– Então o que está te impedindo de dar uma chance para ele, Helena? – a voz baixa de Luísa me despertou dos meus devaneios e eu ergui a cabeça, encontrando-a com as sobrancelhas erguidas e um sorriso doce nos lábios.
Minha boca se abriu e fechou algumas vezes, hesitando com aquela pergunta para a qual eu não conseguia encontrar nenhuma resposta, e eu engoli em seco antes de finalmente confessar:
– Eu... Eu não sei.
»»
A exaustão das poucas horas de sono dormidas nos últimos dias chegou para tomar conta do meu corpo pouco tempo depois daquela que foi uma das perguntas mais difíceis que Luísa já me fizera na vida, e ela deixou que eu dormisse em seu quarto pelo resto da manhã. Acordei depois de horas de um sono profundo e, felizmente, sem sonhos, e eu me sentia mais leve e descansada, a cabeça já não mais latejando com a revoada de pensamentos de antes. Porém isso durou até o momento em que eu alcancei o celular na mesinha de cabeceira ao lado da cama e encontrei uma notificação com o nome de Charles na tela, trazendo de volta todos os acontecimentos dos últimos dias e fazendo o meu estômago dar uma cambalhota.
𝚀𝚞𝚎 𝚋𝚘𝚖. 𝙵𝚎𝚣 𝚞𝚖𝚊 𝚋𝚘𝚊 𝚟𝚒𝚊𝚐𝚎𝚖?
Ele estava respondendo a mensagem que eu enviara assim que pousei em Lisboa, como tinha prometido que faria, e não pude conter um sorriso que quis se formar nos meus lábios. Digitei rapidamente uma resposta dizendo que sim, e também quis saber se ele tinha voltado com segurança depois de me deixar no aeroporto, percebendo que Charles tinha começado a escrever algo do outro lado apenas segundos depois que eu apertei enviar. Acabei me distraindo com aquela troca de mensagens descontraída e percebi, com um sobressalto, que Luísa estava parada na porta de seu quarto, me encarando.
– Há quanto tempo você está aí? – perguntei, deixando o celular de lado sobre a cama.
– O suficiente – ela respondeu, apertando os lábios para segurar um sorriso.
– O suficiente para que? – eu indaguei confusa, jogando as pernas para fora da cama e prendendo meu cabelo bagunçado em um coque.
– O suficiente para perceber que as respostas para todas as suas perguntas estão, literalmente, na sua cara – Luísa falou irônica, entrando no quarto para jogar uma toalha de banho na minha direção.
– O que você quer dizer com isso? – eu franzi as sobrancelhas para ela, acompanhando seus movimentos pelo ambiente.
– Você estava falando com o Charles, não era? – ela apontou para o meu celular e se sentou sobre a escrivaninha em frente a cama, com os olhos fixos em mim, e eu apenas balancei a cabeça afirmativamente, no que ela abriu um sorriso satisfeito e deu de ombros. – Eu encerro o meu caso.
Engoli em seco, sentindo meu cérebro trabalhar em alta velocidade para compreender o significado do que Luísa estava dizendo. Eu me perguntava se ficava tão óbvio no meu semblante o formigamento e a corrente elétrica que percorriam o meu corpo toda vez que o nome de Charles aparecia na tela do meu celular mas, ainda assim, Luísa parecia tirar conclusões muito mais definitivas com aquilo do que eu.
Por mais que eu tentasse relaxar enquanto estava embaixo da água quente do chuveiro, os meus pensamentos insistiam em voltar para os últimos dias em Mônaco, para cada mísero arrepio que eu sentira na presença de Charles, para o rosto dele emoldurado pelo azul do Mar Mediterrâneo, para a forma como seus olhos ficavam pequenininhos toda vez que ele sorria. Era evidente que aquele garoto mexia comigo, muito mais do que eu gostaria de admitir, e aquilo me deixava ligeiramente alarmada.
– HELENA – a voz de Luísa gritou do lado de fora do banheiro no instante em que eu desliguei o chuveiro, me puxando para fora dos meus devaneios confusos.
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ℛ𝑎𝑐𝑖𝑛𝑔 ℋ𝑒𝑎𝑟𝑡𝑠 [ᴄʜᴀʀʟᴇs ʟᴇᴄʟᴇʀᴄ]
Romance:¨·.·¨: '·. 𝒮𝑒𝑟𝑒𝑛𝑑𝑖𝑝𝑖𝑡𝑦: 𝖺𝗍𝗈 𝖽𝖾 𝖾𝗇𝖼𝗈𝗇𝗍𝗋𝖺𝗋 𝖼𝗈𝗂𝗌𝖺𝗌 𝖻𝗈𝖺𝗌 𝗌𝖾𝗆 𝖾𝗌𝗍𝖺𝗋 𝗉𝗋𝗈𝖼𝗎𝗋𝖺𝗇𝖽𝗈 𝗉𝗈𝗋 𝖾𝗅𝖺𝗌 Muitas vezes, pessoas especiais podem estar escondidas nos momentos mais simples e aleatórios da nossa...