15 - you are not alone

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– Obrigada por me convidar – eu ergui a cabeça para encará-lo, encontrando o sorriso doce com as duas covinhas no rosto dele.

– Você está sempre convidada, Helena – Charles sussurrou, dando um beijo suave na minha testa antes de apoiar sua bochecha sobre ela.

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Eu só percebi que tinha pegado no sono quando acordei, assustada, já na manhã seguinte. E eu só sabia que era manhã pois o brilho impiedoso do sol atravessava as enormes portas de vidro da varanda, fazendo os meus olhos arderem. Uma rápida olhada ao redor, com os olhos ainda semi abertos, me fez lembrar que aquele era o apartamento de Mateo, e só então eu me dei conta de que Charles e eu tínhamos adormecido enroscados no sofá da sala de seu amigo.

O lugar estava em completo silêncio, e ainda que aquela situação de acordar em um sofá que não era o meu fosse algo que, normalmente, me deixaria ligeiramente constrangida, o calor do corpo de Charles contra o meu me confortava de qualquer coisa ruim que eu pudesse sentir, e fazia com que eu não quisesse sair dali. Ainda assim, eu parecia notar um certo nó querendo se formar na minha garganta, como se tivesse algo importante que eu devesse me lembrar, até que, com um sobressalto, uma luz acendeu no meu cérebro como um aviso luminoso: eu tinha um voo para pegar naquela tarde.

– Charles – eu sussurrei, aproveitando que ele estava virado para o lado de fora do sofá para conseguir aproximar bastante a boca de seu ouvido, e acariciei seu braço de leve ao chamá-lo mais uma vez.

– Hm – ele resmungou com um suspiro.

– Charles, nós precisamos ir – eu falei baixinho, ressentida das minhas próprias palavras, pois tudo que eu mais queria era ficar. – Eu ainda preciso ir para o aeroporto.

Charles se moveu lentamente e virou para mim, me encarando com olhos inchados e ainda sonolentos e um meio sorriso nos lábios.

– Você tem certeza que precisa ir? – ele murmurou, enlaçando preguiçosamente a minha cintura com o braço e me prendendo a ele, me fazendo abafar uma risada.

– Infelizmente sim – respondi, encostando o meu nariz no dele. – Eu ainda tenho uma mudança para terminar.

– Tudo bem – Charles suspirou novamente. – Mas só porque essa mudança vai te deixar mais perto daqui.

Eu dei risada outra vez, sentindo o já conhecido formigamento pela pele quando ele pousou os lábios macios sobre os meus suavemente, e então nos levantamos.

Nós não tínhamos sido os únicos a pegar no sono na sala, e eu avistei Alex e o namorado espalhados no outro sofá na parede oposta da enorme sala, além de Theo em uma das poltronas e mais um casal de amigos de Mateo que eu não conhecia sobre uma das espreguiçadeiras na varanda. Como eles ainda dormiam com aquele sol brilhando no céu azul era um mistério para mim, mas a naturalidade com que Charles passou por todos os amigos silenciosamente e me guiou até a porta de saída do apartamento me disse que aquilo era algo comum entre eles.

Apesar de eu já ter me lembrado do meu compromisso no aeroporto naquela tarde, a sensação do nó na garganta permaneceu comigo durante todo o trajeto de volta até o apartamento de Charles, e também no tempo todo em que eu tomei uma ducha rápida e arrumei a minha pequena mala para a viagem de volta a Portugal. Foi quando, enquanto esperava Charles sair do banho, eu resolvi entrar no aplicativo da companhia aérea para conferir os detalhes do meu voo, e assim que bati o olho na data em destaque na passagem, aquele sentimento estranho fez todo sentido. Aquele dia de setembro que, quando eu era pequena, costumava ser tão alegre, há catorze anos me causava um desconforto quase físico e, mesmo depois de tanto tempo, eu não aprendera a lidar com ele. Porém, eu tinha desenvolvido algumas técnicas para mascarar todas aquelas emoções ao longo dos anos, e tratei de abrir um meio sorriso quando Charles apareceu novamente na sala, perguntando se eu estava pronta.

ℛ𝑎𝑐𝑖𝑛𝑔 ℋ𝑒𝑎𝑟𝑡𝑠 [ᴄʜᴀʀʟᴇs ʟᴇᴄʟᴇʀᴄ]Onde histórias criam vida. Descubra agora