Com as mãos trêmulas e geladas, eu coloquei o ponto final no último parágrafo que concluía a minha monografia do mestrado no fim da tarde de uma quinta-feira. Já fazia mais de uma semana desde que eu me despedira de Charles na volta da viagem para Barcelona, mas era como se a sensação boa que estar com ele me trazia tivesse permanecido ao meu redor por todo aquele tempo, me dando um sopro extra de determinação para finalizar o meu texto vários dias antes do prazo de entrega. Depois de tantos anos estudando Arte Contemporânea e as suas ramificações, entendendo aquele assunto e descobrindo formas de encaixá-lo na minha vida, como na posição de curadoria de museus, aquele ponto final tinha um significado muito maior do que o pontinho preto na tela do computador, e eu sentia meu coração bater com força contra o peito ao suspirar com um sorriso satisfeito.
O Museu Cívico estava se preparando para inaugurar uma estensão da Seção de Arqueologia, tendo recebido novas peças coletadas nos arredores da cidade, e novamente eu fora requisitada para participar da curadoria e organização do material que seria exposto na sala do primeiro andar. Essa tarefa deu conta de me ocupar por toda a manhã e quase toda a tarde de sexta, mal me dando tempo de ver as horas passarem, porém me rodeando de um frescor agradável ao caminhar para casa no fim do dia sabendo que tinha um novo projeto.
Sabendo que Charles estaria trabalhando com a equipe em Maranello pelos próximos dias, acabei ficando na comuna italiana durante o final de semana, aproveitando a minha própria companhia em idas à um café e em um passeio pela orla como já não fazia há algum tempo. O monegasco não deixava de se fazer presente na minha vida mesmo assim, tirando um tempo das suas muitas horas de compromissos na fábrica para trocarmos mensagens sobre os nossos afazeres, mantendo a tradição das nossas chamadas de vídeo toda noite.
Antes mesmo que eu chegasse na Academia de Belas Artes para a aula na manhã de segunda-feira, recebi um e-mail de Francesca pedindo que eu a encontrasse em sua sala mais tarde, para falarmos da minha monografia. Eu sabia que, se fosse algo sério ou grave, ela não teria feito suspense, mas ainda assim senti o estômago dar uma cambalhota com a expectativa do que aquela reunião reservaria para mim. Por sorte, a professora de metodologia já não tinha mais tanto conteúdo para passar em sala, nos deixando livre para trabalharmos nas nossas entregas finais da matéria e eu agradeci mentalmente, já que o e-mail de Francesca sugara qualquer resquício de concentração do meu cérebro.
– Espero que você tenha boas notícias – eu falei algumas horas mais tarde ao adentrar a sala da minha orientadora, que deu um sorriso carinhoso ao notar que eu apertava as mãos uma contra a outra de nervosismo.
– É claro que eu tenho boas notícias – ela anunciou, me indicando a cadeira à sua frente com a mão, e eu senti a expectativa formigar pelo meu corpo ao me sentar. – Helena, o seu texto é tão bom que eu não li somente a conclusão que você me enviou, e sim ele inteiro – Francesca arfou, se inclinando na minha direção. – Passei os últimos dias presa nele, encantada pela forma como você fala da arte com tanto amor e dedicação – ela suspirou. – Eu tenho certeza que terá esse mesmo efeito em todos que o lerem, não tenho dúvida que os avaliadores vão te aprovar com honras!
Eu precisei engolir com força o embolado de emoções que subiu pela minha garganta, sentindo lágrimas queimarem os meus olhos ao ouvir as palavras da minha orientadora que, mesmo depois de poucos meses, já tinha se tornado uma amiga.
– Ah, Francesca, eu... – ofeguei, com a voz trêmula. – Eu não sei nem o que dizer – falei com uma risada nervosa e emotiva, que a professora acompanhou. – Obrigada por toda a sua ajuda, sem ela nada disso seria possível.
– Imagina, querida – ela abanou a mão, piscando para conter algumas lágrimas também. – Não precisa dizer nada, isso é o resultado do seu esforço, e eu tenho certeza de que ele vai ser muito bem recompensado!
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ℛ𝑎𝑐𝑖𝑛𝑔 ℋ𝑒𝑎𝑟𝑡𝑠 [ᴄʜᴀʀʟᴇs ʟᴇᴄʟᴇʀᴄ]
Romance:¨·.·¨: '·. 𝒮𝑒𝑟𝑒𝑛𝑑𝑖𝑝𝑖𝑡𝑦: 𝖺𝗍𝗈 𝖽𝖾 𝖾𝗇𝖼𝗈𝗇𝗍𝗋𝖺𝗋 𝖼𝗈𝗂𝗌𝖺𝗌 𝖻𝗈𝖺𝗌 𝗌𝖾𝗆 𝖾𝗌𝗍𝖺𝗋 𝗉𝗋𝗈𝖼𝗎𝗋𝖺𝗇𝖽𝗈 𝗉𝗈𝗋 𝖾𝗅𝖺𝗌 Muitas vezes, pessoas especiais podem estar escondidas nos momentos mais simples e aleatórios da nossa...