23 - nous deux c'est mieux

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A conversa que eu tivera com Charles na noite de quinta-feira pareceu fazer efeito, tirando a tensão constante que enrijecia os músculos dos ombros dele e deixava suas sobrancelhas franzidas. Ainda assim, eu estava decidida a não deixar que aquelas preocupações voltassem a perturbá-lo, e procurei mantê-lo distraído durante todo o resto do final de semana, o que me fez aceitar prontamente o convite dele para uma corrida matinal no sábado. O ar fresco e o céu azul sem uma única nuvem daquele dia de outono eram capazes de acalmar os ânimos de qualquer um e, ao chegarmos novamente ao topo da rocha que dava para o Mar Mediterrâneo, cada resquício da aflição de Charles com o campeonato – e da minha, por vê-lo naquele estado – tinha sido substituído pela exaustão do exercício, que deixava as nossas pernas cansadas mas emanava uma corrente elétrica por todo o nosso corpo.

Naquele dia, a caminhada de volta não terminou em um restaurante, mas sim na praia do Larvotto, que margeava a Avenida Princesa Grace e contava com uma larga extensão de areia muito branca. Algumas poucas pessoas ocupavam espreguiçadeiras junto de um bar em um canto mais reservado da praia e, depois de acenar para um funcionário do local, Charles me guiou até uma delas, puxando a camiseta branca pelos ombros antes de se sentar. A visão repentina dos músculos das suas costas e ombros ainda bronzeados me desestabilizou por um instante, e eu precisei piscar algumas vezes para colocar os pensamentos no lugar e acompanhá-lo, sentando na cadeira ao lado, porém me mantendo virada na direção dele. Mesmo com o ar fresco, o sol forte daquela manhã era suficiente para me fazer sentir calor, e eu aproveitei o top que eu vestia por baixo da blusa para também me livrar do tecido, sentindo uma ardência agradável na pele dos meus ombros.

– Que vista linda – eu comentei, sentindo meus olhos se perderem na imensidão azul que era o Mar Mediterrâneo se alargando à nossa frente.

– É linda mesmo – Charles respondeu com a voz baixa, e eu me virei para ele com um sorriso, encontrando-o com o olhar fixo em mim, e não na paisagem, como eu imaginara.

– Ai, deixa de ser ridículo – eu arfei, esticando o braço para dar um tapa no ombro dele.

Com um rápido reflexo, Charles fechou os dedos ao redor do meu punho e me puxou para a sua cadeira, e eu quase desequilibrei antes de sentar no espaço estreito ao lado do quadril dele.

– Mas você é – ele murmurou com um sorriso doce, erguendo a mão para envolver o meu rosto, acariciando levemente a minha bochecha com o polegar.

Como sempre, Charles era capaz de me desestruturar completamente com as palavras mais simples, e um calor que nada tinha a ver com o sol tomou conta do meu corpo e subiu para as minhas bochechas. Novamente ficando sem resposta, eu me limitei a dar uma risada fraca e escondi o rosto encabulado no peito de Charles, que vibrou quando ele também riu. Ele logo se ajeitou na cadeira para que eu tivesse mais espaço para me acomodar junto dele, enlaçando os braços ao redor da minha cintura quando eu apoiei a cabeça em seu ombro, sendo invadida pelos já conhecidos aconchego e familiaridade que estar próxima dele me causava.

Por mais que eu já tivesse experimentado a sensação de estar junto do corpo de Charles diversas vezes, e do nível mais sutil ao mais intenso, a mão dele que deslizava suavemente para cima e para baixo no meu braço, ou então que ele apoiava naturalmente sobre a minha coxa quando sentávamos lado a lado em uma mesa, ou que ele mantinha firme na minha cintura ou então entrelaçava os dedos aos meus quando caminhávamos juntos ainda fazia disparar uma gostosa vibração através do meu corpo que eu nunca me cansaria de sentir, e talvez estivesse ficando viciada naqueles momentos. Cada uma das minhas idas para Mônaco eram como mini férias em que eu podia aproveitar um dia todo passado à toa em uma bela praia, desfrutar das melhores refeições em restaurantes com vistas incríveis e me deleitar com noites preguiçosas assistindo filme no sofá, tudo isso acompanhada pelo monegasco dos olhos verdes que gostava de me chamar de linda das formas mais despretensiosas possíveis. Eu definitivamente não tinha nada do que reclamar.

ℛ𝑎𝑐𝑖𝑛𝑔 ℋ𝑒𝑎𝑟𝑡𝑠 [ᴄʜᴀʀʟᴇs ʟᴇᴄʟᴇʀᴄ]Onde histórias criam vida. Descubra agora