A decisão de realizarmos aquele evento durante a pausa da Fórmula 1 se provava cada vez mais acertada, uma vez que aquele ano estava sendo agitado e intenso para Charles, que defendia o seu bicampeonato na categoria. Eu também estava bastante ocupada, tendo me tornado uma integrante permanente da equipe de curadores da galeria Espace 22, em Monte Carlo, e ainda realizava eventuais consultorias para o Museu Cívico de Sanremo. Era impressionante a forma simples e rápida com que a minha vida no principado tinha se ajeitado desde que eu voltara de Nova York, como se o universo estivesse me mandando uma mensagem de que tudo estava em seu devido lugar, como deveria ser. Inclusive eu. Agora, vivendo aquela nova rotina há pouco mais de um ano, eu tinha a mais absoluta certeza de que as coisas eram para ser exatamente daquele jeito desde sempre, e eu me sentia leve e contente com a maneira que minha vida estava caminhando.
O calor intenso do verão europeu tomava conta da manhã da última segunda-feira de julho enquanto eu aguardava o retorno de Charles de Spa-Francorchamps, depois de mais uma vitória no circuito belga. A mesinha redonda na varanda do apartamento dele me servia de escritório naquele dia em que eu trabalhava de casa, apenas organizando uma lista de expositores que iriam compor a exibição da Semana de Arte de Mônaco da galeria no mês seguinte, com as pernas sobre a cadeira à minha frente, onde o sol agradável ainda batia, e o resto do corpo e o notebook abrigados na sombra junto da porta de vidro. Em meio à brisa morna que me aquecia o rosto e aos muitos documentos que eu lia na tela do computador, a notificação de um e-mail chamou a minha atenção, e eu fiz uma pausa no trabalho para responder a mensagem da florista que tínhamos contratado quando recebi uma ligação de minha mãe.
– Lena, é o seu irmão – dona Joana arfou ao telefone, com a voz fraca.
– O qu... O que aconteceu? – eu exclamei, imediatamente fechando o computador e endireitando a postura. – Mama, me diz, por f...
– Ele está bem – ela me interrompeu e, ao notar a minha insistência, continuou: – Ele precisou ser internado, porque... – ela fez uma pausa, dando um suspiro longo antes de prosseguir. – Ele estava estudando para uma prova da faculdade e acabou tomando a dosagem errada de um remédio para ficar acordado – eu sentia o mundo girar ao meu redor, me deixando tonta, e meu coração batia dolorosamente rápido enquanto a voz da minha mãe ecoava na minha cabeça. – Ele passou mal de madrugada, mas já está bem agora! – dona Joana voltou a enfatizar, numa provável tentativa de me acalmar, porém não estava funcionando. – Mas os médicos quiseram mantê-lo em observação por um dia – as pontas dos meus dedos começavam a adormecer tamanha a força com que eu segurava o telefone contra o rosto e, tentando organizar meu raciocínio e controlar o ritmo da respiração, não falei nada por algum tempo, algo que não passou despercebido por minha mãe, que logo completou: – Eu não queria te atormentar com isso, Lena... Mas achei melhor que você soubesse logo.
– Não, mama! – eu logo rebati. – Você tinha que me contar sim, imagina – eu balancei a cabeça, como se isso fosse capaz de colocar os pensamentos no lugar. – Eu... Eu vou para aí, mama – falei decidida e, ouvindo-a suspirar do outro lado, continuei: – E nem adianta tentar me convencer do contrário. Eu quero ver o Miguel.
⭒
Eu continuava com os pensamentos pairando confusos na cabeça quando mandei uma mensagem ainda mais confusa para Charles, explicando o acontecido e dizendo que eu iria pegar o primeiro voo que conseguisse encontrar para Amsterdã. O piloto soou preocupado ao responder com uma ligação em poucos minutos, porém não me contestou, dizendo apenas que ainda estava na Bélgica, já que seu voo tinha atrasado, e que ele iria dar um jeito de ir direto para a Holanda me encontrar. Eu também não tentei dissuadi-lo daquela ideia, sabendo que não adiantaria de nada, e somente concordei, prometendo avisá-lo quando pousasse na capital holandesa.
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ℛ𝑎𝑐𝑖𝑛𝑔 ℋ𝑒𝑎𝑟𝑡𝑠 [ᴄʜᴀʀʟᴇs ʟᴇᴄʟᴇʀᴄ]
Romance:¨·.·¨: '·. 𝒮𝑒𝑟𝑒𝑛𝑑𝑖𝑝𝑖𝑡𝑦: 𝖺𝗍𝗈 𝖽𝖾 𝖾𝗇𝖼𝗈𝗇𝗍𝗋𝖺𝗋 𝖼𝗈𝗂𝗌𝖺𝗌 𝖻𝗈𝖺𝗌 𝗌𝖾𝗆 𝖾𝗌𝗍𝖺𝗋 𝗉𝗋𝗈𝖼𝗎𝗋𝖺𝗇𝖽𝗈 𝗉𝗈𝗋 𝖾𝗅𝖺𝗌 Muitas vezes, pessoas especiais podem estar escondidas nos momentos mais simples e aleatórios da nossa...