagem, e achei melhor confirmar se ela estava livre antes. Luísa estudava Moda em Lisboa e ainda trabalhava como modelo nas horas vagas, algo que ela fazia incrivelmente bem e tinha muito futuro, porém a desvantagem era que sua agenda estava constantemente lotada, deixando apenas algumas horas na semana para que ela pudesse gastar ouvindo os problemas da amiga sem noção, no caso, eu.
Em vez de me responder com outra mensagem, Luísa não perdeu tempo e ela mesma me ligou.
– O que aconteceu? – ela repetiu a pergunta assim que eu atendi a chamada.
Suspirei novamente, me esforçando para organizar a sequência de fatos na minha cabeça antes de responder.
– Então, sabe o Charles? O piloto?
– O piloto muito gato que você conheceu em Barcelona de quem você pegou uma roupa emprestada? – Luísa enfatizou a última parte de propósito, me fazendo apertar os olhos com a mão livre e odiá-la por um segundo. – É claro que eu sei, Helena.
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ℛ𝑎𝑐𝑖𝑛𝑔 ℋ𝑒𝑎𝑟𝑡𝑠 [ᴄʜᴀʀʟᴇs ʟᴇᴄʟᴇʀᴄ]
Romance:¨·.·¨: '·. 𝒮𝑒𝑟𝑒𝑛𝑑𝑖𝑝𝑖𝑡𝑦: 𝖺𝗍𝗈 𝖽𝖾 𝖾𝗇𝖼𝗈𝗇𝗍𝗋𝖺𝗋 𝖼𝗈𝗂𝗌𝖺𝗌 𝖻𝗈𝖺𝗌 𝗌𝖾𝗆 𝖾𝗌𝗍𝖺𝗋 𝗉𝗋𝗈𝖼𝗎𝗋𝖺𝗇𝖽𝗈 𝗉𝗈𝗋 𝖾𝗅𝖺𝗌 Muitas vezes, pessoas especiais podem estar escondidas nos momentos mais simples e aleatórios da nossa...