Por mais que eu demorasse para tomar aquele drink caro, eventualmente ele iria acabar e eu teria de encarar os fatos: eu tinha levado um fora.
O relógio do meu celular já marcava uma hora a mais do que o horário combinado com o cara do aplicativo de namoro que eu usava única e exclusivamente quando viajava e, dessa vez, ele nem se dera ao trabalho de aparecer, me deixando plantada no bar de um dos hotéis mais chiques de Barcelona. As possibilidades eram: eu ter sido enganada desde o começo e aquilo nunca foi um encontro de verdade; ou então, a pior delas, o maior medo de qualquer pessoa que marca encontro às cegas, que era ele ter aparecido no bar, me visto e desistido do encontro.
Será que eu não deveria ter escolhido o meu all star branco para um primeiro encontro? A insegurança me fazia questionar todas as minhas decisões, ao mesmo tempo que, do alto dos meus vinte e seis anos, eu não tinha mais paciência para ficar desconfortável em um salto alto só para fingir ser alguém que eu não era e impressionar uma pessoa que eu nem sabia se iria gostar. Na verdade eu estava mais arrependida de ter usado um vestido fino de alcinha que mal passava da metade da minha coxa em uma noite de primavera, em que o calor ainda não estava firme o suficiente para roupas curtas em um ambiente aberto.
Dei mais um gole no meu drink, passando os olhos esperançosos pela varanda do bar com dois coqueiros altos em cada ponta e piso de madeira, tentando pela milésima e última vez encontrar alguém que parecesse procurar por uma desconhecida, mas logo me conformando que eu era a única pessoa sozinha por ali. O lugar não estava cheio, mas um grupo sentado em uma mesa próxima do balcão onde eu estava fazia barulho suficiente para quase tornar impossível escutar a música que saía das caixas de som. Eles riam muito e pareciam estar comemorando alguma coisa, contrastando completamente com a minha situação de óbvia derrota.
Eu levei o copo alto e fino à boca mais uma vez, me recusando a deixar o drink pela metade depois de ter pagado tão caro, e então meu corpo deu um solavanco para frente quando alguém trombou com tudo contra as minhas costas, me provando que nada é tão ruim que não possa piorar ao me fazer derrubar o resto da bebida quase toda em cima de mim.
– Ah, scusate... désolé... me desculpe! – uma voz masculina se apressou em dizer.
– Tudo bem – eu respondi em inglês, vendo que ele estava claramente em dúvida de qual idioma usar.
Mas a verdade é que não estava nada bem. Fiz uma rápida avaliação de danos e, enquanto limpava o queixo com as costas da mão, me dei conta de que a maior parte do líquido vermelho tinha sido derramado bem no meio do meu vestido que, obviamente, era de uma cor clara. Merda. Tentei usar o guardanapo para limpar um pouco, mas claramente o estrago já estava feito.
– Eu sinto muito, de verdade – ele falou novamente.
Eu secava a bebida do meu queixo e do colo – eu realmente tinha tomado um banho muito caro e grudento – quando ergui a cabeça para encarar o responsável por provocar aquele desastre pela primeira vez, me deparando com um par de olhos verdes arregalados e fixos em mim.
– Não tem problema, é sério – eu respondi, tentando desviar o olhar, porém sem sucesso.
O garoto que me encarava não devia nem ter a minha idade, apesar da barba rala que emoldurava seu maxilar e de ser mais alto do que eu, mesmo eu estando sentada na banqueta alta que não me deixava encostar os pés no chão. Ele era realmente muito bonito, mas eu queria muito me concentrar no fato de estar irritada por ele ter me feito sujar o meu vestido favorito.
– É claro que tem problema, o seu vestido... Ele vai manchar. Me deixe fazer algo para te ajudar, por favor – ele falou rápido, tocando levemente o meu ombro com o olhar visivelmente desesperado ao se dar conta do que tinha feito.
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ℛ𝑎𝑐𝑖𝑛𝑔 ℋ𝑒𝑎𝑟𝑡𝑠 [ᴄʜᴀʀʟᴇs ʟᴇᴄʟᴇʀᴄ]
Romance:¨·.·¨: '·. 𝒮𝑒𝑟𝑒𝑛𝑑𝑖𝑝𝑖𝑡𝑦: 𝖺𝗍𝗈 𝖽𝖾 𝖾𝗇𝖼𝗈𝗇𝗍𝗋𝖺𝗋 𝖼𝗈𝗂𝗌𝖺𝗌 𝖻𝗈𝖺𝗌 𝗌𝖾𝗆 𝖾𝗌𝗍𝖺𝗋 𝗉𝗋𝗈𝖼𝗎𝗋𝖺𝗇𝖽𝗈 𝗉𝗈𝗋 𝖾𝗅𝖺𝗌 Muitas vezes, pessoas especiais podem estar escondidas nos momentos mais simples e aleatórios da nossa...